01 junho, 2008

 

João Paulo


II




http://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Jo%C3%A3o_Paulo_II

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DOIS PAPAS, DOIS ESTILOS PARA UMA MESMA IGREJA

ABEL COELHO DE MORAIS

A Igreja de Bento XVI é a mesma de João Paulo II. Os temas e as preocupações são comuns aos dois papados, só o estilo é, em absoluto, distinto.

Enquanto João Paulo II foi "uma espécie de papa superstar", recorda Aura Miguel, jornalista da Rádio Renascença que o acompanhou ao longo de quase duas décadas, que ao "longo do pontificado chamou a atenção para Deus", a Bento XVI preocupa-o "a crise de valores, o relativismo".

Mas o carácter do papado de João Paulo II, a "genialidade da sua mensagem", a "empatia com católicos e não católicos", a disponibilidade para percorrer o mundo, lembra a jornalista autora de dois livros sobre o papa polaco, "só foi possível pela presença do cardeal Ratzinger em Roma". Este, que foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé durante quase todo o pontificado de João Paulo II, contribuiu para a definição e tratamento teológico de toda uma série de temas presentes nas encíclicas do papa polaco.

"Há uma evidente continuidade nos temas e nas perspectivas", sustenta Anselmo Borges, padre e professor de Filosofia na Universidade de Coimbra, mas "o estilo é diferente". Com Bento XVI, "estamos perante um Papa professor", autor de encíclicas que as povoa de referências "e autores extra-eclesiásticos". "Platão, Jurgen Habermas, John Rawls" são nomes que, explica aquele professor, "não se esperaria encontrar em textos oficiais do Papa".

Este aspecto de Bento XVI como intelectual, é algo também assinalado por Aura Miguel. Este "é um Papa que tem a admiração da classe intelectual"; os seus textos e intervenções comprovam-no, afirma a jornalista que distingue as personalidades dos papas alemão e polaco. O primeiro, intelectual e tímido, "um homem de pensamento"; o segundo, um homem "virado para a acção", o que lhe permitiu protagonizar "um pontificado único", alguém "profundamente místico, mais do que Bento XVI.

Anselmo Borges, que teve oportunidade de se encontrar com o então cardeal Joseph Ratzinger partilha impressão semelhante, apresentando o Papa alemão como "uma personalidade muito afável, reservada, tímido", que não cultiva as multidões e "que escolhe pontos considerados estratégicos nas suas viagens, como a Alemanha, Espanha, Brasil, Turquia", países centrais no catolicismo, por um lado, e no último caso, um país muçulmano, plataforma de encontro (mas também conflito) de religiões e civilizações, hoje candidato à adesão à UE. Até hoje, um espaço exclusivamente cristão. "Não é por acaso que escolheu o nome de Bento" - "em homenagem a Bento XV, é claro, mas também a São Bento", fundador da ordem beneditina no século VI, instrumental na afirmação do cristianismo na Europa ao longo da época medieval.

A questão da identidade cristã da Europa é este um tema central no Papado de Bento XVI. "É sua preocupação chamar a atenção para as raízes cristãs" do Velho Continente, sublinha Aura Miguel. Por outro lado, a jornalista da Renascença apresenta também como prioridade do Papa alemão uma iniciativa de João Paulo II: o diálogo interreligioso materializado nos encontros de Assis.

As batalhas de Bento XVI travam-se ainda na liturgia. Este é um Papa que pretende uma liturgia da fé, liberta de aspectos acessórios. O regresso à missa em latim, a celebração versus Deum - dita de costas para os fiéis - são aspectos do combate que trava o sucessor de João Paulo II. Com um estilo distinto, por meios semelhantes e com a idêntica determinação.

DN, 2-4-2008
 
"Pontificados nunca poderão ser iguais"

MANUELA PAIXÃO, Roma

Neste terceiro aniversário da morte de João Paulo II, que recordações tem deste papa?

A sua agonia foi um exemplo para todos nós, então como hoje. Foi-o para mim todos os dias e também para o mundo, sobretudo pelo modo como João Paulo II a viveu e fez participar todos os homens e mulheres de boa vontade. Mesmo o seu momento mais doloroso quis partilhar connosco. Com uma serenidade e coragem únicas.

Uma morte que comoveu todos e foi seguida por todo o mundo. Como explica até o interesse dos não crentes?

Karol Wojtyla foi um homem de paz, que procurou de modo extraordinário o dialogo com todos, que respeitou todas as fés, tradições e costumes, que deu o primeiro passo para considerar e condenar em público, como papa, injustiças de todos os tipos, que defendeu como homem e como chefe da Igreja os direitos humanos. Sem a acção do Wojtyla, muitos países estariam hoje ainda a viver sob regimes não democráticos. Não é mistério para ninguém a influência que teve no fim do Pacto de Varsóvia…

O que nos ensinou o seu pontificado?

Foi um exemplo de Vida, foi padre, sacerdote, bispo, cardeal, papa. João Paulo II exerceu uma verdadeira paternidade universal, aberta a todos, não só aos católicos.

Para si, que partilhou com o papa Wojtyla momentos de intensidade mística e momentos de reflexão, quais são as memórias suas mais vivas?

A capacidade de uma imensa e profunda intimidade, até física, com Deus, o momento em que antes de dizer missa, se dava totalmente a Deus, é algo de místico que não consigo descrever suficientemente. Ele foi capaz de gestos únicos, como visitar a Sinagoga de Roma, colocar no muro de Jerusalém um bilhete, como é a tradição judaica, de perdoar aos seus inimigos, de ter estado com Ali Agca e de ter perdoado o atentado contra a sua vida.

Mas houve situações em que não deixaram de chover críticas sobre João Paulo II, em especial pelo seu mediatismo...

Muitos acusaram-no de ser demasiado mediático, de ter um sentido da comunicação demasiado "laico". Mas era apenas um homem que compreendia os nossos tempos…

Que diferenças encontra entre os pontificados de Bento XVI e João Paulo II?

Dois pontificados nunca poderão ser iguais. Os papas, cada um é uma pessoa diferente. A substância é a mesma, mas há personalidades diversas. As posições em relação aos mistérios da Fé são as mesmas, houve colaboração entre os dois, não podemos esquecer que o cardeal Ratzinger foi o principal colaborador de João Paulo II em matéria de fé.

Em que ponto está o processo de beatificação?

Já foram apresentadas as primeiras conclusões à Congregação. Se o processo continuar sem dificuldades, poderá ser entregue no final de Abril. Se para a Congregação tudo estiver em ordem, o processo para a beatificação pode estar pronto antes do Natal.

DN, 2-4-2008
 
Revelações

Aura Miguel

A propósito do terceiro aniversário da morte de João Paulo
II, alguns cardeais fizeram agora revelações sobre as dúvidas que ele teve em demitir-se de Papa.
No ano 2000 – face ao agravamento do seu estado de saúde - chegou mesmo a aconselhar-se com cardeal Herranz, então responsável pelos textos legislativos, mas, segundo
conta este cardeal, João Paulo II receou criar um perigoso
precedente aos seus sucessores, uma vez que os futuros Papas poderiam ser alvo de manobras e pressões subtis por parte de outros cardeais que desejariam destitui-lo, já para não falar dos problemas da coexistência entre um
Papa em funções e outro emérito.
A questão, aliás, surgiu de modo evidente quando, nos 25 anos do pontificado de João Paulo II, vários cardeais se manifestaram, alguns deles sugerindo a sua demissão.
Agora, também o cardeal Re revelou em Roma que, depois de ter reflectido sobre o problema, João Paulo II concluiu que “se a Providência o tinha feito Papa, preferia confiar a decisão à Providência”. E que “este abandonar-se à Providência
lhe deu força para carregar a sua cruz até ao fim”.
Que diferente seria a nossa vida se confiássemos assim na
Providência!

RRP1, 4-4-2008
 
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