07 março, 2008

 

Óscar


Óscares



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PARA COMPREENDER A POLÍTICA DOS ÓSCARES

João Lopes
Crítico

Com o triunfo do conceito cor-de-rosa de "sucesso", os Óscares de Hollywood quase deixaram de ser analisados na sua dimensão eminentemente política. Em relação às nomeações deste ano, divulgadas na terça-feira, talvez valesse a pena começar por perguntar onde estão os blockbusters que têm tratamento quase automático nos telejornais, em detrimento de alguns pequenos grandes filmes que, curiosamente, muitos espectadores continuam a procurar. Onde estão, por exemplo, Homem-Aranha 3, Shrek o Terceiro ou Harry Potter e a Ordem da Fénix? A resposta é: não estão, não surgem entre os nomeados. Mesmo Transformers ou Piratas das Caraíbas nos Confins do Mundo apenas são citados nas chamadas categorias técnicas.

Assim, valeria a pena tentar compreender como é que a peculiar situação histórica dos EUA se reflecte na lista de nomeações. Porquê peculiar? Desde logo, porque seja qual for o vencedor das eleições presidenciais (4 de Novembro), americanos e não americanos sabem que se vai assistir à reconversão de muitos aspectos da administração de George W. Bush. Mas também porque é cada vez maior a premência política, económica e humana de problemas como o prolongamento da intervenção militar no Iraque ou o papel do EUA no combate à poluição global.

Ora, justamente, entre os nomeados, pelo menos três filmes emergem como claros sintomas da actual politização do melhor cinema americano. São eles Jogos de Poder (sobre o envolvimento dos EUA no Afeganistão, em meados da década de 1980), No Vale de Elah (drama sobre os efeitos internos da guerra no Iraque, com estreia portuguesa marcada para 7 de Fevereiro) e Sicko (visão crítica do serviço de saúde americano assinada por Michael Moore). Cada um deles tem apenas uma nomeação, mas é simbolicamente muito importante: através do primeiro, Philip Seymour Hoffmann é candidato a melhor actor secundário; com o segundo, Tommy Lee Jones está nomeado para melhor actor; enfim, Sicko pode ganhar o Óscar de melhor documentário.

O caso de No Vale de Elah é tanto mais significativo quanto, nos EUA, terá sido um título discretamente "marginalizado" pelo próprio mercado. De facto, e apesar de escrito e dirigido por Paul Haggis, realizador de Colisão (Óscar de melhor filme de 2006) e argumentista de três filmes de Clint Eastwood (Million Dollar Baby, As Bandeiras dos Nossos Pais e Cartas de Iwo Jima), No Vale de Elah teve um lançamento típico de uma produção mais ou menos independente (pouco mais de 700 salas do mercado americano).

A nomeação de Tommy Lee Jones (melhor actor secundário de 1994, com O Fugitivo) acaba por trazer alguma visibilidade mediática a um filme que sabe abordar uma situação muito delicada sem nunca ceder a facilidades panfletárias nem a sermões moralistas. Em termos simples, No Vale de Elah é a história angustiada de um casal (Tommy Lee Jones e Susan Sarandon) à procura do filho que, depois de regressar de uma missão no Iraque, não apareceu em casa. É uma narrativa pungente, sobre a dor das "pessoas comuns" e, desde já, um dos filmes maiores de 2008.

DN, 28-1-2008
 
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