30 abril, 2008

 

Fado


Canção nacional?




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Raquel Tavares, a velha tradição de 'Bairro' na nova voz do fado

DAVIDE PINHEIRO

Jovem fadista lança segundo trabalho, depois do sucesso na televisão

É na histórica Casa de Linhares, onde se situa o restaurante Bacalhau de Molho, que Raquel Tavares nos recebe. Normalmente, podemos ouvi-la por ali às segundas, terças e quartas-feiras. Naquela que é também a segunda casa de figuras como Ana Moura ou Teresa Tapadas, garante-nos que "a rivalidade no fado é um mito", isto a propósito de uma música que "tem dado muito dinheiro a ganhar a muita gente nos últimos anos". Talvez por isso se queixe de que "há quem se aproveite de fado para se projectar no estrangeiro", mesmo que "não seja por mal". Será apenas marketing? "É provável", diz-nos com algum receio de ferir susceptibilidades.

Raquel Tavares tem uma postura informal, nem sempre habitual numa fadista. Pede para a tratarem por tu, brinca com os empregados do Bacalhau de Molho, tira cafés e até diz "iâp" para responder afirmativamente. A justificação de tanto à-vontade é simples: "Tenho amigos da minha idade, gosto de sair, de dançar, de brincar. Não é preciso tanta formalidade." Mas nada disto apaga o respeito pelo fado. "Canto há quinze anos mas só aos dezassete é que fui convidada, pela primeira vez, para cantar. Foi o Jorge Fernando quem falou dessa possibilidade. Estava habituada a cantar, mas gravar é outra coisa. Foi como entrar num mundo completamente diferente. Ainda me estou a adaptar a isto." E afinal o que é isto? "As tertúlias, os discos, as entrevistas, as viagens, as conversas, o reconhecimento. É muito bom, mas assusta-me a fama. Sou muito fiel às minhas origens", assume num discurso cauteloso, embora entusiasmado.

Foi o fado que a levou à televisão e foi a televisão que a tornou conhecida do grande público. Ainda hoje, Raquel Tavares é abordada na rua por ter participado no programa Dança Comigo da RTP, e até aqui no Bacalhau de Molho já ouviu repetir alguns comentários elogiosos. "A televisão tem um poder incrível. Estou habituada a andar de ténis na rua e despenteada, mas mesmo assim reconhecem-me. Perguntam-me se sou a fadista que esteve no Dança Comigo." Com um sorriso nos lábios, lembra que, "ainda por cima, foram três programas".

Raquel Tavares vive no coração de Alfama, onde passou parte da sua vida. O bairro onde vive e canta é uma espécie de ponto de partida para um segundo disco que reflecte um percurso seguro mas ambicioso de uma jovem adulta de 23 anos. "No fundo, representa o berço de cada um, a essência de cada um de nós. É o bairro que simboliza os lares de quem quiser levar o disco para casa." Diz por brincadeira que "lhe cresceram os dentes no fado", embora assuma não ter escolhido a profissão nem sequer goste do termo. "Acho que o fado me escolheu. Antes de cantar em algum sítio, não digo que vou trabalhar. Prefiro dizer que vou fazer arte," ri- -se. Daí que isto de ser fadista seja "uma paixão mas também um ofício". Ainda assim, gosta de pensar que "todos eles são mais do que aquilo que cantam".

Mesmo com uma carreira que se prepara para ganhar outra projecção com este Bairro, prefere continuar a pensar que é apenas "uma pessoa normal", embora o "fado seja música e a música seja arte". A experiência diz-lhe que "os artistas têm um carisma especial, senão teriam outra actividade", mas quer "chegar a mais pessoas". Por isso, defende que "o fado pode chegar a toda a gente", o que se prova pelas viagens que tem feito no estrangeiro e pelo número de fadistas com impacto em países que não "entendem uma palavra da língua portuguesa". Ao vivo, "é difícil agarrar o público" e o "espaço físico é muito importante". No Bacalhau de Molho, onde os estrangeiros são visita habitual, "é necessário fazer ver às pessoas que esta música é diferente e que o silêncio é essencial".

DN, 5-5-2008
 
Coliseu esgota para ver e ouvir Camané

TIAGO PEREIRA

Do Coliseu, Camané guarda memórias distintas. Já actuou naquele palco juntamente com outros artistas, de Carlos do Carmo aos Humanos. Por lá se apresentou sempre que a Grande Noite do Fado o convocou. E foi aos dez anos, entre nervos e ganas de fadista quase formado, que para si próprio declarou: "É isto que quero fazer da minha voz." O mesmo Coliseu recebe hoje Camané, pela primeira vez num espectáculo em nome próprio.

A noite vai ser dedicada a Sempre de Mim, novo disco feito de "fados de sempre". Inéditos, mas "tradicionais, de uma natureza com história". Camané gravou com os músicos que bem conhece e com José Mário Branco na produção. Recolhendo poemas e estruturas musicais que as leis do fado ditam. "Como sempre", afirma o fadista. Mas Sempre de Mim entrou directamente para o primeiro lugar do top de discos mais vendidos em Portugal - "nunca passei do meio da tabela", recorda-nos. Hoje, ocupa o terceiro lugar e o Coliseu está totalmente esgotado. O que mudou? perguntamos a Camané: "Nada, não sei justificar este sucesso." Mas sabe que as opções que tomou ao longo dos anos foram as melhores: "A verdade e a autenticidade também vendem, também chegam ao público. Pode levar mais tempo, mas é possível."

Sempre de Mim ainda está em crescimento. "O fado é como qualquer canção, aceita as mutações que lhe servem, as cores que o vão vestindo de forma diferente sem lhe alterar a personalidade." O Coliseu recebe fados crescidos, com identidade. Os do disco, na íntegra, mas com algo mais para contar. E um tema extra, não incluído no álbum. "Vou cantar o Asas Fechadas, de Alain Oulman e Luís de Macedo", confessa. O único tema que gravou nas últimas sessões de estúdio que foi cantado por Amália Rodrigues.

Camané não é de fazer planos nem gerar expectativas. "Sempre quis actuar no Coliseu e esperava encher a sala", diz o fadista que já esgotou sete noites seguidas no Teatro São Luiz. Mas para lá da hora marcada, as incógnitas permanecem.

DN, 16-5-2008
 
O Coliseu é feito de fado e Camané é o seu senhor

TIAGO PEREIRA

Quando Camané dedica palavras ao seu público, sem o acompanhamento de violas e guitarras, multiplica-se em agradecimentos e deixa explicações sobre os fados que canta. Mas cedo se perde entre os nervos que as canções afastam. Este é o senhor fado que nasceu para contar histórias de miseráveis apaixonados e infelizes boémios elevando a voz, tornando maior que tudo o que, no momento, a rodeia. E fá-lo com uma invejável expressão de contentamento. A noite de sexta-feira fica documentada como a sua estreia em nome próprio no Coliseu dos Recreios. Mas quando canta, juramos que a história e a tradição da sala também lhe pertencem.

O novo Sempre de Mim é ainda disco em crescimento junto de quem o ouve. Mas certezas como esta não pedem por muito tempo para se revelarem: esta é a poesia que melhor serve a tradição fadista que Camané apregoa. E o fadista fá-lo hoje melhor que nunca. Começa sentado, longe das luzes. Canta "sei de um rio onde a própria mentira tem o sabor da verdade" e contorce-se a cada palavra que Pedro Homem de Mello parece ter-lhe dedicado. Volta sempre a Alfredo Marceneiro e mesmo ali regressa à infância, quando escutou quem hoje ainda o acompanha. Fernando Pessoa e David Mourão-Ferreira ecoam pelo Coliseu como poucas vezes até aqui. Lembremos então Amália, que Camané recorda, tímido, em Asas Fechadas. A modéstia serve-lhe a elegância mas sabe vestir a canção como só o próprio poderia.

Camané fez-se fadista para o demonstrar em público. De mão no bolso e fato escolhido ao pormenor. Reservando espaço para quem lhe dá o suporte musical (nesta noite com Carlos Bica como convidado especial) e entregando-se. Na resposta, o Coliseu pediu-lhe quatro encores, aclamou-o e soltou típicos "bravos" ou uns menos ortodoxos "és lindo". Camané sorriu e respondeu que sim.

DN, 18-5-2008
 
Os contos de uma mulher com voz de fadista

TIAGO PEREIRA

Aldina Duarte fez-se voz de casas de fados há 15 anos, entre moradas de referência como o Clube do Fado e o Sr. Vinho. Desde então, editou dois discos, revelou-se investigadora e estudiosa da tradição fadista e acabou por ser dispensada pela sua editora, a EMI (em conjunto com outros músicos nacionais, durante o ano passado). No entanto, um terceiro álbum, Mulheres ao Espelho, não esperou por "respostas de outras editoras que nunca chegaram". Tem o carimbo "0001" da Roda-Lá Music, selo criado pela própria Aldina Duarte, e revela a tradição fadista na companhia de histórias de mulheres.

De xaile pelos ombros, Aldina recorda versos que escreve e canta: "Tenho um vestido alinhavado que envelhece só comigo", sussurra. As leis do fado, com seus modos e suas histórias, na voz de quem sabe: "Não sei a história desta canção. Quem a conhecerá, na verdade?" E esta mesma voz, que canta Lisboa na sua tradição, ocupa agora os dias com cursos de contabilidade, facturas e guias de transporte. "Não é coisa de fadista", diz-nos "mas eu cresci em Chelas a ler Dostoievsky, já na altura me chamavam bicho raro". "Tudo isto pode parecer muito alternativo, coisa de PJ Harvey", assume Aldina, fã da cantora inglesa. "Mas temos que nos envolver naquilo que diz respeito à nossa arte para lá da criação."

Dispensa argumentos sobre as dificuldades de criar uma editora. "Difíceis são os dias de quem é mais novo, de quem procura arriscar e não consegue." Porque os tempos menos bons, como o dos artistas - "em tempos de crise não é no pão que se corta, é na cultura", afirma -, juntam-se a uma estrutura social complexas e a realidades entendidas como "assuntos de mulheres". Que se escrevem no feminino mas se constroem "pela felicidade ou infelicidade de mulheres e homens". Os fados que canta acompanham "políticas económicas e sociais, do aborto aos problemas demográficos" mas não fazem de Mulheres ao Espelho um manifesto panfletário. Aldina dá voz a contos de "noivas e as amantes, de arrependimento e de saudade", como o fado sempre fez desde que se conhece.

A inspiração para Mulheres ao Espelho "seria mais natural num rocker". A frase é da autora mas ilustra pensamentos "de uma canção que também tem os seus preconceitos". Noctívago e boémio são características de um fadista "mas a ignorância também se pode manifestar", diz-nos uma Aldina que, "se assim tiver que ser", prefere carregar o rótulo de "alternativa". Se o sucesso estiver condicionado, que assim seja. Não existe por aqui o desejo do estrelato, a fama nunca será "a de um Camané ou de uma Mariza", assume. "Porque têm um dom vocal que eu não possuo e porque gostam da vida na estrada, que não me faz feliz."

Aldina prefere concentrar atenções na "liberdade de expressão". A de "artistas sujeitos a normas exigências de um mercado incompreensível" e de mulheres "cuja intimidade nem sempre lhes pertence". Reuniu vontades e fez um disco "orgulhoso e sentido, um disco de fado".

DN, 2-6-2008
 
Canções a dois com Camané e José Mário Branco

TIAGO PEREIRA
Concerto. Arranque da Festa do Fado

Músicos recordam percurso, partilhando temas e interpretação

O acaso levou-os ao Bairro Alto no mesmo dia, há mais de uma década, e, com Carlos do Carmo como intermediário, oficializaram apresentações. Mais tarde, uma noite de fados haveria de os tornar parceiros de trabalho. José Mário Branco produziu o álbum de estreia de Camané e, até hoje, mantêm tal relação de intimidade criativa e interpretativa. Hoje actuam em conjunto, pela primeira vez num concerto que apenas aos dois é dedicado. É a noite de abertura da Festa do Fado, em Lisboa.

A série de concertos que decorre até 28 de Junho coloca um desafio aos fadistas: cada noite requer um convidado "não fadista". Camané encontrou em José Mário Branco "o único nome possível". Não só pela relação profissional que os une - e que recentemente resultou no álbum Sempre de Mim -, mas também "por uma identificação e uma cumplicidade irrepetíveis". Os temas a apresentar recordam o percurso de ambos, com a partilha de protagonismos na interpretação, revelando "contágios e referências, até porque existe uma identificação muito forte com a música de um e de outro", confessa Camané.

Diz-nos José Mário Branco que "mais não podia fazer a não ser aceitar o convite do Camané". Ao papel de maestro que habitualmente desempenha em estúdio, quando a voz principal é a do fadista, junta uma "admiração enorme pelo grande intérprete que é Camané, sempre primeiro pelo fado, mas como cantor de corpo inteiro em qualquer território", afirma. Uma contaminação de estilos e linguagens que também assume e hoje comprova, "numa noite com canções dos dois, naturalmente cantada a dois". Camané responde, apontando o "rigor na música e na palavra do Zé Mário" como elemento fundamental "para nele encontrar um mestre obrigatório". Ao mesmo tempo, fala-nos de uma "exigência" que tanto se reflecte "na obra que construiu até hoje" como na "actuação que hoje apresentamos em conjunto no Castelo, numa Festa do Fado "sempre estimulante", diz.

Aos músicos que habitualmente acompanham Camané em palco juntam-se, esta noite, Carlos Bica (contrabaixo), José Peixoto (guitarra), Rui Júnior (percussão) e Filipe Raposo (piano).

DN, 6-6-2008
 
O regresso luminoso da 'fadista exótica'

TIAGO PEREIRA

Com o disco 'Phados', de 1998, conquistou reconhecimento entre o público e a crítica. Mas os dez anos seguintes foram de alguma reclusão e muita reflexão. Lula Pena regressa agora para novos concertos e um segundo disco, como que um recomeço, planeado para o final do ano

Cantora actua hoje à noite no Castelo de São Jorge

No princípio, Lula Pena não era fadista. Passeava-se entre Lisboa, Barcelona e terras belgas, um nomadismo que lhe é "necessário", ainda hoje. Foi a editora belga Carbon 7 que lhe editou o álbum Phados, em 1998, depois de um encontro imprevisto num bar com música ao vivo. Lula Pena estava à guitarra, com os fados e os cantos que lhe nascem "no ventre, afinal o centro da nossa identidade".

Durante dez anos encantou quem a viu e ouviu e deixou curioso os que apenas lhe conheceram o nome. Agora está de regresso, aos palcos (hoje, pelas 22.00, no Castelo de S. Jorge, com Richard Galliano, Custódio Castelo e as Adufeiras de Monsanto) e aos discos, com nova edição prevista para Novembro. Em Agosto, mais concertos a esperam, dessa vez na Casa da Música (Porto, dia 8) e Museu do Oriente (Lisboa, a 15).

Phados transformou Lula Pena. O fado era-lhe visceral, "deixava-me os músculos presos, não conseguia mexer as mãos, tudo era muito intenso", recorda. Amália Rodrigues e Maria Teresa de Noronha passeavam-se pelos acordes de uma guitarras minimal, que depois explicava qual a relação desta canção com outras, do Brasil a Cabo Verde. Esta voz de corpo inteiro, adulta, confiante diz-nos hoje que "o fado surgiu tarde na minha vida, só depois dos vinte anos". Porque antes o fado não gerava paixões. Antes, porque a "indescritível experiência física" gerou um "depois". Veio o "Phado" com PH, porque é "epidérmico, é-nos interno e moldamo-lo à nossa imagem". O reconhecimento e os aplausos. Próximo passo: o medo, o desconforto, o pânico no palco, a intimidade que desapareceu e deixou Lula Pena "a viver numa esfera diferente, que nunca foi confortável".

Restava-lhe procurar espaço e tempo para descobrir se as dificuldades eram ultrapassáveis, se a necessidade criativa e artística falaria mais alto. "Percebi que o meu mundo tinha que ser revelado, tinha que fazer propaganda sobre quem sou", reconhece agora, serena, decidida. Hoje, o fado que a faz cantar Amália e Chico Buarque na mesma frase, não é o mesmo de há dez anos.

Lula Pena construiu as suas "relações e motivações com a canção". Esta é a "cantora- nómada-exótica" que não se preocupa com os rótulos, "desde que não desvirtuem aquilo que sou". Se é exótica por pensar o fado à sua maneira, "que assim seja". E o tal nomadismo rouba-lhe a existência de um "porto seguro". Lisboa é sempre "motivo de regresso, depois de demarches às quais não consigo resistir". Sem qualquer angústia ou sentimento de insegurança, que "a necessidade de consolo é de impossível satisfação", acredita.

Na verdade, a música de Lula Pena "é uma viagem, em volta de fontes de inspiração que desconheçam mas me trazem paixões". O fado pode ser encarado como uma religião, com regras e dogmas que "asseguram definições e protecção das ameaças externas". Mas tanto numa realidade como noutra, Pena é apelido de quem acredita "na essência" e depois se lança "na indefinição". Este é um mundo de dicotomias, cantadas, "como se a alegria e a tristeza fossem duas partes de uma mesma entidade". A fadista - que não sabe se essa é a sua categoria mas que reconhece a necessidade de simplificação perante o público - respeita uma e outra, o prazer da primeira, a obrigação da segunda.

Para tudo o que lhe constrói os dias, encontra no fado banda sonora, não a ideal mas a única possível. A inquietação geográfica leva-a a descobrir outras realidades, diferentes músicos e distintas possibilidades. Do fado faz uma festa e hoje participa no cartaz do evento com o mesmo nome. Porque as regras do palco implicam o convite de outros, amigos e admirados, Lisboa recebe hoje Richard Galliano, "músico ímpar, de enorme sensibilidade", Custódio Castelo e uma "identificação com a guitarra portuguesa que me é familiar e sedutora" e as Adufeiras de Monsanto, que deverão, acima de tudo, "surpreender". Novos encontros com outras músicas, "antes as pessoas, suas identidades, e só depois os instrumentos", para preparar terreno fértil para um novo disco que aí vem.

DN, 14-6-2008
 
Fado em congresso e a caminho da UNESCO

TIAGO PEREIRA

Na Universidade Católica, em Lisboa, juntam-se investigadores e músicos para conversas e reflexões sobre o fado e as realidades que constroem a sua contemporaneidade. O musicólogo Rui Vieira Nery apresenta o evento e diz que a candidatura a Património da Humanidade está concluída

Filme 'Canção d'Além-Mar' encerra trabalhos

Começa hoje o Congresso Internacional do Fado, um encontro de investigadores, especialistas e intérpretes que procura "reunir conhecimentos sobre a história e a prática do fado", explica o musicólogo Rui Vieira Nery, um dos elementos do Comissão Científica do Congresso que decorre até ao próximo sábado.

A organização de um encontro internacional sobre o fado "acontece numa altura oportuna", afirma Vieira Nery. Na verdade, o Museu do Fado cumpre, este ano, a sua primeira década de actividade. Ao mesmo tempo, está pronta a candidatura do fado a Património Imaterial da Humanidade na UNESCO.

A Universidade Católica, em Lisboa (uma das entidades organizadoras, em conjunto com o Instituto de Etnomusicologia e o Museu do Fado) espera estudiosos portugueses e estrangeiros para sessões der trabalho e discussão sobre "a história do fado, as figuras que constroem a sua contemporaneidade, as questões de etnomusicologia, entre o Brasil e África, e assuntos relacionados com os instrumentos que fazem o fado". Os repertórios, as diferentes formas de interpretação, a mediatização e o contributo do fado na indústria musical portuguesa são também universos a analisar, num encontro que tem como subtítulo "Percurso e Perspectivas".

Naturalmente, e porque "o que está escrito até agora é o percurso já construído pelo fado, não o seu futuro", diz-nos Rui Vieira Nery, as "histórias" do fado vão estar em evidência. Contudo, "são muitas as variantes que constroem o fado como hoje o conhecemos, toda elas relevantes". Assim, "são muitos os elementos sobre a contemporaneidade que vão estar em destaque".

A conferência que abre o congresso (hoje, a partir das 11.00) é apresentada por Joaquim Pais de Brito, o primeiro académico que, lembra Rui Vieira Nery, integrou o fado nas discussões universitárias (e que em 1994 coordenou a exposição "Fado, Vozes e Sombras", no Museu Nacional de Etnologia).

Do programa para os quatro dias de congresso (disponível na íntegra em www.fcsh.unl.pt/inet), Rui Vieira Nery destaca três mesas redondas "com figuras fundamentais do fado e do seu estudo". Hoje, a partir das 18.00, o tema é Práticas Performativas: Estilar e Dividir. A moderação é do próprio Rui Vieira Nery, com participação de António Rocha, Daniel Gouveia, Julieta Estrela e José Manuel Osório.

Amanhã, às 16.30, a investigadora Salwa Castelo-Branco (também da Comissão Científica do Congresso) modera uma discussão em volta das Casas de Fado. Convidados para a conversa estão Carlos do Carmo, José Pracana, Mário Pacheco e Maria da Fé. Na sexta-feira, a mesa-redonda tem como tema as Letras do Fado. Aldina Duarte, Fernando Pinto do Amaral, José Luís Gordo, Nuno Júdice e Maria do Rosário Pedreira marcam presença no encontro moderado por Vasco Graça Moura.

A sessão deste encerramento do Congresso Internacional o Fado decorre no sábado às 15.00, depois da apresentação de Canção d'Além-Mar, filme realizado por Eduardo de Araújo Teixeira e Heloísa de A. Duarte Valente, sobre o fado no Brasil.

DN, 18-6-2008
 
Ana Moura quer fazer dos Coliseus casas de fado

MARCOS CRUZ

Dupla estreia em pico de carreira

Fadista actua hoje no do Porto e quinta-feira no de Lisboa. Pela primeira vez

E das trevas fez-se luz. Para a sua estreia nos Coliseus de Porto e Lisboa, respectivamente hoje e quinta-feira, pelas 21.30, Ana Moura quer levar ao palco a própria vida, o que, metaforicamente, significa romper a noite até nascer o sol. O espectáculo, preparado "com carinho", conta a história da fadista.

Repertório, cenografia e desenho de luz juntam-se para definir um ambiente nocturno, o ecossistema laboral a que Ana Moura pertence e onde abre, pela voz, as janelas de esperança e claridade que quer partilhar com o público. "A minha ideia é convidar a assistência a ver aquilo que eu faço, o que são os meus dias, as minhas noites", revela.

Olhando ao seu percurso no fado, o mote do concerto presta-se a outra interpretação: a jovem cantora atravessa a sua fase mais luminosa com o País em queda livre para as trevas. "É verdade", assente num tom desolado, antes de desviar graciosamente o assunto: "Com a música portuguesa a atravessar uma fase tão negra, o meu disco ser platina e continuar no top ao fim de um ano deixa-me muito feliz".

Cinjamo-nos, então à música. Ana Moura pisará o palco acompanhada por duas fontes de inspiração: Maria da Fé, que a lançou para a canção nacional na casa de fados Senhor Vinho, de que é proprietária com o marido, o poeta José Luís Gordo, e Beatriz da Conceição - ambas já contempladas com prémios Amália Rodrigues, à semelhança da autora de Para Além da Saudade, que o averbou este ano na categoria de melhor intérprete.

"O fado tradicional vai dominar a fase inicial do espectáculo, mas depois haverá margem para contar novas histórias, muitas delas pertencentes ao meu último álbum", antecipa a fadista, que, ao fim e ao cabo, quer fazer dos Coliseus "casas de fados". Eis, resumida, a intenção.

Presença inevitável para as duas noites será a de Jorge Fernando, produtor de todos os discos de Ana Moura. "É a pessoa em quem me apoio, há entre nós uma grande cumplicidade. Sempre acreditou em mim", refere.

DN, 24-6-2008
 
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