11 julho, 2008

 

Angola


Ontem, hoje e amanhã...


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Decreto n.º 40/2008, D.R. n.º 197, Série I de 2008-10-10
Ministério dos Negócios Estrangeiros
Aprova o Acordo entre a República Portuguesa e a República de Angola sobre Promoção e Protecção Recíproca de Investimentos, assinado em Luanda em 22 de Fevereiro de 2008

Comments:
'Aldeia Nova' vai espalhar-se por Angola

SILVA BARROS

Projecto. Objectivo é integração de desmobilizados e camponeses

Iniciativa nasceu há cinco anos e baseia-se no conceito de 'kibutz'

O projecto angolano "Aldeia Nova", uma parceria com entidades israelitas, e baseado no conceito do "kibutz", está a produzir robustos resultados na antiga bacia leiteira da Cela, nos arredores da cidade de Waku-Kungo (Santa Comba, no tempo colonial) e pode vir a espalhar-se pelo país, estando já no horizonte o seu decalque em Coles (Malange) e Kiminha (Bengo) e em estudo a possibilidade de vir a multiplicar-se pelas várias províncias de Angola.

A iniciativa nasceu há cinco anos, visando, num projecto-piloto, a criação de um pólo de desenvolvimento regional, capaz de combater a pobreza e de reintegrar socialmente os desmobilizados de guerra, e assentando no incremento da actividade agro-pecuária, com complemento industrial, aproveitando a degradada estrutura do antigo colonato da Cela, criado nos anos 50 pelo poder colonial, mas então com resultados decepcionantes, pelo desconhecimento do terreno, pelo afastamento dos camponeses locais e pelas dificuldades de escoamento da produção.

O Governo angolano recuperou casas e estruturas do antigo colonato e entregou a cada uma das 250 famílias envolvidas uma casa e um terreno de cerca de 30 hectares, pertencendo a gestão global do projecto a uma direcção, apoiada num centro de apoio logístico e crédito e de transformação e comercialização de produtos.

Em 2007, o projecto "Aldeia Nova", envolvendo agricultura, criação de animais, leiteiros e de abate, produção de leite e ovos, atingiu já números relevantes e conseguiu despertar a atenção de governos provinciais, prevendo-se que venha a estender-se a todo o país, com a criação de novos pólos em locais que estão a ser identificados e envolvendo cada um 200 a 300 famílias, desmobilizados e camponeses da zona, devendo o pólo de Kiminha, no Bengo, alargar-se a 500 famílias.

Cada família envolvida no conceito "Aldeia Nova" subscreve um contrato, de acordo com o qual se torna proprietária da casa e do terreno (32600 dólares) atribuídos, e que são pagos separadamente, a prazo e de forma suave.

Waku-Kungo (província do Kuanza Sul), situa-se a cerca de 400 quilómetros de Luanda e a 200 do Huambo e insere-se numa das mais belas regiões de Angola, situando-se num planalto, com clima favorável e terra fértil.

DN, 15-6-2008
 
Aos 100 anos, Fernando Batalha lança mais um livro sobre Angola

LEONOR FIGUEIREDO

Legado. Arquitecto continua a escrever sobre património desaparecido que os seus olhos testemunharam

Todos os dias, o arquitecto escreve para os livros que ainda lhe faltam publicar sobre património angolano
"Só queria viver até ao lançamento do meu próximo livro, Povoações Históricas de Angola", confessava, numa entrevista ao DN, em Julho de 2007, o arquitecto Fernando Batalha, uma personalidade muito conhecida em Angola, por ter sido o pioneiro do estudo e da preservação do património daquele país africano e a sua publicação sistemática ao longo de 50 anos.

O seu desejo concretizou-se. Pouco tempo depois de ter completado um século de existência, a obra, editada pelos Livros Horizonte, deu à estampa.

Mas o arquitecto, que continua a revelar uma lucidez espantosa, alerta-nos: "Ainda tenho seis originais para publicar!" Na verdade, Fernando Batalha prefere ignorar a sua idade, trabalhando diária e arduamente no escritório do seu apartamento, em Belém, de onde pode admirar o Tejo.

Quando está sozinho, escreve com a sua letra trémula para, no dia seguinte, a sua secretária decifrar num ápice e passar para o computador.

Fernando Batalha nasceu a 5 de Maio de 1908 no Redondo e fez o curso de Arquitectura na Escola de Belas Artes de Lisboa e mais tarde tirou Urbanismo em Paris. O seu curriculum, com dez páginas, também explica que ele dirigiu gabinetes de arquitectura e urbanismo em variadíssimos distritos de Angola e é autor de muitas dezenas de publicações e brochuras sobre etnografia, história, arqueologia e arquitectura.

Foi parar à antiga colónia africana portuguesa no primeiro cruzeiro de férias dos estudantes da metrópole às colónias, em 1935, com um director cultural, Marcello Caetano, que "mandava fazer muitas palestras e dissertações durante a viagem que durou várias semanas".

Angola ficou-lhe no coração. Só regressou a Portugal com 83 anos, depois de uma passagem pela Universidade de Luanda, onde leccionou a cadeira de Arquitectura. Quando voltou para Lisboa ,deixou em Angola "o inventário do património do novo país", fruto dos milhares de quilómetros percorridos naquele imenso território.

"Andei por todos os lugares onde se registou presença portuguesa. Confirmei ruínas desaparecidas, recolhi imensa informação. Fiz a lista completa daquilo que lá existe e do que existiu e os meus olhos testemunharam."

A sua longevidade proporcionou-lhe alguns encontros da História. Uma das personagens que conheceu foi o rei do Congo, D. Pedro VII, corria o ano de 1942. "Ele é que foi mostrar-me os escombros da primeira igreja portuguesa da cidade de São Salvador, erguida em 1491, onde actualmente fica o M'banza Congo", recorda-nos o arquitecto.

Com uma memória ainda em bom estado, não há dúvida que Fernando Batalha simboliza uma enciclopédia viva sobre a arquitectura e o património angolano. No escritório, uma estante cheia de plantas, esboços, projectos e dossiers muito antigos indicam nomes de cidades e povoações angolanas. São documentos que ele guarda para alimentar o texto dos livros que, como faz sempre questão de dizer, "ainda faltam editar".

DN, 29-6-2008
 
"Não vamos deixar de emitir, a não ser que mandem a polícia"

PATRÍCIA VIEGAS

O director da rádio Despertar falou sobre a ordem de suspensão ao DN

"Não vamos deixar de emitir, a não ser que mandem a polícia", declarou ao DN Alexandre Solombe Neto, actual director da rádio Despertar, acrescentando que enviou uma carta aos ministérios da Justiça e da Comunicação Social angolanos a contestar a notificação de suspensão que recebeu do Instituto das Comunicações Angolano (INACOM).

A notificação dizia que a estação, tida como próxima da UNITA, iria ser suspensa durante 180 dias por estar a cobrir uma área superior à autorizada pelo alvará, ou seja, Luanda. O documento, citado pela Lusa, refere que no Uíge, Norte de Angola, as emissões da Rádio Nacional de Angola estavam a sofrer interferências produzidas pelas da Despertar.

"O despacho não explica quando entra em vigor o período de suspensão e, por isso, estamos a emitir, enquanto esperamos resposta à carta", explicou Alexandre Solombe Neto, considerando curioso o facto de a rádio Ecclesia não ter sido visada, apesar de estar na mesma situação. "O INACOM faz favores ao Governo [que é dominado pelo MPLA]. Talvez eles não queiram arranjar uma guerra com a igreja [Católica]. Estamos numa situação de filhos e enteados."

Questionado sobre uma eventual leitura política desta decisão, diz que há uma coincidência entre ela e as declarações feitas pelo porta-voz do MPLA, Kwata Kanawa, o qual considerou "preocupante" a linha editorial seguida pela rádio Despertar.

A estação foi criada em 2006, na sequência dos acordos de paz, sendo a substituta natural da rádio que durante a guerra era o órgão oficial da UNITA de Jonas Savimbi. Mas ao contrário da Vorgan tem estatuto legal e carácter comercial.

"Isto é uma maneira de calar esta rádio durante o processo eleitoral [para as legislativas de Setembro]. Não porque ela apoia a UNITA. Mas porque dá espaço a todos os partidos e aos problemas das pessoas", afirmou ao DN Emanuel Lopes, secretário para a Informação da UNITA.

O director nacional de Informação do Ministério da Comunicação Social angolano, Luís de Matos, garantiu à Lusa que "não se trata de uma decisão política mas técnica". Ao DN o gabinete de imprensa da embaixada de Angola em Lisboa disse não haver, neste momento, "nada mais a acrescentar ao que foi dito".

DN, 14-7-2008
 
'RUMO AO CUNENE'

MARIA JOSÉ NOGUEIRA PINTO

Maria José Nogueira Pinto. Juntou-se a um grupo de portugueses e angolanos para percorrer terras africanas, regressando a um país onde viveu e aonde não regressara desde 1974. Foram 12 dias a conhecer gentes que falam português e a ver as belezas naturais de uma Angola que se esforça por esquecer a guerra
Junto-me ao 3.º Raid Todo Terreno Kwanza Sul, parto para Angola e durante 12 dias percorro oito províncias, integrada numa coluna de 17 viaturas, com 45 companheiros portugueses, angolanos e luso-angolanos faço quase 4 mil km por montes e vales, matas e florestas, desertos e praias, cidades e vilas, rios e lagoas. Tudo graças a um protocolo celebrado entre a Câmara de Almada e o Governo do Kwanza Sul. Ao longo destes dias vou-me imbuindo da cultura todo-o-terreno feita de disciplina, perícia, entre-ajuda e laços cúmplices que nos vão unindo.

Pela manhã de 31 de Maio partimos rumo ao Sumbe não sem antes entrarmos em directo no programa "Bom dia, Bom dia". Ditos e risos radiofónicos marcam a saída da capital a caminho da barra do Kwanza, onde almoçamos beneficiando de uma vista lindíssima, para depois entrar na Quiçama e seguir por Cabo Ledo em direção a Porto Amboim.

A paisagem é marcada pelos embondeiros, pelos cactos candelabros, pelas palmeiras e pelo capim que ao secar ganha uma tonalidade arroxeada. Vejo quimbos de casas de adobe disfarçadas na paisagem e gado que atravessa, displiscente, a estrada. Cruzamos o rio Longa, entramos na Província do Kwanza Sul e, pouco antes de chegar a Porto Amboim, avistamos as salinas, a baía e o porto. Depois passamos o rio Keve, que faz fronteira entre Porto Amboim e Sumbe, e atravessamos uma planície muito fértil que contrasta com os morros de terra vermelha. As mangueiras substituem agora os embondeiros. No Sumbe (ex Novo Redondo) aguarda-nos recepção com danças e cantos, muito povo e o Governador. Acolhem-nos com amizade e um bom jantar e vejo que, pela noite fora, centenas de jovens se passeiam pela marginal numa animada "movida"!

Na manhã seguinte partimos rumo a Benguela pela baía do Quicongo, onde dantes os navios portugueses faziam a "aguada", e pelos morros da Canjala, atravessando uma impressionante planície que é como que a transição para a paisagem já mais desértica que antecede a chegada ao Lobito. Daí seguimos para Benguela, via Catumbela. São duas cidades que impressionam pelo seu traçado largo, pelo seu plano urbanístico, os espaços verdes, décadas e décadas de boa arquitectura portuguesa e a qualidade dos edifícios oficiais. E há o Hotel Terminus - ex-líbris da Restinga do Lobito - ou o revivalismo nostálgico do melhor dos anos cinquenta na marginal de Benguela, tudo restaurado após a guerra.

Damos um salto à baía Farta, à praia da Macaca, à Calotinha e tomamos o primeiro banho no Atlântico Sul na belíssima baía Azul antes de enfrentarmos a que seria a mais dura prova todo-terreno do Raid.

Estamos a 3 de Junho e o dia começa quando iniciamos o percurso até ao Namibe pelo Dombe Grande, atravessando o rio Coporolo, Cimo, Lucira, o rio Carunjamba e, por fim, Bentiaba-Namibe, cruzando ainda os rios Giraul e Bero. É no Dombe Grande que vejo, sob árvores centenárias onde as galinhas debicam, a escola improvisada ao ar livre, a jovem professora em frente à lousa apoiada no tronco e as crianças, todas com a sua cadeira de plástico colorido, sentadas em filas para aprenderem, segurando o lápis e o caderno como bens preciosos. O sol infiltra-se pela folhagem das grandes copas e sopra uma promessa de futuro.

Seguimos por caminhos pedregosos. A paisagem é extraodinária e durante horas não se vê vivalma. Nada excepto as grandes cordilheiras, os cactos como postes de alguma electrificação esquecida, capim seco e ninhos de pássaros que não se pressentem nem se ouvem. Só graças à força das viaturas e à perícia dos pilotos podemos afoitar-nos por tais caminhos. É um percurso abrupto, com muita pedra, de solidão e silêncio, até que, já ao cair da tarde, vemos os primeiros animais, um grande número de babuínos pretos que aparecem no topo dos montes e iniciam a sua descida em busca de água, A passarada também acordou de uma longa sesta e aquele mundo, que parecia fantasma, anima-se misteriosamente. O contraste com a pequena vila piscatória de Lucira é um choque. Chegamos à praia quando na linha do horizonte as águas parecem engulir um sol imenso e vermelho. O dia chegava ao fim num poente de cacimbo recortando o casario, os barcos de pesca, as redes, as nossas próprias sombras.

No início da subida para a serra da Neve, assim chamada pela abundância de quartzo que parece geada, avistamos um pequeno quimbo com meia dúzia de cubatas, um sítio perdido no meio do nada, habitado por mucubais que se dedicam à pastorícia. Assim que a bola de futebol salta de uma das viaturas, o convívio está feito, aparecem jogadores voluntários e joga-se em português.

Entramos na cidade do Namibe (antiga Moçâmedes) exaustos, imundos, famintos e felizes. No dia seguinte descansamos nesta cidade de grandes portos e baías, com o seu comércio tradicional, pequenas leitarias com biscoitos caseiros iguais aos da minha avó, artesãos como o estofador, já velhote, com quem troquei dois dedos de prosa, barbeiros, pequenas lojas de pronto-a-vestir, um mercado moderno, uma "bica" verdadeira na esplanada do hotel...

E um museu etnográfico no primeiro piso, fiel depositário dos "salvados" do Império, no segundo piso, com bustos da República, quadros de figuras grandes da nossa História. À noite, a convite do General Lanucha, comemos, ouvimos música e aplaudimos o grupo de teatro local.

É do Namibe que partimos, a 5 de Junho, para a nossa terceira etapa, divididos em duas colunas. Vamos passando pela baía dos Tigres com destino à foz do Cunene. Cruzamos o rio Curoca, que divide o deserto de pedras do deserto de dunas, avistamos a plantação de casuarinas e entramos na cidade mais ao Sul de Angola, Porto Alexandre, agora chamada de Tombwa. O dia está frio e cinzento. Todos andam encasacados e um vendedor ambulante apregoa casaquinhos de lã para bébé e ponchos. As crianças enchem as ruas a caminho da escola com as suas cadeirinhas multicolores e operários atarefam- -se na reabilitação de um lindo edifício antigo. Vejo a praça, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, o cine-teatro, o colégio do cónego Zagalo. Erguem-se novas construções e um cartaz anuncia a próxima inauguração de uma escola com doze salas. É a partir de aqui que iniciamos o percurso de 130 km que nos leva, através das Dunas Altas à baía dos Tigres e daí à foz do Cunene. É uma condução sob a influência da maré, um raid namibiano entalado entre as dunas e o mar e a nossa berma é, agora, onda e espuma. Mergulho num mundo comovedoramente intocado em que nós, intrusos, somos ignorados por tudo o que nos rodeia: neblina, areia, água, corvos marinhos, bancos de mexilhões gigantes, restos de baleias mortas, destroços de barcos naufragados. Há harmonia naquele habitat de focas, golfinhos, tartarugas gigantes, pelicanos e milhares de patos negros, como um único e poderoso acto criador, uma prova da existência de Deus. Alcançamos a mítica foz do Cunene e, por trilhos de novo pedregosos, chegamos ao sítio onde pernoitaremos; dois barracões junto à fronteira com a Namíbia. Tiram-se os sacos-camas, cozinham-se mexilhões, acendem-se fogueiras para afastar chacais e jacarés e... abre-se champagne!

Com muita neblina seguimos, na manhã do dia 6, da foz do Cunene para Espinheira e daí até Omahua a tempo de almoçar no Parque do Iona. Vemos camaleões do deserto e antílopes. O calor aperta num percurso rodeado de montanhas. Movimentos tectónicos e antiquíssimos processos metamórficos transformaram-nas numa sucessão rendi- lhada de obras de Gaudi. Mas, mais adiante, as montanhas, agora formadas por gigantescos pedregulhos sobrepostos, parecem ter a assinatura de Botero. E já no Parque do Iona o que vemos assemelha-se a uma obra de gigantes, um jogo infantil que deslocou as enormes pedras para posições e equilíbrios inexplicáveis. As instalações deste lindíssimo parque aproveitam as grandes rochas ocas e aí se instalam a sala de refeições, de convívio e mesmo uma suite! Sinto--me um personagem dos Flintstone na Idade da Pedra. Ao almoço dão-nos a melhor garoupa que jamais comi e à tardinha saímos, em carrinhas de caixa aberta, para avistar os animais já acordados do torpôr do meio dia. À noite acendem-se as fogueiras para afastar os leopardos.

Estamos já a 7 de Junho e o nosso destino é a cidade de Lubango (antiga Sá da Bandeira). Vamos de volta até Tombwa por uma estrada em terra de pedra solta e visitamos a welvitchia gigante. Passamos pela lagoa do Carvalhão, um oásis e uma pequena terra chamada Milunda, antes S. João do Sul. É aí perto que vejo, alinhados e perfeitamente conservados, os quatro túmulos, dois maiores, dois mais pequenos, de portugueses, talvez uma família, que ali viveu, trabalhou e morreu. Também é por ali que avisto algumas viaturas enferrujadas que não resistiram ao duro itinerário da fuga em 1975...

Almoçamos no Namibe e seguimos para Humpata subindo os "lacetes" da Serra da Leda. Observo aquela fantástica obra de engenharia e informam--me que foi tudo feito pela Junta Autónoma das Estradas de Angola. E esta? Estamos, agora, no maciço da Chela na Província da Huíla, a quase 2000 metros e a vista é impressionante. A paisagem mudou radicalmente, vêem-se as últimas bananeiras e gado a pastar. Chegamos por fim ao Lubango, cidade de avenidas desafogadas, acácias, mais a boa arquitectura, bairros de vivendas, o antigo liceu em obras e o Grande Hotel da Huíla completamente restaurado. Espanto--me com coisas tão diferentes como a fenda da Tundavala, a pastelaria tradicional portuguesa, os adolescentes estudando sob as árvores dos jardins públicos como se fosse um ritual, a Basílica cheia na missa de domingo, o Cristo-Rei atingido por uma rajada de metralhadora que todos atribuem aos cubanos e com um restaurante onde jantei, especializado em petiscos portugueses: bom presunto e bom queijo da serra feito ali mesmo!

No dia 9, partimos rumo ao Huambo, 456 km de estrada muito variada, a primeira aproximação de campos minados, troços de estrada partida e picada empoeirada. Vejo a planície, os campos de sisal, os carros de bois e pequenos mercados com bons legumes à beira do caminho. Motos e bicicletas, crianças e jovens a caminho das escolas de bata branca. E, depois de comermos empadas ainda quentinhas, trazidas do Lubango, à beira de uma pequena barragem, começam os túneis verdes de bambus, os eucaliptos, a floresta de Brachistéria, quimbos com jangos, casas de adobe rosado, morros de salalé, banana que seca ao sol. Paramos na Caconda e almoçamos num restaurante de um espanhol que ali chegou como voluntário de uma ONG e decidiu ficar. A caminho da cidade do Huambo passamos por Longonjo, onde vi um hospital municipal, uma escola, uma igreja, um campo de futebol, um laboratório de análises clínicas e uma livraria com material didáctico. Chegamos ao Huambo (antiga Nova Lisboa) ao fim do dia e, enquanto abastecemos, percebo uma forte iluminação pública ao fundo de uma rua: é a praça principal com todos os seus edifícios nobres restaurados e iluminados como, por cá, não temos o Rossio.

No dia 10, atravessamos o planalto Central. A rádio angolana transmite um programa sobre a língua portuguesa. Interrogo-me se, em Portugal, alguma rádio terá feito um programa assim neste Dia de Camões... Vamos do Alto-Hama à ponte do rio Keve e daí a Lupupa. Entramos de novo no Kwanza Sul e almoçamos numa fazenda onde um português cultiva inúmeras espécies de rosas. Tudo está primorosamente ajardinado e em grandes jangos servem--nos um bom churrasco. É nessa tarde que atravessamos o Colonato da Cela, esse projecto tão dis- cutido, com defensores e detractores. Fico a olhar para as casas alinhadas, a igreja e a escola, as alfaias agrícolas, as terras ricas, os silos e lembro-me dos primeiros colonos transplantados de Trás-os-Montes... Seguimos para a foz do rio Kussoi onde vivemos a hilariante aventura de procurar hipopótamos com toda a aldeia à nossa roda, o digníssimo régulo a receber-nos, uma paisagem de sonho e, alguns de nós, incluindo eu própria, afundados nos pântanos traiçoeiros, encharcados até à cintura. É neste estado miserável que chego a Waku Kungo, pequena cidade construída de raíz como uma extensão do Colonato que visitamos no dia seguinte e onde é visível, uma vez mais, o esforço de reconstrução que sucedeu à longa guerra civil. Em direcção ao Calulo visitamos o empreendimento "Aldeia Nova", um modelo entre colonato e kibutz para fixar ex-combatentes. Seguimos pelo planalto da Kibala e trepando ao que resta da velha fortaleza temos uma vista magnífica da cidade. Pernoitamos no Calulo e, no dia seguinte, num percurso de picada através da serra da Cabuta e passada a ponte Filomeno da Câmara, chegamos ao Alto Dondo. Onde revejo, emocionada e 34 anos depois, a cantina e a gasolineira onde me encontrei com o Jaime e que foi o ponto de partida para a nossa diáspora...

É aqui, a poucos quilómetros de Luanda, que encerro este caleidoscópio de memórias e descobertas. Depois do forte sopro dos ventos da História após mais de cinco séculos de presença portuguesa cujos trilhos acabo de percorrer, e de três décadas de guerra civil, tornou-se palpável o imperativo do futuro. E a grandeza e vitalidade de Angola.

DN, 14-7-2008
 
'Lua-de-mel' com Luanda por 1100 milhões

JOÃO PEDRO HENRIQUES

Sócrates em Angola. Numa viagem-relâmpago de 24 horas, o primeiro-ministro, José Sócrates, foi ontem 'apadrinhar' o Dia de Portugal à Feira Internacional de Luanda (FILDA). Nas declarações que fez multiplicou-se em elogios à governação do Presidente José Eduardo dos Santos

Sócrates elogia "trabalho notável" de Angola

"Venho aqui dar uma palavra de confiança a Angola no trabalho que o Governo angolano tem feito que é, a todos os títulos, notável. Basta olhar para os indicadores", disse o pri- meiro-ministro, José Sócrates, que chegou ontem em Luanda para uma viagem marcada pela diplomacia económica, e para quem é "um prazer poder assistir a um país com dinamismo, vibração, com entusiasmo e com consciência do seu futuro".

"Quero que o Governo de Angola saiba que temos confiança no povo angolano, que temos confiança em Angola, temos confiança no Governo angolano e no trabalho que tem desenvolvido."

O Governo angolano retribuiu anunciando que o Presidente José Eduardo dos Santos estará em Lisboa no próximo dia 25 de Julho, chefiando a delegação que representará Angola na VII Cimeira da CPLP.

Segundo Sócrates, "cada vez que Angola progride, evolui e melhora, isso enche de orgulho qualquer português". E o trabalho do Governo liderado por José Eduardo dos Santos tem "permitido que Angola tenha hoje um prestígio internacional, que tenha subido na consciência internacional e que seja hoje um dos países mais falados e mais reputados".

Mais de mil milhões de euros permitiram "selar" esta verdadeira "lua- -de-mel" do Governo de Lisboa com o de Luanda. Actualmente, a linha de crédito da CGD para apoiar a internacionalização para Angola das empresas portuguesas não ultrapassava os 300 milhões de euros - e já estava esgotada.

Ontem foi anunciado em Luanda o alargamento desta linha de crédito e a criação de outras três novas, ascendendo o plafond total a 1100 milhões de euros.

"Hoje é o Dia de Portugal. Eu venho aqui para homenagear o empresário português e para lhe dar uma palavra de incentivo e para que prossiga a sua acção de investimentos em Angola", disse Sócrates na visita à FILDA.

"É um prazer poder ouvir das autoridades angolanas elogios ao trabalho dos empresários portugueses. É o melhor elogio que podia ouvir."

'Exportam-se' professores

Na FILDA participaram representações de 102 empresas portuguesas. Falando à Lusa, o presidente da Agência Portuguesa para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Basílio Horta, considerou que a visita de Sócrates correu "excepcionalmente bem".

Basílio Horta mostrou-se ainda orgulhoso do pavilhão de Portugal na FILDA, "unanimemente considerado como o melhor da feira". "É um pavilhão e uma feira que honram Portugal e que transmitem uma imagem diferente do país."

Na visita de Sócrates, foi também assinado um protocolo pelo qual Portugal "exportará" para Angola 200 professores, os quais darão formação a professores angolanos. As acções previstas no acordo representam um investimento na ordem dos 16,5 milhões de euros por um período de três anos, a ser implementado em quatro províncias do país - Cunene (sul), Benguela (litoral), Moxico (leste) e Cuanza Sul.

DN, 18-7-2008
 
ANGOLA NÃO É NOSSA

Fernanda Câncio
jornalista
fernanda.m.cancio@dn.pt

Nunca fui a Angola, nem em trabalho nem em férias - e tenho pena. Não nasci lá, como tantos portugueses, nem deixei lá saudades, pertences, fortunas ou amores, nem perdi lá um parente ou uma parte dele. Não tenho mágoas angolanas - nem, já agora, moçambicanas, guineenses, cabo-verdianas ou são-tomenses. Os países africanos de expressão portuguesa não são para mim diferentes de tantos outros países, africanos ou não. Não me assaltou nenhuma nostalgia colonialista nos que visitei, Moçambique e Cabo Verde. Não senti nada de especial a não ser, em Moçambique, uma mágoa parecida com remorso herdado perante a miséria, os escandalosos fossos socioeconómicos e a subserviência do povo perante "os brancos". Mas isso já sentira noutras partes de África - alguém chamou a isso "o remorso do homem branco" (neste caso, de mulher, e morena).

Não tenho nada com Angola, portanto, a não ser uma ligação profissional feita de bocados de histórias, entrevistas, reportagens. Sei o básico: uma longa guerra civil, um país dividido ao meio, cadáveres inchados nas ruas de Luanda em 1992/93 depois da primeira volta das primeiras e únicas eleições presidenciais, o corpo meio despido de Savimbi cheio de moscas em 2002, os baixíssimos scores nos índices de desenvolvimento humano, os processos a jornalistas, os jornalistas presos, as denúncias de falta de liberdade política e de falta de liberdade de imprensa, as denúncias sobre a riqueza pessoal do presidente em funções vai fazer 30 anos, as ligações da sua família a uma série de empresas.

Não, não sou uma especialista em Angola. Não tenho histórias em primeira mão para contar nem relatórios de organizações internacionais para estrear. Mas não preciso. Basta-me saber que não há eleições no país desde 1992 para não gostar do Governo nem do presidente. E para tal tanto me faz que fale português ou outra língua qualquer. Tanto me faz que "nós" - sendo nós essa entidade chamada "os portugueses" - tenhamos "lá andado" 500 anos como não. Não aceito culpas históricas nem acusações de complexos colonialistas quando se trata de olhar para um país independente há 33 anos e constatar que está muito longe de ser uma democracia e por esse motivo muito longe de ser admirável ou "a todos os títulos notável".

Percebo, claro, que uma coisa são os meus sentimentos enquanto pessoa, por acaso portuguesa, e outra muito diferente os interesses do meu país - sejam eles económicos, estratégicos, linguísticos, o que for. Percebo que as relações entre países não são relações pessoais e que se fazem muitas coisas em nome da chamada real politik que eu agradeço ao destino nunca ter estado em posição de ter de fazer. Mas creio que há coisas escusadas. E creio, sobretudo, ser tempo de percebermos, todos, portugueses e angolanos, que chega de facturas. Chega de confusões. Portugal colonizou e descolonizou, Angola é dos angolanos. Nenhuma razão para tantos paninhos quentes, nenhum motivo para tanto eufemismo, para tanto elogio rasgado. Façam-se negócios, certo. Apertem-se mãos, assinem-se acordos. Defenda-se isso a que se chama "o interesse português". Mas, por favor, não exagerem.

DN, 25-7-2008
 
Oito mortos em Sambizanga após entrega voluntária de 30 mil armas

PATRÍCIA VIEGAS

Tiroteio em bairro problemático

"Nós estamos habituados a ver pessoas serem mortas quando recusam entregar o telemóvel ou o dinheiro a um assaltante. Mais isto não", declarou ontem à AFP Júlio Manuel, um habitante de Sambizanga. O "isto" a que se refere é um homicídio. Na véspera, oito jovens foram abatidos a tiro, no bairro do Santo Rosa, naquele que é um dos mais populosos e problemáticos municípios de Angola, situado a Norte de Luanda.

"As informações recolhidas no terreno falam dos ocupantes de uma carrinha Toyota Hiace que abriram fogo sobre um grupo de jovens que estava na rua a conversar", disse ao DN o segundo comandante da polícia nacional em Sambizanga, Eduardo Diogo, precisando que cinco tiveram morte imediata e três faleceram nos hospitais Josina Machel e Américo Boavida.

A versão dos familiares das vítimas é, porém, um pouco diferente. "Às 19.00 de quarta-feira, quando o grupo se encontrava a falar e a beber umas cervejas, surgiu uma carrinha branca do tipo Toyota Hiace, de onde saíram homens armados e, depois de mandarem os jovens deitarem-se de barriga para baixo, dispararam e fugiram no veículo", disseram ao correspondente da Lusa em Angola Ricardo Bordalo. A polícia explicou que as testemunhas têm dificuldade nos relatos porque foi tudo muito rápido. "Estamos a tentar localizar os responsáveis e saber o motivo do crime", disse Eduardo Diogo, recusando precisar se se tratou de um acerto de contas entre gangues. Fonte de uma rádio angolana explicou ao DN que, aparentemente, está afastada qualquer motivação política.

O crime aconteceu numa altura em que já terminou a entrega voluntária de armas com vista às eleições legislativas de 5 de Setembro. Desde o início do ano foram recolhidas 30 mil, quatro mil das quais em Luanda, segundo um balanço feito na terça- -feira pela polícia angolana e citado pela agência Angop. Agora as autoridades angolanas vão passar à fase da entrega coerciva de armas.

DN, 25-7-2008
 
ANGOLA JÁ NÃO É NOSSA

provedor dos leitores
Mário Bettencourt Resendes
provedor@dn.pt

À partida, estávamos perante uma notícia insusceptível de causar polémica. Colocada ao alto da página 27 da edição de 4 de Junho, a duas colunas, apresentava um título factual ("Angola confirma eleições em Setembro") e uma redacção tecnicamente correcta. O texto era breve e incluía alguns aspectos de enquadramento, passado e presente, da situação política angolana.

A verdade, porém, é que está ainda por digerir, em sectores da sociedade portuguesa (e angolana) a forma dramática como se concluiu, sobretudo em Angola, o ciclo imperial. Há feridas por sarar, todas as palavras são avaliadas procurando eventuais intenções ocultas e todas as linhas são lidas à lupa.

Neste caso, os leitores Maria João Sande Lemos e José Corte-Real Sequeira dirigiram-se ao provedor, contestando o excerto da notícia em que se escrevia que "Eduardo dos Santos está no poder desde 1979 e venceu a primeira volta das presidenciais de 1992, cujo resultado não foi aceite pela UNITA de Jonas Savimbi". Para sustentar o seu protesto, os leitores citam informação variada, datada da época em causa, nomeadamente declarações do próprio Savimbi, publicada em vários órgãos de comunicação social portugueses e angolanos, em que a UNITA declarava a sua aceitação oficial dos resultados eleitorais de 1992.

Os leitores tecem, depois, algumas considerações de interpretação política sobre essa eventual "distorção dos factos", mas por aí não vai o provedor: não é essa a sua função. Interessa, sim, neste âmbito, esclarecer se o DN respeitou ou não a "verdade histórica".

A pedido do provedor, o editor executivo Leonídio Paulo Ferreira, que, por coincidência, foi também nesse dia o responsável pela edição da secção em causa, elaborou o comentário que se segue: "É absolutamente factual a frase 'Eduardo dos Santos está no poder desde 1979 e venceu a primeira volta das presidenciais de 1992, cujo resultado não foi aceite pela UNITA de Jonas Savimbi', que regressou então à guerrilha activa. Tal como é um facto histórico que dirigentes da UNITA foram massacrados nas ruas de Luanda e que no espaço de semanas depois da divulgação da vitória do candidato presidencial do MPLA (e também do MPLA nas legislativas) a guerra tinha regressado a toda a Angola, com o desafio de Savimbi a Eduardo dos Santos a consumar--se na conquista de vastos territórios, incluindo a emblemática cidade de Huambo. Mas, caso não se tratasse de uma pequena notícia (umas 40 linhas) sobre a data das legislativas de 2008 (marcadas finalmente após 16 anos de espera), teria sido também possível explicar as complexidades dos acordos de Bicesse, que permitiram o entendimento de 1992 entre o MPLA e a UNITA, assim como as enormes desconfianças de lado a lado, razão pela qual Savimbi (avisadamente) nunca se fixou na capital. Seria também possível explicar que a resposta militar do Governo angolano, e as pressões internacionais, levaram depois a um novo processo de paz com a UNITA, consumado nos acordos de Lusaca de 1994, e que, de negociação falhada em negociação falhada, só se chegou à paz quando Savimbi foi morto em 2002. Sobre o reconhecimento pela UNITA dos resultados das eleições de Setembro de 1992, existem notícias de tal em meados de 1993. E depois, solenemente, quando, em Julho de 2005 (três anos após a morte de Savimbi), os deputados da UNITA, apesar de declararem que 'as eleições presidenciais de 1992 são inconclusivas', reconheceram a legitimidade da presidência de José Eduardo dos Santos, com efeitos retroactivos."

As explicações pormenorizadas do jornalista, que demonstra uma conhecimento profundo da situação angolana, permitem um melhor entendimento sobre os acontecimentos posteriores às eleições de 1992. E se de facto existem (como se comprova na documentação enviada pelos leitores ao provedor) declarações oficiais da UNITA, em 1992 (e também em 1993, segundo diz o jornalista), a aceitar o resultado das eleições, não é menos certo que se seguiu um período de guerra civil que se prolongaria por vários anos.

Sopesados, com atenção, todos os dados disponíveis, o provedor conclui que, de um ponto de vista meramente factual, não é correcto escrever-se, em Junho de 2008, que a UNITA "não aceitou os resultados das eleições de 1992" - e ainda o é menos se o espaço disponível não permite um enquadramento histórico pormenorizado como aquele que Leonídio Paulo Ferreira enviou ao provedor.

Parodiando uma expressão que era cara à ditadura, "Angola já não é nossa". Mas é óbvio que a história está ainda muito longe dos terrenos do consenso interpretativo, permanecendo, nos dois países, sensibilidades que não deixam escapar eventuais deslizes factuais. E esse é um motivo adicional para que a imprensa responsável afine os seus mecanismos de verificação e controlo de qualidade.

DN, 26-7-2008
 
Funerais no Sambizanga vão repudiar violência

ABEL COELHO DE MORAIS

Muceque problemático abriga mais de 600 mil pessoas

A polícia angolana garantiu ontem estar a utilizar todos os meios disponíveis para encontrar os responsáveis pela morte violenta de oito jovens ao início da noite de quarta-feira no bairro Santo Rosa, no muceque Sambizanga, em Luanda.

O funeral dos jovens, com idades entre os 19 e os 22 anos, realiza-se hoje de manhã numa cerimónia colectiva, por decisão das famílias. Estas estão a preparar a mobilização de milhares de pessoas para os funerais que querem transformar numa manifestação de repúdio pela violência no muceque, onde nasceram, entre outros, o actual Presidente, Eduardo dos Santos, e o futebolista Mantorras.

Em homenagem às vítimas, desde ontem eram visíveis cartazes com os rostos e nomes dos jovens no local do ataque e noutros pontos de Sambizanga.

Parte de um grupo inicial de 12 elementos, que se reunia frequentemente num dos lugares mais populares do bairro, o Largo da Frescura, os oito jovens foram mortos por dois atiradores que se deslocavam num veículo de vidros fumados e sem matrícula. Saídos do veículo, os atiradores ordenaram aos jovens que se deitassem no chão, alvejando-os de seguida com AK-47 e pistolas num tiroteio nutrido de que ficaram marcas nas fachadas de alguns edifícios circundantes.

Persistem divergências sobre o número de atiradores - há relatos que referem mais de dois - e sobre o veículo. Alguns testemunhos indicam tratar-se de um táxi. Também permanece por esclarecer qual o tipo de veículo, referindo a AngolaPress tratar-se "de uma viatura tipo Toyota Hiace", citando fonte policial. As teses sobre a motivação vão do ajuste de contas entre bandos a uma execução por elementos da polícia.

Esta zona, onde vive mais de 600 mil pessoas, é considerada das mais instáveis na região de Luanda, sendo palco de frequentes cenas de violência e de guerras entre gangues. No final de Maio, um confronto entre dois desses bandos, os Mana Bela e os Sem Tropas, vitimou um jovem inocente.

Testemunhos ontem nos media angolanos garantiam que nenhum dos jovens tem ligações ao submundo, todos estudavam ou trabalhavam e um deles estava ligado a uma paróquia.

O comandante geral da polícia, comissário-geral Ambrósio de Lemos, garantiu não existir motivação política no caso, considerado o mais violento desde o fim da guerra civil em 2002.

DN, 26-7-2008
 
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