21 março, 2008

 

21 de Março


Dia mundial da floresta




http://pt.wikipedia.org/wiki/Floresta

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Dia Mundial da Floresta - Há Florestas e Florestas -

Celebra-se, no dia 21 de Março, o Dia Mundial da Floresta. Em Portugal, a primeira comemoração aconteceu em 1907, no Seixal, com a realização da Festa da Árvore, e até 1917 sucederam-se anualmente festas deste género. Depois de um longo período de interrupção, as comemorações do Dia da Árvore foram retomadas em 1970, por iniciativa da ex-Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas e da Liga para a Protecção da Natureza. A instituição do Dia Mundial da Árvore viria mais tarde a ser proposta pela FAO, em 1971. A partir de 1974, este dia passou a designar-se oficialmente Dia Mundial da Floresta.

Trata-se de um dia com um significado especial para a LPN, devido à importância que as florestas têm ao nível da conservação da natureza. Classicamente, os sistemas florestais são caracterizados por possuírem ciclos longos (mesmo quando têm sobretudo objectivos de produção). Tal implica a permanência de árvores no terreno durante um período alargado, durante o qual o Homem tem uma interferência relativamente pequena, se compararmos com o que acontece com os sistemas agrícolas, por exemplo.

Deste modo, os sistemas florestais são muitas vezes réplicas mais ou menos modificadas de sistemas naturais, o que determina em grande parte a sua auto-suficiência. A este respeito é comum a referência jocosa por parte de elementos externos à actividade florestal, argumentando que "as árvores crescem sozinhas". É devido a esta relativamente pequena interferência que é possível o estabelecimento, pelo menos temporário, de outros seres vivos (animais e plantas), os quais acabam por fazer parte do sistema, constituindo versões mais ou menos alteradas e simplificadas dos ecossistemas naturais de cada local.

No entanto, os exemplos de florestas verdadeiramente naturais ou semi-naturais são muito escassos no nosso país, o que deveria ser motivo suficiente para as valorizarmos bastante mais do que de facto acontece. A este respeito não podemos deixar de referir que, apesar dos apelos e apesar da evidência, ainda hoje é possível destruir algumas espécies de árvores nativas raríssimas em Portugal, que continuam sem qualquer estatuto legal de protecção.

Dado que uma parte muito importante do coberto florestal em Portugal tem muito pouco de natural, definitivamente não podemos encarar todas as florestas do mesmo modo. Aqui coloca-se inclusivamente a questão de se deveremos ou não considerar como "florestas" alguns sistemas assim designados, como o caso das plantações industriais de eucalipto para produção de pasta para papel. Na verdade, a conhecida frase de Bhadran, ex-Director Geral da FAO: "somente a floresta, em consequência das suas características biológicas, está apta a produzir enquanto conserva e a conservar enquanto produz", tem um significado muito relativo, se tivermos em conta as plantações industriais de eucalipto. Efectivamente, os únicos aspectos que fazem associar um eucaliptal a uma floresta são a presença de plantas lenhosas com porte arbóreo e o facto de se tratar de um sistema destinado à produção de material lenhoso.

A este respeito não nos podemos esquecer que algumas das lutas da LPN têm sido precisamente contra algumas formas de "floresta", como o caso da campanha lançada na década de 70 do século passado para a preservação do lince na Serra da Malcata. Um outro exemplo de "floresta indesejada" é o caso da manutenção voluntária de sistemas agrícolas tradicionais em Castro Verde, de modo a permitir a sobrevivência de espécies estepárias, como a abetarda. Lembremo-nos também da forma como foi conduzida e incentivada a expansão do pinhal bravo em Portugal, com todo o historial de incêndios que lhe está associado. Lembremo-nos ainda da introdução de espécies lenhosas altamente agressivas como as do género Acacia, responsáveis pela quase eliminação da vegetação nativa nos locais onde se têm expandido.

Deste modo, nem toda a "floresta" é sempre e inevitavelmente bem vinda, do ponto de vista da conservação da natureza. A este nível, há uma falta de informação notável na sociedade portuguesa, dado que apenas alguns cidadãos conseguem distinguir florestas boas e más (perdoe-se a simplificação maniqueísta da questão), do ponto de vista da conservação da natureza. Assim, uma das vertentes privilegiadas de actuação da LPN a este respeito tem sido e continuará a ser, inevitavelmente, a informação e a sensibilização dos cidadãos para este tipo de questões.

Pensamos ter dado um contributo importante a este nível há um ano atrás com o lançamento, em conjunto com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Jornal Público, da maior iniciativa editorial de sempre sobre as florestas do nosso país. Esta série de nove volumes, designada como "Árvores e Florestas de Portugal" tem tido felizmente um grande acolhimento por parte do público, apesar das fracas raízes culturais do nosso país quanto às questões ligadas à floresta ("Viriato era pastor, não era lenhador").

A LPN irá continuar atenta ao evoluir das questões ligadas à floresta em Portugal. Em particular, há que insistir na produção de legislação que permita proteger as nossas espécies florestais nativas.

Uma outra questão recorrente é o problema dos incêndios. Apesar de o problema ter tido bastante menos gravidade em 2006 e 2007, há toda uma série de fragilidades a nível estrutural, cultural e do sistema de combate a incêndios, que se mantêm. O verdadeiro teste será no ano em que se voltarem a verificar as condições meteorológicas de 2003ou de 2005.

Não nos podemos também esquecer da expansão crescente das espécies lenhosas com carácter invasor, actualmente um dos maiores problemas da conservação da natureza em Portugal. A importância deste problema prende-se sobretudo com o seu carácter quase irreversível, dadas as tremendas dificuldades em parar a expansão destas espécies, logo que se instalam. A este respeito, nunca é demais referir que o Estado tem fomentado ou, pelo menos, assistido impávido à expansão de eucaliptais em Portugal. Tem-se tornado claro o carácter invasor do eucalipto em muitas regiões do nosso país. Esta situação é tanto mais grave quanto a área de eucaliptal em Portugal é já superior à de qualquer outro tipo de "floresta". Se pensarmos que não há nenhuma espécie nativa que possa competir em crescimento com o eucalipto, é fácil perceber as consequências desta expansão para a floresta natural do nosso país.

Um outro problema que apenas ainda se vislumbra prende-se com o aproveitamento de biomassa para energia. Tendo em conta a fragmentação da propriedade em Portugal, não se afigura possível que o Estado possa vir a controlar a produção e a extracção desregradas de material lenhoso para queimar nas centrais de biomassa aprovadas pelo Governo.

Uma das soluções frequentemente acenadas para diminuir alguns dos problemas que acabámos de listar prende-se com a certificação florestal. Apesar de sermos a favor da certificação, tememos bastante pelo facilitismo associado a alguns destes processos e pela confusão que pode gerar nos consumidores, ao utilizar processos semelhantes para sistemas com um valor de conservação tão diferente como um eucaliptal e uma floresta semi-natural de carvalhos.

Deste modo, e neste Dia Mundial da Floresta, não podemos deixar de reforçar a necessidade, não só de certificar e promover as boas práticas para a produção florestal, mesmo a intensiva, mas especialmente a necessidade de reforço dos apoios e a valorização das florestas de Alto Valor Ambiental pela compensação dos Serviços e Bens que elas produzem: diversidade biológica, paisagem, água, conservação do solo, sumidouro de carbono, madeira de qualidade, mel, cogumelos, caça, etc. Este tipo de Serviços e Bens também deve ser certificado e devidamente compensado, devendo a população ser devidamente informada sobre o seu valor social e ambiental.

Por tudo isto há sobretudo que fazer passar a mensagem de que há florestas e florestas e que, do ponto de vista da conservação da natureza, há umas que têm um papel positivo e outras que, dependendo das suas características e do local que ocupam, têm claramente um papel negativo. Nada como estarmos informados para nos apercebermos destas diferenças.

Lisboa, 21 de Março de 2008

A Direcção Nacional da Liga para a Protecção da Natureza

NL nº 74
 
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