18 junho, 2008

 

Tesouros


perdidos e achados




http://videos.sapo.pt/HMnYWmReZ3w8Z0K5OK7j

Comments:
A descoberta de um navio que pode ser português na costa dos Esqueletos, da Namíbia, devia ser um assunto muito importante para Portugal. Já. A história dos descobrimentos é a mais importante contribuição portuguesa para o mundo. Ainda mais, para o mundo como hoje o conhecemos, global, sem fronteiras.

O achado ainda não foi inventariado, ainda não se tem a certeza se o navio é ou não português - embora seja cada vez mais longínqua a possibilidade de ser espanhol, neste local frequente na rota das Índias portuguesa. Mas não devemos esperar um contacto da empresa que fez a descoberta, uma vulgar prospectora de diamantes, nem tão-pouco que o Governo namibiano ou sul- -africano o façam (embora digam que já o fizeram). É destes pedaços de história viva que se faz a alma de um país.

A Espanha está a lutar com unhas e dentes pelo tesouro do barco Nossa Senhora das Mercedes, encontrado por uma companhia americana no Atlântico, perto da costa portuguesa. O caso tornou-se um imbróglio legal internacional. Mas a Espanha não desarma.

Num país que não tem um museu para celebrar a parte mais importante da nossa história, talvez um achado destes pudesse reavivar a questão. Lembrando que esta história em que fomos grandes não está só nos livros. Foi feita de carne e osso. E hoje restam dela madeira velha e ouro antigo.

DN, 5-5-2008
 
"A descoberta deste barco é um 'jackpot'"

CATARINA CARVALHO

"Ainda não recebi nenhum contacto de Portugal!" O sul-africano Dieter Noli está surpreendido com a falta de interesse para com a descoberta mais emocionante da sua vida de arqueólgo: numa exploração de diamantes no mar a sudoeste da Namíbia foi encontrado um barco com mais de 500 anos. Possivelmente, será uma nau portuguesa.

Noli tem-se desdobrado em entrevistas para todo o mundo desde que a notícia estourou. Trabalha como consultor da De Beers, empresa que fez o achado, já considerado a descoberta arqueológica mais importante dos últimos tempos. Ao DN diz que vai agora partir para a análise do que foi recolhido, um "trabalho de detective". E uma vinda a Portugal pode ajudar a perceber que barco era este. "Um navio com um tesouro destes não pode não ter registo", diz.

Os homens da De Beers estão habituados a encontrar preciosidades no mar em frente ao deserto da Namíbia. Diamantes raros que foram arrastados para ali, com o tempo. Esta costa é conhecida no país como a "zona proibida" - ali ninguém circula sem autorização da Namdeb, o braço namibiano da De Beers. No dia 1 de Abril, a De Beers voltou a encontrar um tesouro, mas este não brilhava. A 200 metros da praia, 12 quilómetros a norte de Oranjemund, o geólogo Bob Burrell embateu num objecto diferente. Era um canhão de ferro e cobre enferrujado. Depois vieram lingotes de cobre, moldados em semiesfera. E armas - uma caixa de espadas, mosquetes, e mais de dez canhões de cinco estilos diferentes.

"Um jackpot!", como diz Noli, que foi imediatamente chamado ao local. Num só dia encontrou 2500 moedas antigas, portuguesas e espanholas.

A exploração dos diamantes na costa da Namíbia é feita com a construção de paredes de 30 metros formando uma cova de areia no meio do mar. "As fotografias que tirámos depois da descoberta são sete metros abaixo do nível do mar", explica Noli. Isto favorece o trabalho arqueológico numa costa onde se julga terem afundado muitos barcos (é por isso que a De Beers tem um arqueólogo marítimo a trabalhar para a empresa). "Há muito tempo que lhes dizia: 'mais cedo ou mais tarde vão encontrar um navio afundado. Isto era aquilo por que eu estava à espera nos últimos 20 anos", diz Noli.

Este navio, por exemplo, só tinha astrolábios rudimentares, que indicam apenas o Norte e o Sul.Podia afundar-se rapidamente com uma oscilação da carga brutal que levava. O barco não está intacto, a madeira tem marcas de bicho e havia pedaços de ferro fundido a juntar peças - o que indica que era velho. Mas é um tesouro. Os arqueólogos encontraram 2500 moedas de outro portuguesas e espanholas, 50 dentes de elefante, astrolábios e metais preciosos. Seis toneladas de cobre e outros metais ainda não completamente identificados. E também ossos humanos. Dois quase intactos e uma série de dedos de pé ainda agarrados a uma sola de sapato.

Podemos nunca saber de quem eram, mas, segundo Noli, "estes homens eram mais descobridores do que comerciantes". Ou seja, do início das descobertas que Portugal empreendeu, tendo passado por esta costa logo em finais do séc. XV, e no século seguinte fazendo dela uma rota frequente para a Índia.

DN, 5-5-2008
 
Naus portuguesas são alvo fácil de caça-tesouros

LEONOR FIGUEIREDO

A nau encontrada recentemente na Namíbia e que se crê seja portuguesa é apenas mais uma de um grupo de cerca de 30, da época das Descobertas, que têm sido identificadas e cuja maioria é destruída e roubada pelos caçadores de tesouros.

"Portugal não pode continuar com a inércia que lhe é habitual. Destas 30 naus, só uma, a N.ª S.ª dos Mártires, em São Julião da Barra, é que foi escavada por arqueólogos portugueses. Ao contrário, os espanhóis requereram para si os navios e não admitem que os caçadores de tesouros lhes toquem. Têm posto processos em tribunal, já ganharam por duas vezes, como aconteceu com o Juno e o Galga, ambos do século XVIII", revela, ao DN, Filipe Vieira de Castro, professor de arqueologia marítima numa universidade do Texas e especialista em navios dos séculos XVI e XVII. O especialista acha estranho que o Governo português não tenha assinado o acordo bilateral que os EUA puseram à disposição dos países para protecção do seu património.

Segundo Filipe Vieira de Castro, a nau encontrada não deve correr perigo: nesta operação, a decorrer na costa namibiana, estão envolvidos "especialistas de óptima qualidade técnica".

Como o 'space shuttle'

A nau encontrada na costa da Namíbia numa prospecção da empresa de diamantes De Beers que Filipe Vieira de Castro acredita ser do período entre o final do século XV até 1540, tem uma tecnologia que, em soud byte, pode ser comparada à dos actuais Space Shuttle. "Nesta altura, as naus seguiam de Lisboa até Cochim, por exemplo, muitas vezes sem porem o pé em terra. Levavam 400 pessoas, comida e água para todos. Eram naus extraordinariamente estáveis, resistentes, capazes e velozes", explica o especialista. Uma nau deste tipo é sinónimo "de uma construção naval fantástica detida pelos portugueses da altura".

E a nau da Namíbia devia, em sua opinião, seguir para a Índia. "Os lingotes de cobre costumavam ser trocados por pimenta. E as presas de elefante podiam ter sido levadas de Lisboa para serem trabalhadas na Índia, ou o navio podia ter passado por Cabo Verde, onde havia um grande entreposto." Opinião contrária tem o historiador e também especialista em naus, Francisco Contente Domingues. Embora ainda esteja renitente em fazer declarações, face aos poucos dados revelados, considera que a nau regressava da Índia. "Para ter naufragado ali, só podia vir da Índia, porque os barcos que iam para lá não tomavam aquela rota."

Quanto à presença das moedas espanholas e portuguesas "costumavam seguir para a Índia para pagar a pimenta, mas podiam neste caso pertencer aos grandes dignatários do Oriente que nestas viagens traziam as suas fortunas". Independentemente do sentido desta nau da Carreira da Índia, o historiador também classifica este achado como "verdadeiramente extraordinário".

DN, 5-5-2008
 
Portugal pondera enviar missão à Namíbia para responder a apelo

LEONOR FIGUEIREDO

Primeiro sinal do pedido namibiano só chegou ontem ao ministério

O Ministério da Cultura está a analisar a proposta que recebeu através de via diplomática, para que uma missão de especialistas portugueses possa deslocar-se à Namíbia para fazer uma primeira análise do navio do século XVI ali encontrado e que se presume seja português.

"A informação chegou hoje [ontem] via Ministério dos Negócios Estrangeiros. O arqueólogo Dieter Noli contactou a nossa embaixada na Cidade do Cabo para requerer às autoridades portuguesas colaboração no estudo do achado e na futura instalação na Namíbia do que for encontrado", disse, ao DN, o subdirector do Igespar, João Pedro Cunha Ribeiro.

O responsável adiantou ao DN que agora "é preciso ponderar o tipo de resposta que se vai dar e enveredar esforços para que se possa deslocar à Namíbia uma embaixada portuguesa". João Pedro Cunha Ribeiro mostrou-se satisfeito por este contacto da equipa que está a trabalhar no local do achado, "porque significa que o Governo namibiano está a acompanhar o processo e portanto o navio não está entregue a caçadores de tesouros". O arqueólogo sul-africano Dieter Noli é, desde 1996, consultor da empresa Namdeb, que encontrou o navio em Abril enquanto procurava diamantes.

O desafio colocado ao Ministério da Cultura é entusiasmante. "No nosso ministério quem terá de responder é a Divisão de Arqueologia Náutica e Subaquática. Primeiro temos de contactar os arqueólogos para saber quando e como querem a nossa colaboração. É verdade que temos um excelente conhecimento da História da Expansão naquela zona e um know-how a oferecer com bons conhecimentos sobre arquitectura naval portuguesa e a História dos Descobrimentos", afirma João Pedro Cunha Ribeiro.

À pergunta sobre a existência de verbas para a deslocação de portugueses, o subdirector disse que "isto é uma necessidade nacional e penso que o ministério e o Igespar encontrarão os meios necessários. Vamos ver como e em que circunstâncias. Mas temos de assumir as nossas responsabilidades históricas".

DN, 9-5-2008
 
Se o navio for português os seus tesouros são nossos

LEONOR FIGUEIREDO

Portugal e Namíbia devem fazer um acordo sobre navio

Se o navio do século XVI encontrado na costa da Namíbia em Abril for português, como tudo leva a crer, não perdeu a soberania nacional quando naufragou, podendo Portugal reclamar o que é seu, se assim o desejar, de acordo com as boas práticas da arqueologia subaquática.

Esta é a opinião de José Luís Bonifácio Ramos, docente da Faculdade de Direito de Lisboa, que completou, em Dezembro, a sua tese de doutoramento, precisamente sobre a defesa do património cultural subaquático.

"Na altura do naufrágio, se o navio era português, continua hoje a ser português. A imunidade da salvaguarda do Estado é igual porque durante o naufrágio não houve perda da sua titularidade. Mas insisto em que primeiro é preciso saber se o navio é de facto português. Se for português e se se tratar de um navio de Estado ou de guerra, então pode considerar--se que os despojos devem pertencer ao nosso país", explica ao DN José Luís Bonifácio Ramos, citando a mais recente disposição sobre a matéria. A confirmação de se tratar de uma nau pertencente à Carreira da Índia torna claro, em sua opinião, "que o navio é simultaneamente de Estado e de guerra".

Portugal tem de agir

Para já, defende o jurista, "Portugal terá de assinar um acordo com a Namíbia". E este país africano não pode escudar-se na legislação que tem citado na imprensa internacional, segundo a qual o navio lhes pertence por estar há mais de 35 anos nas suas águas territoriais.

"Embora Portugal tenha ratificado a Convenção da UNESCO de 2001 e a Namíbia não, esse facto não impede que se sigam as boas práticas acordadas antes da elaboração da convenção" revela, ao DN, o especialista na matéria. A convenção não está não entrou em vigor porque só o fará quando for assinada por um mínimo de 25 países.

Estas questões começaram a ter pertinência a partir dos anos 70 e 80 do século XX, quando a tecnologia permitiu descer a maiores profundidades e começaram a aparecer cada vez mais navios, tendo-se concluído que a maior parte dos despojos destes navios antigos se encontravam em estados terceiros.

Inércia e inacção

O advogado, que tem acompanhado alguns dos últimos casos que têm a ver com o nosso País, considera que o problema do governo português é a inércia.

"Na área da Cultura Portugal nunca fez nada em relação aos acordos entre estados. Temos um passado de inércia e de verdadeira inacção. Os Estados Unidos e a França têm acordos, até a Holanda os tem com a Austrália, mas Portugal nunca promoveu qualquer acordo", precisa o advogado.

Em sua opinião a Namíbia não deve prosseguir com o levantamento dos despojos do navio encontrado em Abril passado.

"Os arqueólogos que se encontram a trabalhar para a empresa não deviam ter tocado nos despojos. E não devem prosseguir com o levantamento do navio. Os acordos entre países são bem claros: os dois países interessados têm de acompanhar esse levantamento. Quanto mais não seja para depois se concluir que pode haver interesse em que os despojos continuem preservados no meio subaquático."

DN, 10-5-2008
 
DE QUEM SÃO OS TESOUROS DO MAR?

LEONOR FIGUEIREDO

Legalidade. A Arqueonautas, que se legalizou em Portugal quando a lei proporcionava a caça ao tesouro, transferiu-se para paragens africanas, quando a legislação mudou durante o Governo de Guterres. Mas aqui estão as raízes, membros associados e a sede da empresa gerida por um conde alemão

Caça-tesouros em Portugal são legais em África

O que é um caçador de tesouros? Até uma criança sabe. Basta-lhe ler uns quantos livros de banda desenhada e ver alguns filmes. A realidade não é assim tão diferente do imaginário infantil. Os caçadores de tesouros existem e andam em busca de preciosidades que jazem esquecidas no fundo do mar.

O património luso espalhado por esses oceanos fora, testemunhas do pioneirismo durante a expansão, tem sido a partir da década de 50 do século XX, alvo de apetites vorazes, com o início do uso do escafandro autónomo - e mais tarde impulsionado nos anos 70 e 80 com tecnologia mais sofisticada.

Quando, há semanas, noticiámos e desenvolvemos a descoberta de restos de um navio do século XVI, muito provavelmente português, na Namíbia, [cujo desenvolvimento continua, estranhamente por decidir, no Ministério dos Negócios Estrangeiros ], revelámos que dezenas dos nossos antigos navios têm sido mexidos e os recheios leiloados ou vendidos a museus estrangeiros.

Associados de peso

Nesse contexto surgiu o nome de uma empresa sedeada em Portugal, a ArqueonautasWorldWide Arqueologia Subaquática, SA, alvo de algumas contestações, cujo administrador entrevistamos na página ao lado.

Nascida em 1995, a empresa tem hoje associados, entre os nacionais, nomes conhecidos como Francisco Pinto Balsemão, José Manuel Espírito Santo, Henrique Granadeiro, Ricardo Espírito Santo Salgado, José Manuel de Mello, Augusto de Athayde e Ernâni Lopes.

Não terá sido pelo lucro que estes nomes se juntaram, já que, como assume Nikolaus Sandizell, a Arqueonautas, apesar de existir há 13 anos, ainda não começou a dar dinheiro.

Perante a lei portuguesa, a empresa funciona como caça-tesouros, tendo sido impedida de trabalhar em Portugal quando, em meados dos anos 90, o ministro Manuel Maria Carrilho contrariou totalmente a legislação que tinha sido aprovada anteriormente durante a passagem de Santana Lopes pela Secretaria de Estado da Cultura.

As duas faces da moeda

A mesma acusação não pode ser feita à Arqueonautas quando actua em Moçambique e Cabo Verde, países não subscritores da Convenção da UNES-CO de 2001, que determina princípios éticos sobre este património. É como uma face de duas moedas de leituras completamente distintas.

Por outro lado, Portugal tem assumido ao longo do tempo uma atitude passiva face ao que tem acontecido com os seus antigos navios, muito diferente da tomada pelos espanhóis, que não hesitaram em colocar em tribunal um dos poderosos caça-tesouros do mundo, a empresa Odyssey, para defender o património dos seus navios naufragados, tendo ganho acções em várias instâncias, nos tribunais norte- -americanos.

A legislação portuguesa costeira surgiu em 1997, antes mesmo da Unesco ter lançado a Convenção sobre a Protecção do Património Cultural Subaquático, que Portugal ratificou, mas que para entrar em vigor necessita de mais três países aderentes para chegar a um mínimo de 20 subscritores. O 17.º país a concordar com os termos da convenção foi Cuba que assinou o documento há poucas semanas.

O agravamento da caça ao tesouro levou a que o Conselho da Europa mandasse estudar o fenómeno nos anos 80, tendo daí resultado o famoso Relatório Roper que concluiu, nessa altura, estarmos perante uma catástrofe ao nível da arqueologia subaquática ilegal.

Legalmente, a Arqueonautas tem feito escavações em Moçambique, em navios portugueses que ali naufragaram. A bordo do Indian Ocean Explorer segue uma tripulação de sete membros e 12 especialistas, segundo informou a Arqueonautas, numa equipa composta por arqueólogos subaquáticos, classificadores e desenhadores. O arqueólogo responsável é o cubano Alejandro Mirabal.

DN, 24-6-2008
 
NOSSAS NAUS E AS LEIS DELES

LEONOR FIGUEIREDO

Tesouros do mar. O património cultural subaquático não deve ser explorado comercialmente. É o que diz, desde 2001, a Convenção da UNESCO para a sua protecção. Que por enquanto não está em vigor. Portanto, quem se dedica a retirar
do fundo do mar pequenos e grandes tesouros para serem leiloados, independentemente da sua origem tem toda a cobertura legal. E tem lucros que divide com os Governos desses países africanos

Património luso em Moçambique e Cabo Verde tem sido leiloado

A Arqueonautas WorldWide - Arqueologia Subaquática, SA, empresa sedeada no Estoril e registada na zona franca da Madeira, encontrou 20 navios portugueses dos séculos XVI a XIX, dois naufragados em Cabo Verde e 18 em Moçambique. Parte do espólio que lhe coube das escavações efectuadas em cinco deles foi comercializada, com o consentimento dos respectivos governos.

Destes navios, só o São José, de 1622, estava "razoavelmente intacto", diz ao DN o administrador da empresa, Nikolaus Sandizell. Uns tinham sido pilhados, "severamente", em outros ficaram vestígios "muito escassos". Garante-nos ter observado 15 navios "sem intrusão". O grande trabalho da Arqueonautas consistiu em escavar cinco, dos quais três estão quase concluídos, diz um relatório cedido ao DN.

Há nove anos que a empresa renova contratos com Moçambique. O último assinado vigorará até 2010. Em exclusivo tem 700 quilómetros de costa, para percorrer a bordo do Indian Ocean Explorer, munido de tecnologia avançada e uma equipa numerosa. Dos navios observados ou escavados, oito são do séc. XVI, oito do séc. XVII, dois do séc. XVIII e dois do séc. XIX.

Nikolaus Sandizell esteve primeiro em Cabo Verde, mas "a maioria dos 18 navios naufragados tinham sido roubados. E como o Atlântico é violento, muitas das peças estavam destruídas. Num navio do séc. XVIII havia 60 mil moedas, a maioria irreconhecível".

Ilha de Moçambique classificada

Dez dos navios referenciados estão junto à Ilha de Moçambique, classificada em 1991 pela UNESCO como Monumento do Património Cultural da Humanidade. Por isso, as escavações, embora oficiais, são vistas pelos arqueólogos como mais um atentado ao património da humanidade. Alegam que a Convenção para a Protecção do Património Cultural Subaquático de 2001, embora não ratificada por Moçambique, condena a exploração comercial dos achados.

Mas Moçambique é um país soberano. A sua lei é muito diferente da portuguesa. Enquanto cá os bens são "propriedade inalienável do Estado", aquele país divide este património entre "objectos únicos" (devem ficar no país) e "objectos repetidos" (podem ser vendidos, segundo o Conselho de Ministros).

O negócio da Arqueonautas não é visto com bons olhos. "Continuamos a pensar que a venda das peças no leilão da Holanda foi feita à margem da lei", escreviam Maura Quatorze e Machado da Graça na altura em que se leiloou achados do Forte de S. Sebastião.

Afugentar caçadores de tesouros

Estas arqueólogas queriam saber numa carta aberta publicada no Mediafax , relativamente ao projecto de recuperação da nau portuguesa que situavam junto as Inhambane, se "não estará o Governo português disposto a uma parceria nesse sentido? Mais uma vez gostaríamos de saber se algum esforço está a ser feito nesse sentido".

Também o arqueólogo moçambicano Ricar- do Teixeira Duarte disse ter sido afastado do seu projecto quando esta empresa chegou, queixando-se que "(...) assim traçou os destinos da nau portuguesa que durante séculos tinha sido conservada no fundo do mar e cujo espólio foi agora parar às mãos pri- vadas de meia dúzia de ricaços na Europa". Outras críticas visam a falta de fiscalização durante os dois primeiros anos em Moçambique e a ausência de formação para com os seus nacionais. Nikolaus Sandizell nega. "Temos connosco dez estudantes moçambicanos na conservação e documentação dos achados."

O conde alemão lembra que "quando chegámos à Ilha de Moçambique havia dois grupos de caçadores de tesouros, um húngaro e outro português. O Governo pediu-nos para corrermos com eles".

DN, 25-6-2008
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?