27 junho, 2008

 

Ser


português




http://ditosecontos.blogspot.com/2006/07/ser-portugus.html

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ATÉ DAQUI A NADA OU DEPOIS

Pedro Lomba
jurista
pedro.lomba@eui.eu

Sempre ouvi dizer que os povos são o que comem. Acrescento que os povos também são o que falam, como falam e, sobretudo, a maneira como se saúdam. Uma simples saudação pode ser um indicador mais expressivo da identidade de um país do que milhentas sondagens. Há uma passagem na Bíblia em que Lucas comenta o tempo que os árabes educados perdiam em cumprimentos porque perguntavam sobre a saúde, a casa e o dinheiro. Já para não falar dos gestos: cada povo diz "Bom dia" com toda uma retórica, física e verbal, peculiar.

A cultura está nos detalhes. Por exemplo: os italianos dizem sempre em festa "Ciao" quando se encontram e "Ciao" quando se despedem. Tem tudo a ver com uma cultura de sociabilidade e espectáculo. Para eles, é sempre reconfortante encontrar uma pessoa. Mas não é menos quando se separam. As despedidas nunca são uma tragédia para os italianos mas oportunidades para novos encontros e novas saudações.

Nós, portugueses, somos um povo mentiroso porque avançamos com um "Olá" à partida mas fechamos com um ambíguo "Até logo" ou "Até depois". Em 80% dos casos não iremos rever a pessoa nos seis meses a seguir ou nunca mais. Mesmo assim aí vai um "Até logo" ou, numa versão mais absurda de mentira, um "Até já". Nunca soube até quando é este "Até já". Voltamos a ver-nos daqui a bocado ou deixamos de nos pôr a vista em cima uns dois anos?

Além de mentirosos, os portugueses são compassivos. Quando dizemos "Até logo" ou "Até daqui a pouco" também queremos dar esperança àqueles de quem nos estamos a despedir. Como se disséssemos: "Não te preocupes que isto são só umas horas." O português tem um pudor, um excesso de zelo, uma réstia última de humanidade que o previne sempre de agredir o outro. Sim, pode ser que nos reencontremos daqui a nada. Pode ser mais cedo do que tarde. E pode ser que caia um trovão sobre isto tudo e ninguém veja mais ninguém.

Povos triunfantes como os anglo-saxónicos fazem exactamente o oposto. Verdade que existe logo um satisfeito e abreviado "Hi" só para distender a plebe. O problema é que tudo acaba com um "See you" ou um "Take care" que não deixa dúvidas sobre o individualismo destes povos. Quando um amigo inglês me diz "Take care", fico sempre a achar que se eu um dia acabar cego e surdo ele vai dizer que bem me avisou que tomasse cuidado.

Finalmente, franceses e italianos têm duas expressões de que gosto muito: "Bonne journée" e "Buona giornata". Nós, portugueses, não temos disto. Se alguém em Portugal disser "boa jornada", o outro vai pensar que estamos a falar do Benfica. Isto deve ter a ver com a nossa atitude em relação ao trabalho. Se nunca dizemos "boa jornada", é porque sabemos que a jornada não vai ser boa. Ao menos nisso não vendemos ilusões.

DN, 29-5-2008
 
Portugueses em risco de exclusão financeira

Portugal é um dos países da Europa com maiores riscos de exclusão financeira de pessoas em situação de pobreza ou exclusão social, segundo um estudo apresentado hoje pela Comissão Europeia, em Bruxelas.

O estudo "Prestação de Serviços Financeiros e Prevenção da Exclusão Financeira", da Comissão Europeia, tem como objectivo "identificar e analisar as medidas políticas mais eficazes para prevenir a exclusão financeira de pessoas em situação de pobreza ou exclusão social".

Os dados apresentados para sustentar as conclusões de Bruxelas são de 2003 e indicam que 17% dos portugueses não tinha uma conta bancária de depósito à ordem ou outra, ou qualquer relação com serviços financeiros.

Fonte comunitária revelou à Lusa que os dados de 2003 foram utilizados porque "são os últimos disponíveis", com a equipa que realizou a análise a acreditar que "continuam globalmente" a retratar a situação nos Estados membros.

Mas a verdade é que, em Portugal, alguns bancos garantem já "serviços bancários mínimos", não podendo recusar-se, por exemplo, a abrir uma conta mesmo a quem vive em situação de pobreza.

Entre os 15 Estados membros que pertenciam à União Europeia antes do último alargamento aos países menos desenvolvidos da Europa Central e de Leste, apenas a Grécia está em pior posição com 28% de excluídos de qualquer relação com serviços financeiros. A seguir a Portugal estão a Itália com 16%, Irlanda (12%), Espanha (8%), para uma média da UE-15 de 7%. A percentagem média nos 10 países que aderiram em 2004 era de 34%.

Os resultados do estudo foram examinados numa conferência ontem, em Bruxelas, com representantes do sector financeiro, de grupos de consumidores, do sector público e organizações não governamentais.

A iniciativa inscreve-se na análise em curso do mercado único europeu, tendo a Comissão já manifestado a sua intenção de fazer aprovar legislação que proíba às instituições financeiras recusar a abertura de contas à ordem.

"O acesso aos serviços financeiros tornou-se numa condição necessária para a participação na vida económica e social", defende a Comissão Europeia.

"A exclusão financeira está intimamente associada à exclusão social", refere o estudo, que acrescenta que "normalmente, o acesso aos serviços financeiros é negado às pessoas pobres ou socialmente excluídas".

"A falta de acesso a serviços financeiros reforça o risco de exclusão social", conclui o estudo apresentado ontem.

DN, 29-5-2008
 
A APATIA DA FORTE GENTE

João César das Neves
professor universitário
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

A economia portuguesa é uma das mais flexíveis e dinâmicas do mundo. Esta frase, hoje tão controversa e quase contraditória, permanece indiscutivelmente verdadeira. As provas são fáceis de apresentar.

Portugal tem sido um sucesso notável de desenvolvimento registando, no produto por habitante em paridades de poder de conta, a oitava taxa de crescimento mais elevada do mundo na média de 1960 a 2001. Só sete países no planeta melhoraram mais que nós na segunda metade do século XX. Na União Europeia, o "bom aluno luso" ainda é exemplo: mantém-se como uma das economias pobres que mais se desenvolveu nos primeiros três anos após a adesão, só atrás dos três bálticos e Eslováquia. Além disso, nos 20 anos de 1980 a 2001, tivemos a taxa de desemprego mais baixa da Europa do Sul e a terceira mais baixa dos Doze da UE.

Outros sinais são claros. O nosso país permanece a única economia mundial onde um plano de estabilização do FMI correu bem. Aliás, por duas vezes, em 1977 e 1983. Em ambos os casos, a austeridade funcionou rapidamente, resolvendo o desequilíbrio em menos de três anos. Na sequência, conseguimos ser um dos poucos países a viver 13 anos no sistema cambial de crawling-peg, mecanismo que conta mais fiascos que sucessos na sua história. É precisa muita flexibilidade para sustentar a rigidez dessa disciplina.

Também os importantes fluxos migratórios, característica histórica hoje renovada, são sintomas dolorosos do mesmo dinamismo e flexibilidade. A enorme emigração lusa dos anos 50 e 60 bateu recordes mundiais, com valores só ultrapassáveis por casos de catástrofes naturais. Por outro lado, os episódios de imigração, quer no regresso dos "retornados" em 1975 quer desde a viragem do milénio também são fenómenos em escala incomparável, absorvidos na sociedade com custos elevados mas sem perturbações de maior. Até algumas das chamadas "chagas", como a precariedade do emprego e economia paralela, são evidentes sinais de flexibilidade.

Muitas outras provas poderiam ser aduzidas para substanciar a afirmação. Ela sente-se na recente e incrível transformação estrutural no produto, emprego e comércio externo. Em 35 anos absorvemos 40% da população activa, que estava na agricultura em 1950. Em 15 anos substituímos 20% das nossas exportações, que em 1990 eram têxteis. Hoje as mudanças continuam evidentes, com o crescimento dos serviços e o aparecimento de novos sectores. Se é assim, porque estamos em crise há tanto tempo?

Existe uma serpente neste paraíso, uma Dalila para este Sansão, uma kryptopnite deste Superman. O País que fundou o mais longo e vasto império colonial da História, que defrontou com sucesso a EFTA, a CEE e o mercado único, conhece bem o veneno que corroeu os sucessos iniciais nessas realizações. Não é difícil compreender porque os dois trunfos do nosso desenvolvimento, flexibilidade e improvisação, não têm hoje os resultados de outros tempos. Contra eles conspiram múltiplas forças paralisadoras, as mesmas que nos bloquearam no passado. Enorme camada de parasitas suga o progresso.

Os portugueses, que se excedem nos momentos de dificuldade, costumam cair numa modorra quando tudo corre bem. Após o obstáculo, onde revelámos o nosso melhor, deslizamos para a complacência e cumplicidade, pela instalação dos interesses, bloqueio das corporações, paralisação das burocracias. A economia portuguesa continua tão dinâmica e flexível como sempre. A globalização impõe hoje, como no passado, uma reestruturação, que se verifica. Mas muito lentamente. O motor está atrelado a um peso morto que tem de arrastar: regulamentos e portarias, burocratas e mandarins, impostos e multas, fiscais e inspectores, directivas e diuturnidades, direitos adquiridos e justas reivindicações.

Nos reinado de D. Fernando, D. João III e D. João V, nos consulados do Duque de Loulé, António José de Almeida e desde António Guterres, "um fraco rei faz fraca a forte gente" (Os Lusíadas III, 138). Porque a forte gente se deixou adormecer na apatia das repartições.

DN, 2-6-2008
 
- Levar arroz de frango para a praia.
- Guardar aquelas cuecas velhas, para polir o carro.
- Ter o colete reflector no banco do passageiro.
- Lavar o carro na rua, ao domingo.
- Ter pelo menos duas camisas traficadas da Lacoste e uma da Tommy (de cor amarelo-canário e azul-cueca).
- Passar o domingo no shopping.
- No restaurante, largar o puto de 4 anos aos berros e a correr como um louco, a incomodar os restantes Tugas.
- Tirar a cera dos ouvidos com a chave do carro ou com a tampa da esferográfica.
- Receber visitas e ir logo mostrar a casa toda.
- Enfeitar as estantes da sala com as prendas do casamento.
- Exigir que lhe chamem 'Doutor'.
- Exigir que o tratem por Sr. Engenheiro.
- Axaxinar o Portuguex ao eskrever.
- Gastar 50 mil euros no Mercedes C220 cdi, mas não comprar o kit mãos-livres, porque 'é caro'.
- Já ter 'ido à bruxa'.
- Filhos baptizados e de catecismo na mão, mas nunca pôr os pés na igreja.
- Não ser racista, mas abrir uma excepção com os ciganos.
- Ir de carro para todo o lado, aconteça o que acontecer, e, pelo menos, a 500 metros de casa.
- Dar os máximos durante 10 km, para avisar os outros condutores da polícia adiante.
- Conduzir sempre pela faixa da esquerda da auto-estrada (a da direita é para os camiões).
- Cometer 3 infracções ao código da estrada, por quilómetro percorrido!!!
- Ter três telemóveis.
- Gastar uma fortuna no telemóvel mas pensar duas vezes antes de ir ao dentista.
- Ir à bola, comprar 'prá geral' e saltar 'prá central'.
- Gravar os 'donos da bola'.
- Ter diariamente, pelo menos 8 telenovelas brasileiras e 2 imitações rascas da TVI na televisão.
- Ser mal atendido num serviço, ficar lixado da vida, mas não reclamar por escrito 'porque não se quer aborrecer'.
- Criticar o governo local, mas jamais se queixar oficialmente.
- Falar mal do Governo eleito e esquecer-se que votou nele.

de um mail que anda por aí...
 
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas...'

Guerra Junqueiro escrito em 1886
 
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