05 março, 2008

 

Portugal


e Espanha






http://www.rr.pt/PopUpMedia.Aspx?&FileTypeId=1&FileId=407428&contentid=239137

http://manuelbarreto.bloguepessoal.com/23732/Portugal-versus-Espanha/
http://www.ateismo.net/diario/2007/01/portugal-est-mais-secularizado-do-que.php

Comments:
O custo de vida cá e lá

O preço dos bens essenciais entrou na campanha eleitoral espanhola e a Renascença foi comparar o custo de vida em Portugal com o do país vizinho.

O enviado da Renascença às Legislativas espanholas, João Santos Duarte, partiu para Madrid munido de uma lista de comprar efectuadas ainda em território nacional. Já na capital espanhola, fez uma pausa na jornada política e comparou os preços com os de uma grande cadeia de supermercados de Espana.

A conclusão é de que as diferenças não são tão substanciais quanto muitos podem admitir, desde logo quando temos em conta uma diferença de um produto essencial que não se compra em supermercados: o dos combustíveis.

Se uma conhecida marca de “cornflakes” custa menos 30 cêntimos em Espanha, o leite, por exemplo, sai mais caro. O pão de forma também custa mais além fronteiras, mas os bifes de frango são mais baratos. Já arroz compensa comprar em Portugal, tal como a alface. Os refrigerantes também custam, em geral, mais em Espanha.

O país vizinho tem, assim, um custo de vida um pouco mais elevado, mas o salário médio dos espanhóis também pode ultrapassar em mais do dobro o português.

RRP1, 5-3-2008
 
Carta de... Madrid

Hugo Gonçalves
correspondente

Os rapazes, com gravatas de riscas fosforescentes, deixaram de aparecer à minha porta de manhã cedo. Eram as Testemunhas de Jeová do tijolo, os evangelizadores do robusto negócio da construção civil - pilar da oitava economia do mundo, a espanhola -, enfim, dedicados funcionários de uma agência imobiliária, na minha rua, que tentavam vender apartamentos no centro de Madrid - tão caros nesta cidade, que há milhares de minimalistas a viver em casas de 40 metros quadrados. Os vendedores desapareceram e, embora feliz por terem acabado os sobressaltos matinais, temi que estivessem a sofrer nas mãos de outro tipo de jovens espanhóis, os que se revoltam na rua por não conseguir comprar um apartamento, gritando: "No tendrás una casa en tu puta vida".

Espanha parece ter sempre duas posições antagónicas para tudo. Diz o cliché político (e há um príncipio de verdade nos clichés) que está dividida em duas Espanhas desde a guerra civil - agora mais que nunca -, o que torna a actualidade deste país mais emocionante, intensa, guerreira. Isso, claro, tem um lado bom e um lado mau, que se acentua quando se aproximam as eleições.

Há quatro anos, os atentados de 11 de Março, três dias antes das legislativas, puseram um ministro a mentir, assegurando que se tratava da ETA, quando já tinha indícios da mão radical islâmica. Mas também levaram milhares de pessoas a manifestar-se na rua - os espanhóis são politizados, e nenhum povo europeu (dados oficiais) se manifesta tanto. Em três dias, um país em sobressalto emocional, irritado com o Governo do PP, mudou o rumo de voto. Zapatero chegou a Presidente do Governo.

Se a emoção (e algum conflito) fazem um país interessante, o barulho incomoda e confunde. Nos últimos dois anos, o PP decidiu, assumidamente, atacar por todo o lado, e apesar de mais moderado, o PSOE entrou no jogo. Qualquer evento, por mais irrelevante, serve para fazer ruído - será que Zapatero fumou mesmo na Moncloa, dois dias após entrar em vigor a lei antitabaco, como acusou o PP? Com tanta estridência partidária, a política espanhola assemelha-se, por vezes, aos tradicionais bares de Madrid, sítios cheios de fumo e ruído, onde as pessoas falam umas por cima das outras, soando como metralhadoras, mas onde os espanhóis se divertem e estão confortáveis.

No entanto, neste último mês, esses mesmos espanhóis, que já ultrapassaram o rendimento per capita dos italianos, começaram a mostrar-se incomodados: no Natal, os preços de bens essenciais dispararam, o ministro da Economia mandou comprar coelho em vez de borrego para a ceia natalícia, a bolsa caiu, a indústria imobiliária abrandou. Zapatero veio pedir calma, dizendo que Espanha é um barco preparado para esta tempestade passageira.

O dono de uma loja, interessado na minha condição de observador estrangeiro, perguntou-me quem ganharia as eleições. Disse-lhe que não sabia, e que este abanão económico tornava mais difícil as previsões. Ele ponderou e disse: "Pois, quando nos afecta o bolso, muda tudo." Depois, aconteceu algo incomum: ficou em silêncio.

Preocupado com os pregadores de apartamentos que deixaram de despertar-me, passei pela imobiliária. Espreitei, não havia ninguém. Nada. O barullho eléctrico da campainha fora derrotado pela economia. Tinham fechado por falta de negócio.

DN, 26-1-2008
 
ESPANHA ROÍDA DE NACIONALISMOS

FERREIRA FERNANDES
Enviado especial a Espanha

Imanol Zubero teve de dar uma explicação ao filho da primeira vez que ele o viu de joelhos, a olhar para baixo do carro: "O que estou a olhar, querido? Bem, é que há pessoas que metem gatitos debaixo da rodas e não lhes quero fazer mal." Esta história a ser portuguesa, Zubero pertencia a um gangue ligado a seguranças de discotecas. Mas ele é sociólogo, professor universitário e candidato a senador pelos socialistas do País Basco - segundo contou o jornal El Mundo, na edição de ontem. Aqui ao lado, todas as manhãs, há quem se ajoelhe, olhe, suspire e dê explicações parvas aos filhos, mesmo quando tem ocupações pacíficas.

Mesmo quando se tem ocupações tão pacíficas como cobrar portagens em auto-estrada. Isaías Carrasco, de 43 anos, era portageiro na A8 do País Basco, mas também ex-vereador socialista de Mondragón, localidade entre Vitória e San Sebastián. Apesar da modéstia dos créditos políticos, tinha direito a escolta policial. Não é extraordinário um ex-vereador de uma cidadezinha ter de ter guarda-costas? Isaías Carrasco não aceitou escolta. Levou com ele a resposta parva que, como Imanol Zubero, daria à filha. Esta viu um homem a correr e o pai no chão, cinco tiros no corpo, era hora do almoço, ontem. A última (sejamos realistas: a mais recente) vítima da ETA.

O primeiro-ministro, José Luis Zapatero, estava em campanha, em Málaga, quando o seu camarada Manuel Chaves, presidente da Andaluzia, lhe trouxe a notícia. Zapatero telefonou ao seu adversário, Mariano Rajoy, o candidato do PP, e combinaram ambos acabar imediatamente com a campanha. Ontem, era o último dia da campanha das legislativas para escolher os deputados do Congresso de onde sairá o próximo Governo espanhol (mandato de quatro anos).

Da última vez que Zapatero e Rajoy falaram de mortos da ETA, foi na segunda-feira, no derradeiro dos dois debates televisivos. Então, Zapatero atirara à cara de Rajoy que a política socialista em relação à ETA levara a que na sua legislatura "só tivesse havido quatro mortos, muito menos do que quando o PP esteve no poder". Agora são cinco.

Na verdade, nos governos do PP (duas legislaturas de José María Aznar, entre 1996 e 2004) houve 238 mortos. Mas a contabilidade apresentada por Zapatero caiu mal a muita gente, era como se a culpa dos mortos fosse dos governos espanhóis e não da sanha criminosa da ETA. Rosa Diéz foi uma das que se indignou, ela que foi socialista e até disputou com Zapatero o cargo de secretário-geral do PSOE, no congresso de 2000. Ela interpretou assim as palavras do primeiro-ministro: "É como dizer que o que há que fazer para que não te matem é dar razão aos assassinos." Zapatero havia negociado com a ETA até fins de 2006 e esse foi talvez o seu mais controverso acto governamental. Foi a ETA que cortou com a conversa quando pôs uma bomba no aeroporto de Barajas, matando dois imigrantes equatorianos.

Rosa Diéz, de 55 anos, é basca como Zubero e o malogrado Carrasco, e fez todas a sua carreira política no Partido Socialista de Euzkadi (PSE), como se chamam os socialistas no País Basco. É filha de imigrantes da Cantábria. Imigrante é um termo que em Espanha se usa para quem vai desta para aquela província, como não é usual em Portugal (alguém, na Brandoa, chama "imigrantes" aos filhos do Minho?). O pai de Rosa era um militante socialista, preso no fim da Guerra Civil e colocado num campo de concentração na Biscaia. A mãe foi ter com o marido e quando ele foi solto ficaram pelo País Basco, operários. Com o fim da ditadura de Franco, a filha deles, Rosa Diéz, tornou-se uma das mais notáveis políticas bascas, parlamentar regional, membro do governo basco e, enfim, eurodeputada, sempre pelo PSE.

Um dia, o marido recebeu uma encomenda- -bomba da ETA que não rebentou. São as ameaças mais terríveis: "Mandada para o teu escritório, é para ti; para tua casa, é para a tua família", diz Rosa. Não foi o suficiente para a desarmar, a esta mulher loura e de sorriso aberto. Ela tinha feito o seu tirocínio de coragem não faltando a um funeral de vítima da ETA. Foi durante os anos de governos socialistas de Felipe González e conservadores de Aznar, quando a ETA matava quase todas as semanas.

No seu livro Merece a Pena, em que explica a sua dedicação à política, Rosa Diéz tem páginas comoventes sobre a pobre gente de toda a Espanha que vinha ao País Basco enterrar um dos seus, geralmente jovens polícias. Ela sabe como choram as mães galegas e as andaluzas, em choro solto. E como o camponês aragonês esfrega as mãos calosas sem entender porque ficou sem o filho. E como as mães castelhanas, silenciosas e lábios cerrados, só os abrem para admoestar a filha que deixa cair uma lágrima pelo irmão: "Cala-te! Que não te vejam a chorar!" Frequentar enterros tornou- -a ainda mais espanhola, a Rosa Diéz. E sem paciência para nacionalismos. A uma mulher que a cruza e lhe pergunta "porque não nos trata bem, aos bascos?", Rosa Diéz responde: "Sou basca." E a outra: "Não, não é basca, os seus vieram de fora." Rosa: "Se não me aceita como basca, não falamos." Fim de conversa.

Depois que se soube que o PSOE de Zapatero negociou com a ETA, Rosa Diéz saiu do partido e fundou a UPyD, o único que concorre em toda Espanha sem mudar de nome. Em tributo aos nacionalismos, o PSOE é PSE no País Basco e PSC na Catalunha, e o PP, em Navarra, é Unión del Pueblo Navarro. Siglas que explicam a importância que se dá aos nacionalismos em Espanha. Desmedida, segundo a UPyD.

Um dos seus fundadores é o filósofo Fernando Savater, também basco e professor na Universidade Complutense de Madrid. Ele lembra duas manifestações simultâneas, no ano passado, que ilustram os dois males de Espanha. Em Bilbau, no estádio de San Mamés (do Athletic Club, que só aceita jogadores bascos), realizava-se o primeiro jogo entre as selecções do País Basco e da Catalunha - das tribunas aclamou-se a ETA. Horas depois, na Praça Colón, em Madrid, uma manifestação onde havia "um bispo e meio-cardeal por cada dez mil participantes, atacou-se a laicidade e defendeu-se a família católica, a que ninguém agride."

Segundo Savater, estavam ali as duas ameaças para a Espanha moderna - o radicalismo nacionalista e o nacional- -catolicismo. Ambos serôdios e sem resposta dos dois grandes partidos. O PP que alinha com as correntes retrógradas da Igreja Católica; e o PSOE que governa com grupos nacionalistas por vezes radicais. Para Savater, o essencial são os cidadãos e não as adesões étnicas ou folclóricas. Ele, que é basco mas não pode ensinar no País Basco (pelo menos sem uma guarnição às costas), diz: "É essencial reforça o direito de todos os cidadãos a ser educados em castelhano, a língua oficial em todo o Estado."

Ao tal segundo debate televisivo, Mariano Rajoy levou uma denúncia insólita: Manuel Nevot, agente imobiliário em Villanueva i la Geltrú, na Catalunha, foi multado porque tinha à porta a tabuleta "Fincas Nevot". Em castelhano "propriedades" diz-se "fincas". Foi multado em 400 euros porque devia anunciar em catalão: "Finques Nevot". Castelhano e catalão são ambas línguas oficiais na Catalunha, mas uma é mais oficial do que outra: se tivesse só "finques" em vez de "fincas", Manuel Nevot não seria multado.

A fiscal do processo assinou "Rocio Alonso Portero", nome mais castelhano não há, mas a Lei da Política Linguística, promovida por Zapatero, é clara: há uma lei maioritária e uma minoritária e deve fazer-se "discriminação positiva para proteger a minoritária." Quem fiscaliza isso é uma espécie de ASAE, a Agencia Catalá de Consumo. Quando à frente desta esteve o ERC, um partido esquerdista e pró-independência que é aliado dos socialistas na Catalunha, as multas dispararam: 119, em 2005. Depois, os socialistas substituíram-nos e agora a política é mais convencer do que multar: 65 multas em 2006.

Nas ruas de Barcelona o problema linguístico não existe, as pessoas saltam de uma para outra língua, como os táxis que ora anunciam "libre" (castelhano), ora "lliure" (catalão). Mas há uma pressão generalizada - com excepção do PP e do pequeno partido "Ciudadanos", que denuncia o nacionalismo - para impor o catalão. O partido de direita nacionalista CyU quer que saber catalão seja condição para um imigrante ser aceite. Os imigrantes talvez preferissem o castelhano (a quarta língua mais falada do mundo), em vez da língua catalã que é falada só por dez milhões de pessoas em todo o mundo e esse todo mundo é a Catalunha. Os imigrantes talvez preferissem que a coisa fluísse naturalmente, como o que levou Najat el Hachmir, de 28 anos, filha de imigrantes marroquinos, a escrever o seu romance O Último Patriarca em catalão e ganhar, no mês passado, o prémio Ramon Llul, o mais importante da literatura catalã.

O PP denuncia a pressão oficial para preferir a língua catalã - e, mais, negar o castelhano: "Há uma castelhanofobia", acaba de dizer Fernandez Diaz, líder do PP na Câmara de Barcelona. E aponta como exemplo o cartaz que, ontem, o governo catalão, de maioria socialista, lançou para comemorar o Dia Internacional da Mulher. O cartaz mostra como 25 línguas dizem violeta, começando com a catalã: "violeta". Fica-se a saber como se diz em turco ("mor"), em português, em esperanto ("viol-kolor"), em galês ("corcra"), em francês ("violet"), só em castelhano é que não. Uma injustiça, quando quem cantou melhor a palavra foi Sarita Montiel, em castelhano, na bela La Violetera...

E o país agita-se, nas suas periferias nacionalistas, com estas questões que levam a reacções em Madrid. Georgina Oliva, de 27 anos, é deputada pelo ERC nas cortes madrilenas. Ela é filha de andaluza mas é independentista catalã - no seguimento, aliás, da maioria dos dirigentes do ERC (Carod-Rovira, o seu mais conhecido líder, é filho de um aragonês polícia franquista, e Joan Ridao, o cabeça de lista nestas eleições, tem pai andaluz e mãe castelhana - no nacionalismo, como nas religiões, o zelo dos neófitos é sempre maior). Pois, Georgina queixa-se dos taxistas madrilenos que, quando a ouvem falar catalão ao telemóvel, aumentam o volume da rádio.

Feudo nacionalista espanhol, os taxistas madrilenos, aos quais poucos se podem acrescentar. Entre esses, os que olham para a bandeira constitucional espanhola como um manto onde se acolher: "'Los españoles estamos bem-vistos no Afeganistão", disse esta semana Lisandro Rios, ao jornal El País. Rios, de 25 anos, nasceu no Valle del Cauca, na Colômbia e é um dos 5,5 mil soldados estrangeiros do exército espanhol. São 6,9% do total, o dobro de há dois anos, e na tropa de combate, como os pára-quedistas, um terço dos efectivos.

Na quinta-feira à noite, os socialistas fizeram em Barcelona o seu maior comício desta campanha. Na semana anterior, Felipe González, pai e espírito do PSOE, tinha ido Barcelona e na emoção do discurso prometeu voltar e para o Palau de Sant Jordi, um imenso anfiteatro que engole dezenas de milhares de assistentes. Os socialistas locais (PSC) assustaram-se, a tarefa era difícil. Mas puseram-se ao trabalho, tanto mais que a Catalunha é vital para a vitória socialista. Em 2004, a diferença entre o PP e o PSOE a nível nacional foi de 16 deputados: os 21 socialistas ganhos na Catalunha (PP, só 6) ajudaram a cavar o fosso. Mas havia outra razão para o PSC - cujo líder, José Montilla, é o presidente da Generalitat - caprichar. Zapatero podia deixá-los cair no governo catalão, caso precisasse de apoio, no governo central, do maior partido catalão fora os socialistas, a CyU (10 deputados, em 2004). O Palau Sant Jordi ficou cheio como um ovo, 40 mil pessoas.

Os nacionalistas assustaram-se. Jordi Pujol, o patriarca da CyU e antigo presidente da Generalitat, avisou: "Se a Catalunha vota PSOE e PP, ninguém vai tomá-la a sério nunca mais." Até o PP governou com os nacionalistas, em 1996; mas quando Aznar teve maioria absoluta, em 2000, ignorou-os. As sondagens, porém, não prognosticam para domingo um tão grande recuo dos nacionalistas. Ou o galego Mariano Rajoy ou o leonês José Luis Zapatero, ambos homens do Noroeste, onde o nacionalismo é fraco, um deles, o que ganhar, vai precisar de apoios catalães ou bascos. Espanha está longe de vir a ser o que o soldado Lisandro e o filósofo Savater querem: um país.

DN, 8-3-2008
 
Portugal em risco de vir a ser um "Estado exíguo"

EVA CABRAL

Docente diz que Portugal deve repensar o futuro face às novas fronteiras

"Portugal está perigosamente a caminhar para um Estado exíguo e mergulhado numa crise financeira de que não há memória" alertou ontem Adriano Moreira que participava no primeiro de um ciclo de conferencias organizado pela Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros com o título genérico de "Pensar Portugal no Mundo".

Adriano Moreira lembrou que desde 1974 Portugal ficou com a Europa como única fronteira apesar desta ser hoje um mero "apontamento administrativo".

Para o ex-líder do CDS/PP Portugal deve redefinir o seu conceito estratégico nacional face à nova realidade, e definir que parcelas de soberania guarda para si e as que transfere para instancias internacionais. Frisa que face ao desenho do Tratado de Lisboa Portugal ficou na hierarquia dos Estados como pertencendo ao grupo intermédio. Adverte que em matéria de competência em relação ao Mar os Estados têm de ter a competência de efectivar a sua ocupação o que passa, designadamente, por garantir a sua gestão sustentada e com regras que sigam os padrões ambientais.

António Vitorino, outro dos participantes no debate, lembrou que a hierarquia de Estados sempre existiu não sendo uma criação do Tratado de Lisboa. Em seu entender Portugal sempre esteve no núcleo avançado de integração, e deu como exemplo o esforço para se aderir à Moeda Única, para sugerir aos presentes que fizessem o pequeno exercício de imaginar o que seria o país a ter ficado com o escudo e a Espanha estivesse no Euro.

DN, 13-3-2008
 
'Nova Águia' retoma a ideia de Pátria e repensa Portugal a partir da lusofonia

FRANCISCO MANGAS

Uma nação "não pode reduzir-se aos entusiasmos fugazes da expectativa de proezas futebolísticas. Há que refundar Portugal", lê-se no manifesto da revista Nova Águia, que chega às livrarias no dia 19. O tema do primeiro número é a ideia de Pátria e conta com a participação, entre outros, de Agustina Bessa-Luís, Dalila Pereira da Costa, Pinharanda Gomes e Mário Cláudio.

Dirigida por Celeste Natário, Paulo Borges e Renato Epifânio, a publicação, de periodicidade semestral, retoma a caminhada da Águia, importante revista do início do século XX em Portugal. Segundo os responsável da nova "revista de cultura para o a século XXI", existe uma relação entre a situação vivida por Portugal no início do século passado e o tempo presente. "Na altura, como agora, existia indefinição quanto ao rumo da nação, um certo sentimento de desalento."

O manifesto da Nova Águia, subscrito por cerca de 500 personalidades da lusofonia, lembra que "refundar Portugal é repensá-lo e reorganizá-lo" a partir da cultura e da comunidade lusófona. O projecto, no entanto, não se esgota na revista, "uma das expressões de um movimento amplo" - cultural, cívico e pedagógico - que tem por objectivo dar continuidade ao movimento da Renascença Portuguesa.

Além da ideia de Pátria, tema central do primeiro número, e do texto inédito de Agustina ("O fantasma que anda no meu jardim"), a revista, que tem capa de José Rodrigues, publica vários poetas e trabalhos de autores fora da lusofonia: Dirk Hennrich (Alemanha), Doug Tarnopol (EUA), Sinem Adar (Turquia) e Francine Charron (Canadá). A Nova Águia , que será vendida a 12 euros, no próximo número destaca a figura do padre António Vieira. O iberismo é outro dos temas a destacar em breve por está publicação "aberta e plural".

DN, 1-5-2008
 
"Empurram-nos cada vez mais para Espanha"

ROBERTO DORES
António Tereno, PRESIDENTE DA CÂMARA DE BARRANCOS

Que comentário lhe merece o facto dos bombeiros de Barrancos terem recebido de braços abertos a viatura de combate a incêndios urbanos oferecida pelos bombeiros de Huelva que em Espanha já passou da validade, como noticiou ontem o DN?

Deixa a nu a forma como temos sido aqui tratados. Sabe que esse carro nos está prometido, pelo Governo português, há quatro anos? Algo aqui falhou na estratégia de combate a fogos. Cada vez que precisamos de meios aéreos, só temos apoio espanhol. Basta apitar para o serviço de socorros de Huelva, que tenho logo aqui helicópteros.

E se apitar para Portugal?

Nada. Está um helicóptero em Ourique que nunca mais cá chega, porque não pode ir a todo a lado. Lutamos muito, mas sozinhos não conseguimos fazer tudo. Isso dói- -nos, porque o esquecimento estende-se a todos os níveis. Se não fosse esta cooperação com Espanha, a vida de fronteira já não existia em Barrancos.

Atendendo ao mau estado das estradas entre Barrancos e as localidades portuguesas mais próximas, a vossa ligação a Espanha poder-se-á intensificar com as vias de acesso às províncias da Extremadura e Andaluzia?

Esse é o ponto forte da questão. Estamos muito longe de Portugal, porque nos puseram muito longe. Temos duas péssimas estradas que nos ligam ao lado português e uma estrada óptima, a 500 metros, que nos liga a Encinasola, com acesso a Huelva, Sevilha, Badajoz, Cáceres e Mérida. É triste. Queremos ser portugueses, mas empurram-nos, cada vez mais, para Espanha. Estamos fartos de chatear governos, as Estradas de Portugal e nem nos passam cavaco. A paciência tem limites.

Há um ano ameaçaram pedir segurança à Guardia Civil se perdessem a GNR. É um assunto ultrapassado?

É. Mas sabe porquê? Ameaçámos logo que a Guardia Civil estava aqui no dia seguinte e parece que o Ministério da Administração Interna apanhou medo. É lamentável, não é? Veja também o que se passa na saúde. O nosso centro abre das 09.00 às 20.00 e temos apenas um médico português com estadia paga pela autarquia. Aos fins-de-semana é a câmara que paga a um médico. Também aqui, se não fosse Espanha…

Há muitos barranquenhos a recorrer ao outro lado da raia?

Claro, o centro de saúde de Encinasola abre 24 horas por dia e recebem-nos muito bem. Nós também temos cá um centro de fisioterapia aberto para quem precisar.

Há mais projectos transfronteiriços em marcha?

Entrámos agora na luta da área empresarial, com a empreitada do parque empresarial. Já temos três investidores espanhóis nas áreas dos presuntos e enchidos. Também queremos portugueses, mas o desenvolvimento não pode estar por este ou por aquele.

DN, 2-6-2008
 
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