06 março, 2008

 

Políticos


depois da política




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AS (RICAS) VIDAS DEPOIS DA POLÍTICA

PATRÍCIA VIEGAS

O primeiro presidente dos Estados Unidos, George Washington, não queria receber salário pois, dizia, já era rico e devia ter uma imagem de funcionário público. Mas o Congresso americano votou a favor de um pagamento de 25 mil dólares, muito dinheiro para 1789, com a argumentação de que todos deveriam poder chegar à presidência e não só os ricos.

Anos mais tarde os presidentes passaram a ter direito a receber uma pensão quando abandonavam o poder. E alguns mantinham actividade pública em cargos como os de deputados e senadores. Mas, de acordo com o jornal New York Times, seria Gerald Ford (1974-77) o primeiro ex-chefe do Estado a aceitar sentar-se em conselhos de administração.

A seguir viria o escândalo de Ronald Reagan (1981-89), que ganhou dois milhões de dólares por discursos no Japão, mais a ridicularização de George H. Bush (1989-1993) pela sua ligação com a Carlyle. No entanto, seria Bill Clinton (1993-2001) o ex-presidente que mais dinheiro ganhou em discursos, aconselhamento de empresas e direitos de autor, fazendo escola. E o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair parece estar-lhe a seguir as pisadas.

No início deste mês foi contratado para ser conselheiro do banco de investimento norte-americano JP Morgan. A sua opinião e rede de contactos valem-lhe um milhão de dólares por ano (500 mil euros). O antigo líder dos trabalhistas britânicos, reeleito por três vezes, passa, assim, a reunir-se com os directores do banco pelo menos dez vezes por ano e tem de estar disponível para lhes dar conselhos por telefone sempre que assim seja necessário.

A juntar a isto Blair ainda tem o dinheiro dos discursos, entre 150 mil e 250 mil euros por cada palestra, mais a pensão anual de ex-governante a que tem direito, ou seja, uma quantia de 91 mil euros. O potencial candidato a presidente do Conselho Europeu, em 2009, também já recebeu um adiantamento de 6,1 milhões de euros pelas memórias que ainda não escreveu por falta de tempo.

O antigo chefe do Governo britânico não recebe, porém, qualquer tipo de vencimento pelo seu cargo de enviado especial do Quarteto para o Médio Oriente. Apenas as despesas que a ele estão associadas, como o gabinete em Jerusalém, estão em princípio contempladas.

Actualmente, Blair, de 54 anos, casado com Cherie e pai de quatro filhos, passa grande parte do seu tempo no hotel de luxo israelita American Colony. Acorda todos os dias por volta das seis da manhã, segundo o Times, iniciando as reuniões uma hora depois. Trabalha até já depois da meia-noite, bebe café, algo que a mulher lhe tinha cortado.

Advogada dos direitos humanos, Cherie, de 53 anos, cobra 20 mil euros por discurso. Assim, sublinha o jornal, torna-se mais fácil liquidar as hipotecas das propriedades que têm em Londres, Bristol e Sedgefield no valor total de cinco milhões de euros.

O aliado de George W. Bush, que deixou o poder em Junho de 2007, continua a viajar muito, quando não é por força das suas actividades pós-chefia do Governo, é para dar conferências como a que no início de Dezembro teve lugar na Culturgest. O tema da palestra foi o "Desenvolvimento Económico e a Paz Mundial". A assistência é, na maior parte das vezes, compostas por homens de negócios que pagam fortunas para o ouvir.

DN, 26-1-2008
 
O DESENCANTAMENTO DA POLÍTICA

Maria José Nogueira Pinto
jurista

Acontece aos povos, como acontece às pessoas, essa espécie de depressão colectiva, a falta de futuro, uma caminhada sem rumo, a coesão minada pela perda de identidade, a ausência de um sentimento unificador. É o "Portugal a entristecer" de que nos falou Pessoa, o desencantamento da política no seu verdadeiro e etimológico sentido, o desleixo no cuidar da Polis, a Cidade adiada pela ditadura do acessório e do efémero.

Há muito que os sinais de desmoralização colectiva estão presentes no quotidiano português e são antigas as causas que minaram a confiança entre representados e representantes, entre eleitores e eleitos. E não se trata só do mérito e demérito da governação, é definitivamente algo mais sério, um nó cego de sentimentos e incertezas que geram a descrença e essa invasiva lassidão colectiva. Algo que tem a ver com o estado da nossa democracia e com a dimensão moral da representatividade, uma dimensão que os representantes parecem ignorar.

Tem particular oportunidade o documento elaborado pela Sedes, sistematizando os sinais de alarme que apontam para "uma crise social de contornos difíceis de prever..." Algo perigoso num tempo esvaziado de alternativas a regime e lideranças.

O primeiro sinal de subversão veio dos partidos ao tornarem-se fins em vez de meros instrumentos de representação, transformando- -se em coutadas e esgotando grande parte da sua actividade em lutas internas por manter lugares, mordomias e influências. A convivência promíscua com todos os "poderes" emergentes teve o desfecho previsível: primeiro os escândalos ligados ao futebol, depois aos agentes económicos, já não um caso ou outro, uma actuação individual, mas de modo quase institucionalizado, num "toma lá, dá cá" feito com uma tal naturalidade que só é explicável pela interiorização, ao mais alto nível das lideranças, da impunidade como regra. Deterioradas as funções de representação e convocatória dos partidos, questiona-se agora a sua utilidade.

Por outro lado, tornou-se patente a comum incapacidade de pôr o Estado no seu lugar. Desde a versão do país nacionalizado e do Estado superpai até hoje, foram mais de trinta anos de equívocos partilhados, de redes de dependências cada vez mais consolidadas, um deficit conformado de sociedade e cidadania. Sendo que o problema mais grave, hoje, já não é o de o Estado estar onde não deve, mas o de estar mal e sem qualidade onde faz falta.

A sociedade de informação em que nos afundámos, o excesso de vida induzida, os cidadãos transformados em passivos homo videns, o modo como a comunicação condiciona as reacções individuais e colectivas, explica também a situação em que nos encontramos. Por um lado, o desaparecimento dos nexos de causalidade, das causas e dos efeitos, impede que a maioria perceba o que é que realmente acontece, por outro, a ditadura do efémero impede uma justa avaliação dos factos. A Justiça é um bom exemplo deste fenómeno como se viu no processo Casa Pia conduzido, desde o seu início, num tempo e num modo mediático que levou a reboque um Sistema Judicial altamente impreparado para casos daquela magnitude e radicou no cidadão comum a convicção que o modo como a Justiça não funciona, destrói os seus próprios pressupostos.

Uma cultura banalizadora criou um clima propício à relativização moral, admitindo-se que nada pode ser, objectivamente, mau ou bom, quer na esfera do público quer do privado.

É tudo isto que, provavelmente, explica o que aconteceu no BCP; ou a facilidade com que se convence uma população a exigir um bloco de partos mesmo quando tudo indica que é melhor não o ter; ou que um ministro, face ao crescente risco de pobreza das crianças, responda que já aumentou os subsídios; ou que os visados nos mais recentes escândalos políticos se comportem como se nunca tivessem exercido cargos públicos; ou que a avaliação dos professores possa constituir o tema mais relevante do debate político nacional; ou que o segredo de justiça funcione como uma agência noticiosa. Em suma, explicar o inexplicável.

DN, 28-2-2008
 
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