22 abril, 2008

 

22 de Abril


Dia do Descobrimento do Brasil




http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil

http://www.brasil.gov.br/

http://www.presidencia.pt/brasil2008/

Comments:
Cavaco Silva e Fábio Lucas, a história num voo para o Rio

Catarina Carvalho
Jornalista

O DN viajou a convite da Presidência da República
Cavaco Silva viajou ontem para o Rio de Janeiro para participar nas comemorações dos 200 anos da chegada da coroa à cidade. Foi num voo regular da TAP, o 177, cujo comandante anunciou a presença do Presidente a bordo, perante a curiosidade nos passageiros fora da comitiva. "Ai é?", perguntou logo Fábio Lucas, antes de ver nos jornais do dia o que levava Cavaco ao Brasil: "Foi o Lula que convidou, não foi?"

Fábio vive em Portugal há sete anos. Tem uma pequena empresa de transporte de turistas em Albufeira. E um filho de dez meses, David, que nasceu em Faro e que ele vai querer português, "por causa das facilidades na União Europeia". Fábio fez questão de ir à classe executiva cumprimentar o Presidente, acha ele, responsável pela lei que facilita a vida dos imigrantes. "Vou tirar uma foto com ele", disse, de volta ao lugar para ir buscar a máquina. "Com o nosso presidente. É nosso não é? De Portugal."

Cavaco e a mulher tiraram uma fotografia com Fábio e o filho ao colo. Comentaram o facto de também serem do Algarve, onde mora a família Lucas. E Cavaco deve ter gostado de ouvir um brasileiro chamar-lhe seu Presidente. No fundo, é o que ele e Lula vão celebrar a partir de hoje, nas comemorações dos 200 anos da chegada da Coroa ao Brasil. A história comum destes dois países, marcada por esse episódio, em 1808.

Na carta que escreveu ao presidente português, o presidente Lula disse simplesmente: "Venha para comemorarmos juntos". E Cavaco Silva, aceitando o convite, usou-o para difundir a mensagem: "A história legou-nos uma rede de cumplicidades e convergência de interesses". Como explica o livro "1808", do jornalista Laurentino Gomes, que Cavaco leu no último mês e que considera um trabalho "rigoroso". Como mostra a vida de Fábio, a canção "Fado Tropical", de Chico Buarque, que toca na secção Portugal, canal 1 do sistema de som do avião, ou a recente descoberta de mais uma jazida de gás natural pela Galp na costa brasileira.

À chegada ao Rio, recebido pelo prefeito da cidade, Cavaco Silva voltou a dizer que esta é a comemoração de "um facto histórico para os dois países". Hoje vai inaugurar ao fim da tarde, ao lado de Lula da Silva a grande exposição patrocinada pela Gulbenkian, "Um novo mundo, um novo império - a corte portuguesa no Brasil", no Museu Histórico Nacional.

Esta exposição cobre épocas desde a Lisboa antes da partida até ao regresso. Algumas obras, como os retratos das infantas, viajaram para o Brasil desde Lisboa, como que para provar que esta história só se conta toda se forem os dois países a contá-la.

DN, 7-3-2008
 
A comemoração certa entre Portugal e Brasil

A trasladação de uma corte imperial inteira, da metrópole para uma sua colónia, é um acontecimento único na História Moderna. Aconteceu há 200 anos por decisão do rei D. João VI, evento que está a suscitar todo um olhar novo por parte da historiografia brasileira. A avaliação da permanência da corte portuguesa no Rio de Janeiro foi longamente reduzida à caricatura da usurpação de residências para os nobres, da prepotência e dos costumes dissolutos de um rei tonto e comilão e de uma rainha hormonalmente desequilibrada. Passaram o século XIX, com o seu independentismo antilusitano, e o século XX, com a persistente anedotário depreciativo dos imigrantes lusos Joaquim e Manel, padeiros de profissão. Hoje, a presença de D. João é vista, desapaixonadamente, como um momento de viragem na história do Brasil. Momento de afirmação das instituições do Estado e de reforço da unidade nacional, preâmbulo anunciador do Grito do Ipiranga.

O convite de Lula da Silva a Cavaco Silva para comemorarem "juntos" esta data espelha uma nova realidade. A de um Brasil pujante, confiante nas suas capacidades, aberto ao mundo, activo na lusofonia, sem complexos quanto ao passado. E, reciprocamente, foi preciso haver uma presidência portuguesa da UE para esta estabelecer uma parceria estratégica com a potência emergente da América Latina. De um lado e de outro do Atlântico dão-se passos novos para tornar a mítica comunidade luso-brasileira em algo prático e positivo para a vida dos dois povos.

DN, 7-3-2008
 
SOBRE O PORTUGUÊS VÍTOR HUGO

Ferreira Fernandes
jornalista
ferreira.fernandes@dn.pt

O jornalista Jean-Pierre Langellier publicou no dia 6 um artigo no jornal Le Monde com este título: "'Merci Napoléon', Dizem os Brasileiros". E o artigo começa com a mesma tecla: "Todos os brasileiros vos dizem: o seu país existe graças a ... Napoleão." E acaba batendo no mesmo: "No último Carnaval, várias escolas de samba fizeram disso [a chegada do D. João VI, ao Rio] o tema do seu desfile. Um dos refrãos, acompanhado em coro pela multidão, acabava com um alegre: 'Adeus, Napoleão!' Adeus e obrigado."

Portanto, Le Monde mandou avisar: o pai da criança é Napoleão, não é D. João VI. Lula devia ter convidado, em vez de Cavaco e Maria, Sarkozi e a Bruni. Vão dizer-me, o artigo de Langellier é a brincar. Pois, pois. Mas um tema tão extraordinário (a primeira viagem de um rei europeu para, e não à, para a América, o único país do mundo que se fez independente com um príncipe colonial...) - e tema em que a França é secundária - eu preferisse que fosse tratado sem o tradicional umbiguismo gaulês. Sublinhado no título, primeiro e último parágrafo, quer dizer nos lugares mais nobres do artigo.

Desde já, essa da causa efeito - Napoleão é que empurra D. João VI para o Brasil - parece a do brasileiro que diz que quem protagonizou a final do Mundial de 50 foi o guarda-redes Barbosa, que deixou entrar o golo. Não, o campeão do mundo foi o Uruguai porque Ghiggia enganou Barbosa num chuto perfeito e porque os uruguaios foram a equipa superior comandados pelo grande capitão Obdulio Varela. Sobre o nascimento do Brasil, portugueses e D. João VI e D. Pedro foram protagonistas, só ultrapassados pelos brasileiros; Napoleão, grande noutras coisas, nesta foi mero comparsa histórico.

Aliás, entre os dois parágrafos francófilos, Langellier lembra: "Sobre D. João, Napoleão escreverá: 'Ele é o único homem que me enganou'." Esta parte do miolo do artigo é a melhor, recheada de informação. Eu gostei muito, já tinha lido tudo no soberbo 1808, do brasileiro Laurentino Gomes, livro que eu (mas isso sou eu) digo que li. A Laurentino o que é de Laurentino, a João VI o que de João VI, cher Jean-Pierre.

E naquele último parágrafo, o do desfile carnavalesco com o "Adeus, Napoleão", seguido no texto do Monde por "Adeus e obrigado", diga-se que o sujeito está mal atribuído. Não, não são os brasileiros a piscar o olho ao imperador francês. O desfile foi o do Grupo Imperatriz Leopoldina e o samba-enredo, depois de mostrar a discussão no palácio real de Lisboa, põe D. João VI a tomar a decisão. Que saiu nestes versos cantados no Sambódromo: "Ou ficam todos/ Ou todos se vão/ Embarcar nessa aventura/ e 'au revoir, Napoléon'"... Já nos chega os franceses terem melhores patés e agora querem ter melhores passés... Perdoem a piadola à Le Monde.

DN, 9-3-2008
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?