28 abril, 2008

 

Doping


e a verdade desportiva




http://www.cdp.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=3950&Itemid=2

http://www.sedesporto.pt/CNAD.htm

Comments:
"Portugal gasta 1,5 milhões por ano no combate ao 'doping' "

ALEXANDRA TAVARES-TELES
Entrevista com Luís Horta, director do Laboratório de Análises e Dopagem

O desporto português registou em 2007 44 casos de doping, menos oito que em 2006. Os resultados significam que o combate ao doping em Portugal está a ser vencido?

Estes resultados demonstram que Portugal registou em 2007 uma percentagem de casos positivos de acordo com aquilo que normalmente se verifica nos países que possuem sistemas de luta contra a dopagem eficazes. O grande objectivo da luta contra a dopagem não é encontramos casos positivos, mas, sim, permitirmos que os atletas limpos continuem a não utilizar substâncias e métodos dopantes, preservando simultaneamente a sua saúde e o seu nível competitivo.

Ficou surpreendido com estes resultados, uma vez que o Conselho Nacional de Antidopagem (CNAD) recolheu em 2007, pela primeira vez, mais de 3500 amostras?

De modo nenhum. Como já referi, os resultados obtidos estão dentro do que é normal e o facto de o CNAD ter decidido aumentar o número de controlos no âmbito do Plano Nacional Antidopagem não tinha como objectivo ver aumentar o número de casos positivos mas, como referi, defender os atletas limpos.

Estamos em ano de Olimpíadas. Depois da suspeita de doping generalizado, do caso BALCO, do esteróide invisível THG e dos campeões "dopados" Justin Gatlin e Marion Jones, entre muitos outros, é cada vez mais difícil conquistar medalhas olímpicas sem recorrer a substâncias proibidas?

Não, é precisamente o contrário. Isto é, cada vez é mais difícil obter-se uma medalha olímpica tendo utilizado uma substância ou um método dopante. Aliás, um leitor atento da imprensa desportiva terá verificado o enorme número de punições por violações das normas antidopagem ocorrido nos últimos anos, relativo a atletas de alto nível competitivo. A habitual expressão "só são apanhados os atletas de arraia-miúda" passou, desse modo, à história.

Atendendo aos valores de substâncias dopantes que são indicados nas análises positivas, pode dizer-se que há actualmente atletas que estão a tomar doses que podem ser fatais?

Sem dúvida. Dentro de alguns anos, iremos, infelizmente, constatar a verdadeira dimensão do problema, ocorrido nas últimas décadas, pois muitos dos malefícios orgânicos decorrentes da sua utilização ocorrem a médio e longo prazo, por vezes 20 a 30 anos depois.

Com a sua experiência nesta área, o que pode levar um atleta a dopar- -se apesar de saber que corre risco de morte? É apenas uma ambição desmedida?

O atleta é, muitas vezes, vítima de um sistema criado pela própria sociedade, onde é sujeito a uma série de pressões para aumentar o seu rendimento desportivo. O atleta vê-se muitas vezes obrigado a utilizar a dopagem como forma de responder a esse tipo de pressões. A problemática da dopagem não é, deste modo, algo que diga respeito apenas aos atletas: toda a sociedade deverá ter uma atitude proactiva relativamente ao problema.

Uma das substâncias mais detectadas tem sido a nandrolona e o estanazolol. Qual é a substância mais perigosa usada actualmente no doping? Porquê?

Neste momento, as substâncias que mais me preocupam são os agentes anabolizantes, onde se incluem as substâncias que referiu, e também a eritropoietina e a hormona de crescimento. Os esteróides anabolizantes por causarem problemas de impotência sexual e esterilidade, assim como uma maior predisposição para determinado tipos de cancros e para doenças cardiovasculares. A eritropoietina por causar igualmente uma maior predisposição para doenças cardiovasculares, ao aumentar a viscosidade sanguínea. A sua enorme utilização, nos últimos anos, fará com que nas próximas décadas morram muitos atletas, vítimas da sua utilização. Nessa altura, infelizmente, será tarde demais. A hormona de crescimento aumenta a predisposição para determinado tipo de cancros, estando neste momento perfeitamente demonstrada uma maior prevalência de leucemias nos seus utilizadores

Prevê um aumento do doping nos próximos Jogos Olímpicos?

Não prevejo um aumento do doping nos próximos Jogos Olímpicos, se todos os países e federações internacionais do mundo adoptarem a estratégia seguida pelo CNAD em Portugal. Ou seja, intensificar ao máximo o número de controlos de dopagem fora de competição, no âmbito dos atletas integrados no Projecto Pequim 2008. Esta estratégia do CNAD teve início no dia 1 de Janeiro de 2007 e irá intensificar-se à medida que nos aproximarmos dos Jogos Olímpicos.

Há uma clara ideia para a maioria dos cidadãos que no desporto de alta competição há doping generalizado. Tem essa percepção?

Não há, de forma alguma, uma utilização generalizada. Existem, na realidade, atletas que se dopam, e desse modo o sistema tem de funcionar de modo a identificar e punir esses atletas, defendendo os atletas limpos.

Os atletas portugueses acusam o CNAD de se limitar a persegui-los, não fazendo uma política de prevenção e de apoio médico na alta competição, como há em Espanha, França ou Inglaterra. É assim?

O CNAD tem desenvolvido desde sempre estratégias de informação e educação, no âmbito da luta contra a dopagem, envolvendo diversos grupos-alvo. A campanha "Desporto Saudável", iniciada em 2004 e ainda a decorrer, é um bom exemplo dessa realidade. No âmbito dessa campanha, os atletas integrados no regime de alta competição recebem com regularidade, no seu domicílio, materiais relativos a esta campanha. No âmbito do Sistema de Gestão de Qualidade do CNAD, foi realizado recentemente um inquérito dirigido aos atletas integrados no regime de alta competição, visando obter a sua opinião sobre os materiais que lhes foram enviados durante os últimos 12 meses. Os resultados desse inquérito foram divulgados recentemente pelo CNAD, no decurso da apresentação dos dados estatísticos da luta contra a dopagem, relativos ao ano de 2007. Esses dados, que podem ser consultados em www.idesporto.pt , demonstram uma realidade completamente distinta da colocada na sua questão. A história da luta contra a dopagem tem-nos ensinado que aqueles que se insurgem contra as actividades desenvolvidas pelas instituições responsáveis pela luta contra a dopagem são muitas vezes os principais prevaricadores. Veja-se o exemplo de Marion Jones, que durante anos e anos difamou todas essas instituições, chegando a ameaçar colocar casos nos tribunais. Não entendo porque são dados como exemplos os casos desses três países, pois aquilo que se faz no nosso país relativamente à luta contra a dopagem não é, de forma alguma, inferior ao que se faz nesses países, antes pelo contrário.

A proposta de uso de GPS nos atletas, a visita-surpresa a casa dos atletas e os testes sanguíneos. O combate ao doping implica a violação de liberdades individuais?

Penso que estamos a confundir coisas diferentes. Não concordo, de forma alguma, com a utilização do GPS para a localização dos atletas. Ninguém tem de saber, por exemplo, que hoje eu, por razões pessoais, não dormi na minha casa. A visita-surpresa a casa dos atletas, depois de tentativas de controlo no seu local de treino, ou a realização de colheitas de sangue não representam, na minha opinião, qualquer invasão da privacidade do atleta. Representam, sim, talvez, a perda de determinados direitos, mas quando um atleta se inscreve numa federação desportiva sabe de antemão e aceita, através da sua assinatura, que a partir desse momento passa a ter novos direitos e deveres. O mesmo se passa na sociedade. Qualquer cidadão pode ingerir a quantidade de bebidas alcoólicas que bem entender, no entanto, isso retira-lhe o direito de entrar num carro e conduzir.

Segundo a União Ciclista Internacional (UCI), os registos hematológicos de corredores de Portugal e Espanha diferem em relação aos do resto da Europa e indiciam a existência de doping através de manipulação sanguínea. Pode comentar?

O CNAD teve acesso a esses dados hematológicos, fornecidos pela UCI, e desencadeou as medidas tidas por convenientes. No entanto, os dados fornecidos pela UCI ao CNAD não permitem, com todo o rigor científico, afirmar que Espanha e Portugal são nesse aspecto países diferentes dos restantes.

Varias ciclistas espanhóis envolvidos no escândalo Puerto estão a ser inscritos por equipas portuguesas. O CNAD está preocupado?

O secretário de Estado da Juventude e do Desporto já expressou publicamente a posição de Portugal em relação a essa matéria. O que não pode acontecer é que esses atletas continuem a ser considerados suspeitos. É imperativo que sejam desencadeadas as medidas necessárias para confirmar ou não essa suspeição. É claro que o CNAD estará sempre atento.

Estamos também em ano de Europeu de Futebol. Dos 44 casos encontrados em 2007, 11 foram no futebol. Como está o doping e o seu combate nesta modalidade?

Portugal tem, atrevo-me a dizer, uma das melhores estratégias de luta contra a dopagem na modalidade de futebol, a nível mundial. Para isso tem contado com uma colaboração muito profícua da Federação Portuguesa de Futebol. A percentagem de casos positivos no futebol nos últimos anos tem-se revelado sempre inferior à percentagem global de casos positivos no nosso país. O número de casos positivos verificados em cada ano em Portugal decorre do elevado número de amostras recolhidas nesta modalidade, devido ao facto de cerca de um terço dos praticantes inscritos nas federações desportivas nacionais estarem inscritos nessa modalidade.

Por ser uma indústria tão poderosa é mais difícil lidar com casos de doping no futebol?

Sempre que existem fortes interesses económicos à volta de um caso de dopagem, ele torna-se obviamente mais sujeito a pressões. Mas tal raramente acontece, pois nos últimos anos os casos verificados dizem principalmente respeito às divisões secundárias.

Por exemplo, a guerra com o Benfica trouxe-lhe dissabores?

Não houve, de modo algum, uma guerra com o Benfica, mas apenas um caso que foi sujeito a uma enorme exposição mediática, tentando desviar a atenção das pessoas do essencial.

O CNAD perseguiu ou não o Benfica no caso Nuno Assis?

O CNAD não persegue clubes ou atletas, o CNAD preserva a verdade desportiva e a saúde dos atletas.

Se se cruzar com Luís Filipe Vieira, cumprimenta- -o?

Nunca tive sequer a oportunidade de lhe ser apresentado.

O que é que se passou realmente?

Acho que isso é do conhecimento público e que se mesmo assim alguém tiver dúvidas, aconselho a leitura do Acórdão do Tribunal Arbitral do Desporto de Lausana em relação a esse caso.

Já viu mudar muitos superiores hierárquicos directos, secretários de estado e ministros. Mantém-se no CNAD. Vê-se a fazer outra coisa?

Com certeza. Tirei o meu curso de Medicina com um objectivo muito

concreto: ajudar o próximo. Como médico, há muitas formas de o fazer.

Neste momento, adoro aquilo que faço, mas de modo nenhum estou preso ao lugar, pois poderei realizar-me através de um enorme número das actividades que qualquer médico pode desempenhar para ajudar o próximo.

Quanto custa monetariamente o combate ao doping?

É difícil estimar quanto é que se gasta a nível mundial na luta contra a dopagem. Eu próprio integrei, há dois anos, um grupo de trabalho sobre os custos que, no entanto, não chegou a conclusões definitivas, devido ao facto de não existir um sistema de recolha de informação adequado. Portugal gasta anualmente cerca de um milhão e meio de euros no seu sistema de luta contra a dopagem.

Que objectivos gostava de ter atingido na altura da sua reforma?

Sentir a calma e a serenidade do dever cumprido.

Um escritor que só consegue escrever - ou que escreve muito melhor - sob o efeito de substâncias proibidas, por exemplo, e que ganha um concurso ou um prémio, é muito diferente de um atleta que se dopa para correr mais?

É diferente. As regras inerentes à actividade desportiva são diferentes das regras inerentes à actividade literária. O movimento desportivo já resolveu o seu problema. Cabe à sociedade e às associações de classe ponderarem sobre esse eventual problema e tomarem as medidas que se revelarem necessárias, se for esse o caso.

DN, 15-2-2008
 
Portugal denuncia laboratório que produzia hormona de crescimento

Um laboratório chinês, que se ocupava exclusivamente da produção de hormona de crescimento humana (HGH) e a comercializava ilegalmente para todo o mundo, foi desmantelado recentemente depois de uma denúncia portuguesa. A revelação foi feita pelo director do Laboratório de Análises de Dopagem (LAD), Luís Horta, em entrevista à Lusa.

"Foi um amigo meu que descobriu esse site. Eu comuniquei a situação à AMA, que, em cooperação com a DEA [a agência norte-americana de combate ao tráfico de droga], desmantelou este laboratório", disse Luís Horta, acrescentando que o laboratório era gerido por um reputado cientista chinês, autor de uma "brilhante" tese de mestrado sobre a referida hormona.

O director do LAD diz-se preocupado com o aumento do consumo de drogas sociais e de suplementos alimentares em Portugal e defende a criminalização do tráfico e posse de substâncias dopantes. Algo que, aliás, está previsto na nova lei contra o doping, a qual está a ser estudada no Conselho Nacional do Desporto, que reúne segunda-feira.

Luís Horta revelou algumas informações recolhidas no âmbito de reuniões com a Interpol e a Europol, nas quais recolheu informações "alarmantes". "O valor em euros do tráfico ilícito de substâncias dopantes, principalmente esteróides anabolizantes e hormona de crescimento, é superior ao de tráfico de drogas sociais: heroína, cocaína e canábis, etc", conta o director do LAD. "Como atingimos estas proporções? Porque em muitos países o tráfico e a posse destas substâncias ainda não é criminalizado".

Alguns países consideram Portugal um "santuário do doping" - por, alegadamente, a aquisição de esteróides ser mais fácil -, mas Luís Horta recusa a ideia. "A Interpol conhece o que se passa a nível do tráfico. O nosso país nunca foi indicado [como local] onde se venda ou por ser onde passam redes de tráfico de substâncias. Estas chegavam ao nosso país através de vendas em Espanha", explica o dirigente. S.F.

DN, 23-2-2008
 
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