25 junho, 2008

 

007


A propósito



http://pt.wikipedia.org/wiki/James_Bond

http://en.wikipedia.org/wiki/James_Bond

http://www.007.info/

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FLEMING, IAN FLEMING

PEDRO CORREIA

Autor dos livros de Bond deve o sucesso a John Kennedy

O primeiro livro que publicou, Casino Royale, foi um fracasso de vendas: a edição inicial só teve 4750 compradores - por ironia do destino, cada um desses exemplares é hoje disputado a peso de ouro. Mas Ian Lancaster Fleming, que se estreou na ficção de espionagem com 45 anos, em 1953, não era homem para desistir. O treino como jornalista da agência Reuters, onde foi repórter e subeditor, e a experiência como agente dos serviços de informações da marinha britânica durante a II Guerra Mundial forneceram-lhe a matéria e a forma do que viria a ser uma das maiores receitas de best sellers de que há memória. Os livros que têm James Bond - o agente secreto 007, com ordem para matar - como protagonista venderam até hoje 21 milhões de exemplares. As sucessivas adaptações cinematográficas do herói anticomunista criado por Fleming no auge da guerra fria têm contribuído para perpetuar o êxito de vendas num mundo em que as fronteiras ideológicas estão cada vez mais diluídas.

Mas o grande responsável pelo fenómeno Bond acabou por ser o presidente norte-americano John Fitzgerald Kennedy. Numa entrevista, o inquilino da Casa Branca revelou ter gostado muito de ler From Russia With Love (o quinto volume das aventuras de Bond, editado em 1957). Foi quanto bastou para tornar Fleming uma celebridade mundial. Daí à venda dos direitos cinematográficos aos produtores britânicos Harry Saltzman e Albert Broccoli foi um curto passo. Doctor No, a primeira longa-metragem da série (1962), esgotou plateias por toda a parte, surpreendendo o próprio autor, que preferia ter visto David Niven no papel do agente 007.

Também a vida de Fleming dava um filme (e até já deu). Filho de um deputado do Partido Conservador britânico e neto de um banqueiro escocês, frequentou a selecta Universidade de Eton e a academia militar de Sandhurst. Falava com fluência alemão (objectivo que o levou a matricular-se na Universidade de Munique) e francês (aperfeiçoado na Universidade de Genebra). Já como jornalista, nos anos 30, esteve em Moscovo, onde assinou a sua melhor reportagem, sobre um julgamento de suspeitos de espionagem. Mas a Reuters pagava-lhe mal, o que o levou a trocar a agência noticiosa britânica pela actividade de corretor na Bolsa de Londres.

A II Guerra Mundial mudou-lhe a vida. Fleming ofereceu-se como voluntário para a marinha, onde funcionou como elemento dos serviços secretos em missões delicadas nos mais diversos palcos do conflito, designadamente na França ocupada pelo exército nazi. Passou também pelo Estoril, onde exercitou a paixão pelo jogo que manteve até morrer, aos 56 anos, em 1964.

Este homem nascido há cem anos (em 28 de Maio de 1908) era um epicurista. Apreciava os prazeres da mesa, não dispensava vinhos de marca, fumava dois maços de tabaco por dia e gostava de acelerar em viaturas de alta cilindrada. À semelhança de Bond, em que muitos vêem um retrato do próprio Fleming, que após a guerra se instalou na sua vivenda Goldeneye, num recanto paradisíaco da Jamaica. Tal como o agente 007, também ele costumava dizer: "Detesto porções pequenas de tudo quanto é bom."

DN, 24-5-2008
 
"O meu James Bond é o mesmo de Ian Fleming"

JOÃO CÉU E SILVA, em Londres

Quando Ian Fleming começou a publicar as aventuras do agente 007, a sua neta Lucy estava proibida de as ler porque havia nesses livros assuntos demasiado quentes para uma menina de boas famílias. Salvava-se da proibição o seu irmão, que se deliciava com os tiros, as perseguições, os carros, os martinis e, principalmente, com as "raparigas" que povoavam as páginas e as camas por onde o mais famoso agente da Rainha ia passando e seduzindo.

Não será por acaso que os tiros e tudo o mais estavam naquelas páginas, é que todas essas situações tinham passado pela vida do próprio Ian Fleming na primeira pessoa ou por conhecimento muito próximo. Quanto às girls que entusiasmavam os leitores e que mais tarde iriam fazer o mesmo às plateias do mundo inteiro, ninguém fala sobre o assunto mas uma fotografia que está exposta na sede da associação que preserva a sua memória mostra Ian Fleming a olhar para a actriz Ursula Andress - talvez a melhor Bond Girl - de um modo que diz tudo!

Ontem, na apresentação de A Essência do Mal, a nova aventura de James Bond que foi escrita por Sebastian Faulks ao "estilo de Ian Fleming", Lucy Fleming não negou que já leu todas essas passagens proibidas e que esse picante faz falta à sequela inspirada naqueles livros que tornaram o seu avô conhecido em todo o mundo. Estava o autor responsável pelo novo título, mais preocupado em se defender desta "mancha" na sua carreira "séria" de livros sobre psiquiatria e conflitos bélicos do que Lucy em limpar a imagem do seu avô de qualquer uma das cenas mais quentes que povoam o livro e que atinge o climax, quase no final, quando uma das girls tem de provar a James Bond que não tem um sinal do tamanho de um morango numa zona do corpo que, por norma, ficaria coberta pelas "calcinhas cor-de-rosa" que usa. Esta cena salvaguarda a inicial, uma em que o agente está de baixa sabática e, de tão desanimado com a falta de acção, dá uma nega à primeira girl que o leitor acredita ser a que vai dar início à série de encontros amorosos tão habituais na vida deste agente entre as situações de acção, ainda mais habituais.

Talvez por essa razão, Sebastian Faulks tivesse confessado ontem na conferência de imprensa, realizada em Londres para apresentar A Essência do Mal ao mundo, que o "seu" James Bond se "mantém heterossexual", não fosse o leitor desprevenido achar logo nas primeiras páginas deste livro que o agente perdeu alguma das qualidades que marcavam o protagonista criado por Ian Fleming, até porque "neste livro mostra todas as mudanças na sociedade acontecidas naquela época de finais dos anos 60, a escolhida para situar este livro" (a acção decorre em 1967), tal como o amor livre, as experiências psicadélicas, os cabelos compridos e a música aos berros de bandas como os Beatles e os Rolling Stones.

Quanto a este livro, que se passa no Irão, o continuador de 007 explicou que se obrigou a percorrer os mesmos passos do autor que imitou, ou seja, escreveu o volume em apenas seis semanas. Antes, documentou-se na Internet, onde descobriu por acaso uma das armas secretas com que a União Soviética iria perturbar as regras da Guerra Fria neste seu romance, e principalmente leu o ensaio de Fleming, em que este explicava como se escrevia um livro deste género: "Tinha que se ter vivido na pele estas experiências." Situações que, garante Sebastian Faulks, nunca viveu nem deseja: "Prefiro ir passear o cão e sentar-me de pantufas a ver televisão."

A edição portuguesa já está à venda e segue a capa original de Devil May Care.

DN, 29-5-2008
 
Um passeio no parque em dia de sol com '007'

ORLANDO ALMEIDA

E ao oitavo dia, fez sol no parque. Sol como não se via há semanas em Lisboa e há quem pergunte pela Sibila de Agustina Bessa-Luís, numa das barracas da Guimarães, logo à entrada de quem chega vindo das Amoreiras ou do Rato. É um clássico numa editora cheia de novidades: nova imagem, novos donos, nova livraria, mais áreas a explorar. Quem pede a Sibilia veste calções e ignora o livro do dia. "Vim à procura de livros que fui perdendo a preços mais baixos. Vim também à procura de coisas que já não se encontram nas livrarias", diz Francisca. Não será o caso do mais conhecido dos romances de Agustina, tantas vezes reeditado desde a publicação nos anos 50.

Passa pouco das três da tarde de sábado e há sol no parque e muita gente de ténis, calções, garrafas de água na mão, gelados que se derretem enquanto se manuseiam as pechinchas na Relógio d'Água, livros a um euro, dois, até dez euros. Na Teorema, catálogos informam que a compra de um livro dá direito a um pacote de pipocas e há uma fila em crescendo junto à Gradiva e uma pilha de livros que diminui proporcionalmente. José Rodrigues dos Santos, vestido de cor-de-rosa, assina O Sétimo Selo e ninguém parece incomodar-se com a espera. Haja água. Olha-se para o lado e parte de uma das bancas da Civilização replica um título. Tantas vezes que parece um padrão, um painel. É o novo 007, A Essência do Mal, assinado por Sebastian Faulks e agora publicado numa edição mundial. É uma das estrelas da feira.

Do outro lado, bem lá no cimo, está outra. A confusão anuncia a badalada Praça Leya. Barracas em estilo contentor, com seguranças fardados e um António Lobo Antunes que, quase anónimo, surge do alto do parque, em passo lento, antes de se sentar numa mesa que o irá esconder, tantas são as pessoas que andam de um sítio para o outro, atropelando-se, em filas para chegar à barraca central, onde está a caixa. Lobo Antunes dá autógrafos. E José Eduardo Agualusa e Nuno Júdice. Os saldos são curtos, o fundo de catálogo está à míngua e cheia está a relva. Gente deitada ao sol a ver outros passar. No outro sábado havia chuva e parece que não faltou gente.

DN, 2-6-2008
 
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