05 março, 2008

 

Stax


Soul




http://pt.wikipedia.org/wiki/Soul

http://www.soulmusic.com/

http://staxrecords.free.fr/

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MEIO SÉCULO DE MÚSICA 'SOUL'

ISILDA SANCHES

Editora começou por lançar música 'country'

A Stax é conhecida como "Sousville USA l" e, por isso, os seus 50 anos são também 50 anos de soul . E, também, cinco décadas de atribulações em nome da paixão maior que é a música.

A editora foi fundada em 1957, por Jim Stewart e pela irmã Estelle Axton, em Memphis no Tennessee. Inicialmente chamava-se Satellite Records, mas acabaria por ser Stax, a partir de 1961, depois de Stewart ter tido conhecimento de uma outra editora com o mesmo nome. Embora seja conhecida por ter ajudado a definir a soul clássica, os primeiros discos editados eram de country. Jim Stewart, branco, só se interessou pelo rhythm and blues quando a vizinhança do teatro onde estava sediada a editora começou a ser constituída essencialmente por negros. Essa mobilidade social acabaria por ditar o destino da Stax como uma das editoras mais importantes de sempre mas, pelo meio, Jim Stewart rendeu-se mesmo à música negra.

A Stax era uma editora especializada, com uma sonoridade particular, que resultava do facto de Booker T & The MG's serem músicos de sessão em praticamente todos os discos. No entanto, havia algo ainda mais especial do que o groove de Booker T no som da Stax: os estúdios eram num antigo teatro que ainda mantinha algumas das características originais (nomeadamente o soalho onde em tempos houve cadeiras), criando condições acústicas muito especiais (e anómalas) que davam um som totalmente único às gravações.

Foi esse som cru e denso que motivou o interesse da Atlantic na editora e levou ao estabelecimento de uma parceria que incluía a troca de artistas (Wilson Pickett e Sam & Dave, sendo da Atlantic, gravaram e editaram pela Stax) e permitiu à Stax levar a sua música mais longe.

Embora uma operação pequena, a Stax Records tinha ela própria várias pequenas etiquetas subsidiárias, uma prática corrente nas editoras da época. Esta multiplicação de identidades, bem como sucessivas associações com grandes editoras, acabaram por lhe ser quase fatais.

Os 50 anos que se celebram tiveram bastantes momentos críticos, nomeadamente no final dos anos 60, após a morte de Otis Reding, quando a Atlantic foi comprada pela Warner Brothers e esta mostrou desinteresse em continuar com a Stax, muito embora tenha ficado com os direitos de todas as edições distribuídas pela Atlantic (facto que Jim Stewart desconhecia quando assinou o contrato de distribuição).

Depois disso, a Stax regressou ao estatuto de independente e encontrou em Isaac Hayes uma das suas principais bandeiras mas, apesar desse e de outros êxitos, como o do Festival Wattstax (que ficou conhecido como o Black Woodstock - o Woodstock Negro - e foi apresentado pelo reverendo Jesse Jackson, em Agosto de 1972), a Stax nunca se recompôs da perda do seu catálogo original e abriu falência em 1975.

Comprada, primeiro pela Fantasy Records, que continuou com o nome e fez várias reedições, a Stax pertence hoje ao grupo Universal que reactivou as edições em 2006 e tem actualmente no catálogo nomes como Índia.Arie ou Remy Shand.

A sua é uma história de resistência e talento que já pode ser visitada no Stax Museum, sediado no mesmo Teatro de Memphis que albergou os estúdios da editora há 50 anos.

50 anos depois, o nome Stax é sinónimo de respeito e referência. Ali se definiram etapas fulcrais da história da música negra norte-americana.

DN, 18-1-2008
 
24 horas para fazer história

NUNO GALOPIM

'Soul'. De 9 para 10 de Julho de 1965, Otis Redding e um conjunto de músicos gravaram 'Otis Blue', o seu primeiro grande êxito, que seria depois reconhecido como fundamental na história da música 'soul'. O álbum acaba de ser reeditado, com uma série de faixas extras que ajudam a revisitar a sua génese
"Soul [alma] é uma expressão com muitos sentidos. No mundo da pop e do rhythm'n'blues dos nossos dias, traduz habitualmente uma actuação intensa e dramática por um cantor, projectada de tal forma que sai do seu corpo e atinge visivelmente quem o escuta. Quer isto dizer que o cantor está a dizer qualquer coisa, por vezes mais do que a letra da canção possa transmitir. A soul é algo que não se pode desenvolver - ou se tem ou não se tem. Otis Redding tem soul, a um nível sem rival em qualquer outro jovem cantor à nossa vista." Estas palavras, de intensa devoção perante a definitiva afirmação do talento do cantor norte-americano, liam-se na contracapa da edição original do álbum Otis Blue. O disco através do qual, em 1965, Otis Redding se elevou ao patamar mais elevado de uma música então em clara afirmação, ganhou projecção além do espaço de mercado do rhythm'n'blues no qual se havia revelado.

Otis Redding já não era um ilustre desconhecido quando, em 1965, gravou e editou Otis Blue. Dois anos antes tinha sido protagonista de uma das mais inesperadas surpresas na história da Stax Records (a pequena editora de Memphis que dividiu com a Motown grande parte do protagonismo da história da soul dos anos 60). Otis Ray Redding Jr, natural de Dawson (na Georgia), tinha descoberto o mundo da música como motorista ao serviço da digressão de Johnny Jenkisn e dos seus The Pinetoppers, nos estados do Sul, em 1960. Um ano depois, gravava primeiras canções sob o nome Otis and The Shooters. A surpresa de que se falava há pouco chegou em 1962, tinha Otis Redding 22 anos. Aproveitando tempo livre de estúdio, gravou uma balada por si composta. Chamava-se These Arms of Mine. A gravação deixou boquiaberta a equipa que trabalhava nos estúdios da Stax. E pouco depois dava a Otis Redding o seu primeiro êxito, subindo ao número 20 da tabela de rhythm'n'blues e conseguindo, inclusivamente, atingir públicos menos habituais, na altura, para a música negra, atingindo o número 85 da tabela de singles pop dos EUA.

Otis Redding foi então construindo uma carreira, em grande parte suportada pela excelência da voz e pela elegância da escrita. Não era ainda frequente, na época, ver um grande intérprete ser também autor dos temas que cantava.

Em 1965, quando regressou a estúdio para iniciar as sessões das quais nasceria Otis Blue, a sua discografia somava já onze singles e dois álbuns (Pain In My Heart, de 1964 e The Great Otis Redding Sings Soul Ballads, de 1965).

O cantor era já um nome reconhecido. E mesmo com alguma popularidade. Mas ninguém estava perto de imaginar que, terminadas as sessões de gravação, em mãos teriam um dos mais importantes discos da história da soul. E o responsável pela elevação de Otis Redding de figura respeitada entre cultores da soul numa das vozes mais admiradas do mundo.

Músicos e cantor partiam para o trabalho com um primeiro trunfo na manga. I've Been Loving You Too Long, o mais recente single de Otis Redding (incluído depois no alinhamento do álbum), tinha-lhe dado o maior êxito da sua carreira até então. Número dois na tabela R&B e número 21 na lista de vendas geral. Uma vez mais a surpresa morava por perto. A canção tinha emergido numa conversa nocturna. Jerry Butler, parceiro musical de Otis Redding, mostra-lhe uma canção na qual estava a trabalhar e para qual não conseguia encontrar algumas partes. Duas semanas depois, o cantor telefona ao músico amigo dizendo-lhe, não só que tinha acabado a canção como, inclusivamente, a tinha gravado. E transformado num êxito.

Animados por este facto, e entusiasmados pelas novidades técnicas ao serviço desta gravação (ver caixa), músicos e cantor gravaram todo o alinhamento em apenas 24 horas. numa sessão com pausa à noite para que cada um dos envolvidos pudesse comparecer aos compromissos antes assumidos (ou seja, concertos nas imediações). Na manhã seguinte o álbum estava pronto e Otis Redding apanhou um avião que o levaria a outra cidade, onde um espectáculo o esperava.

Dois meses depois o álbum chegava à rua, sob aclamação generalizada. O sucesso nos EUA foi evidente. Mas do outro lado do Atlântico, no Reino Unido, as vendas acabariam por surpreender tudo e todos, alcançando o sexto lugar no top. Otis Blue (que apresenta como subtítulo Otis Reding Sings Soul) abriu as portas do mundo a uma das mais importantes vozes da primeira geração de grandes talentos nascidos com a soul music. Seguir-se-iam discos não menos importantes como The Soul Album ou King and Queen, de parceria com Carla Thomas. A morte, num acidente de aviação, a 10 de Dezembro de 1967, levou-o cedo de mais.

DN, 31-5-2008
 
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