08 março, 2008

 

8 de Março


Dia internacional da mulher




http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Internacional_da_Mulher

http://www.wowowow.com/

http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=924335&sec=3

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AS MULHERES

Maria José Nogueira Pinto
jurista

No pequeno universo onde nasci e cresci, as mulheres eram a esmagadora maioria. Figuras de traço forte, liam muito, viam teatro e cinema, eram trilingues, viajavam sózinhas para países longínquos, dominavam todos os assuntos, opinavam com veemência, eram imaginosas e proviam ao bem-estar da nossa comunidade. Havia nelas pinceladas de Maria e Marta, de Judite e de Rute, de Miranda e Isa Gliver. Hoje, à distância, revejo-as nos romances de Alejo Carpentier, Isabel Allende ou García Márquez. Relembro-as na "longa vida de Mariana Urbia" ou na narrativa dos amores, vida e morte de Lívia Drusa.

Talvez por isso eu resistisse a assumir por inteiro a "desgraça feminina", a luta pela "libertação da mulher", pela conquista da igualdade pura, ou, como hoje se diz, pela igualdade de oportunidades, como uma luta própria.

É que, se é certo que a mulher não é igual ao homem, também é certo que as mulheres não são iguais entre si. E esta revolução pacífica, sem mortos nem feridos, tornou este facto bem claro. Sempre desconsiderei a mulher "sofredora", suspirante, ansiosa, escrava de dever, passiva e normalmente muito maçadora. Sempre me irritou a mulher "infra-estrutura", a grande mulher atrás do grande homem, uma espécie de manager furioso de um protagonismo alheio e partilhado da pior forma.

E que dizer da mulher "bem sucedida" que enche as páginas das revistas femininas com receitas instântaneas de sucesso ou da mulher "executiva", que nas novas técnicas publicitárias veio substituir o modelo, já gasto e censurável, da "mulher objecto", carregada de gadgets inúteis, sem olheiras, stress ou nariz brilhante?

Dou ainda de barato o discurso cansativo e estéril, que tornou surdos tantos ouvidos e secou tantas boas vontades, da "mulher ao poder por ser mulher" e o efeito perverso de se ter padronizado um comportamento de minoria de um grupo que é hoje estatisticamente maioritário. É que sempre me pareceu absurdo que as mulheres, constituindo uma expressão fortíssima do eleitorado, vejam no homem o único culpado da sua sistemática inelegibilidade para cargos do poder.

Mas, apesar de tudo, confesso ter alinhado várias vezes, com convicção e empenho, nas fileiras de quantas levantam vozes e bandeiras pela causa da mulher. Por aquelas mulheres polivalentes e multimodais, capazes de abarcar sempre novas tarefas em acumulação, por tradição gestoras de conflitos e, por natureza, apaziguadoras, pedagógicas e prospectivas, amantes do médio e longo prazo em detrimento do imediatismo, capazes por isso de desempenhar, com limpidez e vigor, o futuro.

Por aquelas mulheres que vivem dois dias em cada dia, duas vidas em cada vida, chegando a tudo e a todos dentro de uma rigorosa e honesta contabilidade que mantêm com o mundo e os outros.

Por aquelas mulheres que transpõem para as novas actividades o seu código de valores próprio, assumindo uma posição mais ética na conquista e no exercício do poder e que, na hora das decisões, recusam o corte entre o concreto e o quotidiano e a sua percepção do mundo, feita de cabeça e coração.

Por essas levantei bandeiras e também por muitas outras, traiçoeiramente encerradas num universo onde o ciclo do sofrimento, da humilhação e do cansaço parece não ter fim. Mulheres lançadas, indefesas e solitárias, numa luta quotidiana de sobrevivência singular e plural, desdobradas em quatro para equilibrar, apaziguar, prover e repartir.

A existência de um "Dia da Mulher" é muito questionável. O que se celebra, que efeito se quer produzir, o que significa essa distinção - que eu saiba não existe o "Dia do Homem" - num mundo onde as mulheres estão em maioria? Não sei ao certo. Para mim, o dia 8 só faz sentido se conseguirmos pôr em evidência a diferença entre o discurso oficial e a realidade, entre as leis que abundantemente produzimos e as causas que, ainda hoje, impedem as mulheres de fazerem, com liberdade, as suas escolhas. O meu dia 8 é para isto mesmo.

DN, 6-3-2008
 
PARA ACABAR COM O DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Eurico de Barros
jornalista

Inventada no início do século XX pela maltosa socialo-comunista, o Dia Internacional da Mulher é uma efeméride execrável e absurda, e um insulto a qualquer mulher inteligente, com sentido de humor e segura de si própria. Em homenagem a todas as mulheres que não precisam de uma data de calendário fixa para as celebrar, e para se celebrarem, e porque "on ne se moque bien de ce que l'on aime", aqui fica uma selecção de citações colhidas no livro Dictionnaire Misogyne, coligido pela francesa Agnès Michaud. Uma mulher inteligente, com sentido de humor e segura de si própria.

"As mulheres livres não são mulheres."

(Colette)

"Já que a mulher reivindica os seus direitos, reconheçamos-lhe apenas um: o direito de agradar."

(Guy de Maupassant)

"Tudo o que é público devia ser gratuito: os transportes, a escola e as mulheres."

(Alphonse Allais)

"No amor, a vitória do homem é a fuga."

(Napoleão)

"Uma mulher mostra mais rapidamente o rabo do que o coração."

(Balzac)

"Uma mulher é como um charuto, é preciso estar sempre a acendê-la."

(Arthur Rubinstein)

"Há mil invenções para pôr a mulher a falar, mas nenhuma para a calar."

(Guillaume Bouchet)

"O silêncio é a única coisa de ouro que as mulheres detestam."

(Mary Wilson Little)

"Juntem homens e ouvir-se-ão uns aos outros. Juntem mulheres e espiar-se-ão umas às outras."

(Madame de Maintenon)

"É impossível à mulher distinguir a verdade da mentira."

(Edmond e Jules de Goncourt)

"Todos os homens nascem livres e com direitos iguais. Só que depois, há alguns que se casam."

(Marcel Jouhandeau)

"Há dois sexos: o belo e o bom."

(Decoly)

"A mulher só raramente possui a capacidade de fixar a sua atenção num dado objecto. Daí que não consiga aprender a fazer bem café, o que, no entanto, só exige atenção, exactidão e sentido do tempo."

(Strindberg)

"É preciso melhorar a condição feminina: as cozinhas são pequenas de mais, os lavatórios muito baixos e as pegas dos tachos estão mal isoladas."

(Wolinski)

DN, 8-3-2008
 
O MUNDO ESTÁ CHEIO DE MULHERES CHATAS (MAS É MESMO ASSIM)

Ana Sá Lopes
jornalista

Há uns meses, apareceu-me um livro na secretária, daqueles simpaticamente enviados pela editora, em que uma mãe contava as suas conversas sobre o amor com o filho adolescente. O título era o melhor que se podia arranjar para o target da obra - Livro para Saber o que as Raparigas Pensam - e o grafismo correspondia à excelência dos livros da Guerra e Paz. Como tenho um filho adolescente, também eu era público-alvo. Ah, e tinha um prefácio do Sérgio Godinho que é um dos meus heróis da adolescência e do resto da vida e que escreveu, para abrir esse livro, coisas tão lindas como esta: "E dei por mim a pensar em mim naquela idade, 12, 13 ou 14 anos (...) Se queria amar e esperar que alguém me amasse, tinha que estar todo o tempo em todo o lado. Apagar todos os fogos e acendê-los logo a seguir, como se marcasse um território e não soubesse como estar nele com o medo de arder e de afogar."

Levei o livro para casa para o dar à criança. Aliás, ao adolescente. Mas com a curiosidade de saber o que uma mulher escreve sobre o que acha que as raparigas pensam, e a forma como o transmite ao filho, comecei a ler a coisa. Parei quando a autora, Rute Moreira, explicava ao filho que "todas as mulheres são um bocadinho histéricas". E mais informava, o filho e o mundo, que o facto de ela, mãe, gritar com ele, filho, o preparava para, no futuro, habituar-se à histeria feminina. O livro não foi atirado para a lareira como fazia Pepe Carvalho mas tratei de que ele não chegasse - pelo menos por esta via - às mãos do rapaz.

Custou-me muito habituar à existência de mulheres chatas, burras e inclusive histéricas (como a autora do livro se afirma implicitamente). E, claro, muito machistas. Ao reproduzirem incessantemente os estereótipos que colocaram as mulheres no lugar secundário de que ainda não saíram, apesar do avanço das sociedades ocidentais, elas tornaram-se nas mais ferozes adversárias daqueles (mulheres e homens, alguns aparecem) que se esforçam por um mundo sem discriminação entre sexos. Acontece que o mundo é em grande parte incompreensível, está cheio de gente impenetrável, e toda a gente sabe que existem negros racistas aliados dos brancos.

Numa época anterior, o feminismo endeusou a mulher e as suas virtudes. O que era, aliás, necessário, porque nenhuma era reconhecida às mulheres, à excepção da virtude da maternidade e pouco mais. Eu ainda me lembro da idolatria sobre o mundo ideal com as mulheres no poder. O consulado de Margaret Thatcher na Grã-Bretanha confundiu as feministas inglesas de tal maneira que proclamavam nas ruas "Margaret Thatcher é um homem". Mas a verdade é que o feminismo só dará por fechada a sua loja quando tantas mulheres imbecis tiverem a mesma aceitação social e igualdade de oportunidades quanto os homens imbecis. Aí, poderemos passar a outra.

DN, 8-3-2008
 
Evas e Vénus

FERNANDO MADAÍL

Arte no feminino. O cânone ocidental não existiria como o conhecemos se não houvesse uma multidão de mulheres que foram sendo representadas, com os mais distintos objectivos, pelos pintores e escultores que se imortalizaram na História
Um triângulo negro entre as pernas, pintado como se fosse uma fotografia ampliada, é uma das molduras mais inesperadas com que o visitante depara no parisiense Museu d'Orsay. Nem o título A Origem do Mundo, escolhido por Gustave Coubert para a sua escandalosa tela datada de 1866, consegue disfarçar que se trata apenas do símbolo máximo do desejo sexual masculino. O motivo central do quadro daquele realista - que terá sido encomendado, há século e meio, por um coleccionador de obras eróticas - é mesmo a vagina da bela irlandesa que lhe servia, então, de modelo.

E se o feminino na arte pode ser entendido apenas na perspectiva da obra das inúmeras mulheres artistas - de Georgia O'Keeffe a Eija-Liisa Ahtila há assinaturas para todas as estéticas, com uns preferindo Natalya Goncharova a Louise Bourgeois, Vieira da Silva a Paula Rego, Tamara de Lempicka a Niki de Saint Phale, Magdalena Abakanowicz a Pipilotti Rist, Liubov Popova a Louise Nevelson, Marina Abramovic a Rebecca Horn, que a lista é infindável -, torna-se bem mais curioso verificar que, se se excluísse a figura feminina, perdia-se a maior parte das obras que compõem o cânone ocidental.

A mulher como alvo do olhar alheio, além de ser uma constante ao longo de toda a História da Arte, serviu para expressar as mais contrastantes realidades, as mais distintas ideias, seja a da Madonna ou a das madames, a do corpo ou a do desejo, a do sagrado ou a da sensualidade. Correram os séculos, sucederam-se as revoluções sociais e as rupturas estéticas, foram sendo substituídos os padrões de beleza e as modas de cada tempo. E, no entanto, o vulto feminino, em lugar de destaque ou como elemento da composição, jamais perdeu o seu lugar como tema de pintores e escultores, como ícone insubstituível para representar o real e a fantasia, o angélico e o sensual, o pó de arroz e a poeira do trabalho, o naturalismo e o surrealismo.

Da Virgem a pisar nuvens até à odalisca estendida sobre lençóis, as imagens de mulher repetem-se: Eva ou Vénus, mãe ou amante, deusa ou despida, retrato ou alegoria, recatada ou protagonista. Parece que nada substitui aquela figura quando os artistas querem representar a vida ou o sonho, a desgraça ou a magia, o enigma ou a elegância, a fragilidade ou o poder. E, apesar de haver quem considere que se trata de peças menos respeitáveis, envoltos em drapejamentos ou revelados na sua nudez, também não faltam nos museus eróticos triângulos femininos.

DN, 8-3-2008
 
Concluído o genoma de uma mulher

LUÍS NAVES

Uma equipa holandesa completou a sequenciação do genoma de uma mulher, no caso, de uma das suas investigadoras, Marjolein Kriek. O trabalho ainda não foi publicado, o que implica que não está concluída a revisão dos dados. Mas os cientistas da universidade de Leiden tencionam divulgar a informação, com excepção de alguns pormenores, que serão privados.

A primeira sequência do genoma humano foi concluída em 2001 e obtida a partir de um conjunto de pessoas. Nos anos que se seguiram, diferentes equipas completaram a sequência do genoma de quatro homens, o primeiro dos quais James Watson, que chefiava as investigações do Projecto do Genoma Humano nos Estados Unidos. Watson foi um dos dois cientistas que descobriram em 1953 a estrutura do ADN, em dupla hélice, cujo modelo surge na imagem.

Ironizando com estes factos, o chefe da equipa holandesa, Gert-Jan van Ommen, explicou que a escolha de uma mulher visou "equilibrar um pouco os géneros. Depois de Watson, pensámos que era apropriado fazer Kriek". O nome da investigadora soa como o do cientista britânico, Francis Crick, que descobriu com Watson a dupla hélice.

A sequenciação do genoma feminino permite aos cientistas investigar a variabilidade do cromossoma X. Os seres humanos têm 23 pares de cromossomas, um deles responsável pelo sexo da pessoa. As mulheres possuem dois X e os homens um X e um Y.

Segundo van Ommen, "como o cromossoma X está presente com uma única cópia em metade da população, os machos, ele sofreu uma selecção mais severa na evolução humana, tornando-o menos variável". Os seres humanos têm 20 a 25 mil genes, num total de 3 mil milhões de pares de bases químicas. A informação de um genoma cabe sensivelmente num DVD.

DN, 28-5-2008
 
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