28 junho, 2008

 

Saramago


o nobel, o homem...




http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Saramago


http://www.caleida.pt/saramago/

http://www.josesaramago.org/

http://josesaramago.blogspot.com/

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Saramago abre hoje Fundação na terra onde foi o Zezito

JOÃO CÉU E SILVA

Quando José Saramago nasceu, a Azinhaga chamava-se apenas assim. Depois, o escritor foi falando dela como Azinhaga do Ribatejo e desse modo se passou a chamar. Também, quando aí nasceu, a família Sousa era apenas apelidada de Saramago, mas o erro de um funcionário fez mudar o nome dito pelo pai. Nos últimos anos, muita coisa mudou na Azinhaga - até o Zezito, como era conhecido, deixou de ser chamado assim - e passou a ser conhecida em todo o mundo, pois consta na biografia do Nobel logo na primeira linha. E a terriola, situada à beira do rio Almonda, não se esquece desse facto nem de, conforme diz o presidente da junta de freguesia, Vítor Guia, "de ser uma das duas únicas terras portuguesas onde nasceu um Nobel".

Por isso, o escritor regressa hoje à Azinhaga para a homenagear e ser homenageado. Do seu lado, abre as portas do pólo da Fundação José Saramago. Do outro lado, os habitantes oferecem-lhe um jantar, depois de darem nome da sua mulher a uma rua, Pilar del Río, de assinar o protocolo de geminação com Tías del Fajardo (onde vive em Lanzarote) e Castril (onde Pilar nasceu), de ser feita a apresentação pelo escritor do livro Memórias da Terra de Saramago, de José Henriques Dias, e representada a peça de teatro intitulada Que Fazer com Estes Livros, José?

A chegada do escritor está prevista para as 15.30, num autocarro que levará de Lisboa os convidados para a Azinhaga. Um regresso que pretende ser uma festa, tal como em 2006, aquando do lançamento do seu livro As Pequenas Memórias. Desta vez, para lá da celebração, Saramago deixará um equipamento que dará apoio à população e aos milhares de turistas que visitam a Azinhaga por ano.

DN, 31-5-2008
 
Ministro saúda reconciliação

Fundação Saramago na Casa dos Bicos

Pinto Ribeiro homenageou José Saramago durante assinatura do acordo

O ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, saudou ontem o que descreveu como uma "reconciliação" entre José Saramago e Portugal. "Uma palavra de homenagem a José Saramago e à reconciliação de José Saramago com esta pátria que ele soube fazer voar mais através do que ele escreveu e que se vem reconciliando com ele", afirmou Pinto Ribeiro, segundo a Lusa.

Estas palavras do ministro da Cultura foram proferidas durante a assinatura do acordo entre a Câmara de Lisboa e a Fundação José Saramago que visa a cedência da Casa dos Bicosa esta instituição. A decisãofoi aprovada em reunião do executivo municipal com os votos contra do PSD e do movimento Lisboa com Carmona.

"A mim amam-me muito neste país, mas também me odeiam bastante", afirmou o escritor José Saramago, acrescentando que foi precisa "muita coragem" do presidente da Câmara, António Costa, para avançar com a proposta de ceder a Casa dos Bicos à fundação. Para o prémio Nobel da Literatura, a votação da proposta em reunião de Câmara foi "óptima", porque "em lugar de uma falsa unanimidade, as pessoas foram francas". Saramago aludiu, sem contudo nomear, os vereadores que as proferiram, a afirmações feitas durante a reunião, nomeadamente do vereador do movimento Lisboa com Carmona Pedro Feist, que disse não serem conhecidas iniciativas da fundação.

No início da intervenção, o escritor referiu-se à comparação que o vereador José Manuel Ramos, do mesmo movimento, fez da Casa dos Bicos como representando os "bifes do lombo" da autarquia, sugerindo que fosse cedido um edifício que correspondesse aos "da vazia ou alcatra". "Depois de algumas consultas a pessoas entendidas em comércio de carnes, posso assegurar-vos que a Casa dos Bicos não é um bife do lombo", disse Saramago. António Costa, que quarta-feira se referiu à "mesquinhez da direita portuguesa" para justificar algumas objecções à cedência levantadas durante a reunião, afirmou que não há que temer as homenagens. LUSA

DN, 18-7-2008
 
A CASA DOS BICOS, JOSÉ SARAMAGO E A 'RECONCILIAÇÃO'

Eurico de Barros
jornalista

Nasci em Lisboa e aqui me criei, aqui vivo e trabalho, e é aqui que espero morrer. Sou lisboeta de casca e gema, alfacinha de quintal das traseiras de prédio. Gosto da minha cidade, mesmo quando a vejo ser maltratada por quem nasceu ou vive nela, por aqueles que a visitam ou por quem a governa. Por isso, fez-me muita impressão, como lisboeta e munícipe, que a Câmara Municipal de Lisboa tenha cedido a Casa dos Bicos, um dos monumentos nacionais da cidade, a uma instituição privada, no caso a Fundação José Saramago.

Mas podia ser qualquer outra, tanto faz. Trata- -se de uma questão de princípio: não é legítimo nem correcto ceder monumentos nacionais a entidades particulares, por mais nobre, iluminado ou "de agitação" que seja o uso que estas lhes queiram dar. A Câmara Municipal de Lisboa, tal como qualquer outra autarquia portuguesa, não deve, não pode, pôr e dispor com uma tal ligeireza dos edifícios de relevância histórica, valor arquitectónico e interesse nacional que estão sob a sua alçada. A ser alguma coisa que não o espaço de serviços camarários que é agora, a Casa dos Bicos devia ser um local vivo, de animação e cultura - mas sempre público.

Não contente com este acto, que abre um lamentável precedente em termos de utilização do património municipal e nacional, a falida autarquia lisboeta, que não tem dinheiro para mandar cantar um cego, é que vai financiar as obras de adaptação da Casa dos Bicos às suas novas funções.

António Costa disse que "os custos serão diminutos", uma frase que os políticos gostam muito de usar quando é o dinheiro dos contribuintes que está em causa. A descontracção com que em Portugal o poder, seja governamental seja autárquico, deita o gadanho à coisa pública e ao dinheiro dos cidadãos é pouco menos do que obscena. E quando o poder é socialista, então nem se fala.

Falando agora como cidadão e português, também estranhei as palavras do ministro da Cultura, quando disse, na cerimónia do acordo entre a Câmara e a Fundação José Saramago para a cedência da Casa dos Bicos, que este constitui uma "reconciliação" entre o escritor e Portugal.

Confesso que não sabia que a pátria estava desavinda com o autor de Memorial do Convento. José Saramago foi viver para Espanha porque assim decidiu (admito que magoado e ofendido por um triste acto censório de um governante desclassificado), não por ter sido posto na fronteira por uma multidão ululante, acicatada pelas autoridades.

Em entrevistas ou artigos, Saramago fala do que acha estar mal em Portugal e com os portugueses, e nunca foi nenhuma delegação a Espanha fazer-lhe uma manifestação de protesto à porta de casa e apedrejar-lhe as janelas . E sempre que aqui vem, é festejado e elogiado, nunca o vi ser insultado ou destratado. Até lhe fizeram uma exposição no Palácio da Ajuda, coisa a que mais nenhum outro escritor português, vivo ou morto, teve direito.

Pinto Ribeiro foi tão despropositado na escolha das palavras como António Costa foi infeliz a dispor de um monumento nacional. Em ambos os casos, para a mesma pessoa.

DN, 19-7-2008
 
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