12 julho, 2008

 

Do plágio


ao seu combate



http://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%A1gio

http://www.plagiarism.org/
http://www.turnitin.com/static/index.html
http://www.plagiarism.phys.virginia.edu/

http://pt.wordpress.com/tag/plagio/

http://www.pplware.com/2008/07/11/ephorus-combate-a-ciber-cabula/

Comments:
Olhar para o exame do colega do lado, levar um "auxiliar de memória" ou preparar antecipadamente respostas para o teste, substituindo depois a folha de exame - estas são algumas das práticas usadas por alunos que copiam. A tecnologia dá também uma ajuda e é de assinalar a possibilidade de utilizar o telemóvel para trocar respostas durante um exame. Mas a fraude académica é um fenómeno mais lato, que vai da simples assinatura numa folha de presença de uma aula a que não se assistiu ao "assalto" ao gabinete dos professores para conhecer antecipadamente as perguntas dos exames. Outra preocupação cada vez mais premente no meio universitário é o plágio em trabalhos. A Internet é uma fonte inesgotável e não são raros os casos de alunos apanhados com projectos e mesmo dissertações que não lhes pertencem. A fraude académica tem sido pouco estudada a nível europeu, mas os norte-americanos têm uma vasta literatura produzida neste domínio. Em Portugal não existe igualmente uma tradição de avaliar este fenómeno e o enquadramento legal está longe de adequado à realidade dos nossos dias (ver texto ao lado). Mas há um dado curioso das faculdades envolvidas no estudo português, apenas uma tinha um "código de honra", em que os alunos se comprometiam a não copiar. E, assinalam as investigadoras, nessa instituição a probabilidade de os alunos copiarem era menor.

DN, 4-1-2006
 
60% dos estudantes universitários admitem copiar nos exames

Estudo da Faculdade de Economia do Porto mostra que Alentejo recorre mais à cábula

elsa costa e silva

Copiam mais os alunos do interior e Alentejo, os finalistas e com notas inferiores a 13. O facto de se estar deslocado não tem influência Ser apanhado a copiar não acarreta "sanções sérias" fora da sala de exame e as penalizações não têm efeitos eficientes, defendem as investigadoras
Mais de 60% dos estudantes do ensino superior admitem copiar nos exames. Um inquérito em larga escala, aplicado em dez universidades públicas portuguesas, demonstra ainda que existem diferenças regionais acentuadas os alunos do Alentejo são os que mais dizem cometer fraudes académicas, com 75% a admitirem que copiam algumas vezes, contra os dos Açores, com metade dos inquiridos a afirmar que nunca usa cábulas nas provas.

Esta pesquisa - a primeira de grande dimensão a estudar a realidade de Portugal - foi realizado por Fátima Rocha e Aurora Teixeira, duas investigadoras da Faculdade de Economia do Porto. Perto de 2700 alunos, dos cursos de Gestão e Economia de todo o País, foram inquiridos entre Março e Dezembro de 2005. Os estudantes foram avaliados de acordo com a residência permanente e não por universidades. Este dado foi também tratado pelas investigadoras, mas apenas facultado individualmente a cada instituição.

Fátima Rocha - cuja tese de doutoramento em curso tem por base este trabalho - explica que o objectivo é "analisar a magnitude da fraude académica e as determinantes deste fenómeno, analisando especificamente a questão regional". Existe ainda uma segunda fase, onde serão comparados os dados portugueses com elementos recolhidos em outros países europeus, onde as investigadoras aplicaram também o inquérito.

'Apanhados'. Outro dado que revela a amplitude que tem nas universidades portuguesas a prática de copiar é o facto de 90% dos estudantes afirmarem que existe a probabilidade de ver outros copiar. E ainda mais de metade garantem que já viram algum colega a ser apanhado por um professor a copiar durante um exame. Curiosamente, apenas 5% dos alunos admitiram que foram surpreendidos a cometer fraudes durante a realização de provas.

Para além dos Açores, também o Algarve surge como uma região onde os estudantes parecem ter menor tendência para a fraude académica. Mais de 45% dos alunos provenientes do Sul do País dizem nunca copiar e os que afirmam fazê-lo sempre são inferiores a 1%. Os estudantes do arquipélago têm a posição mais díspar são os que, por um lado, mais dizem nunca copiar (50%), mas são também, curiosamente, os que mais assumem fazê--lo sempre (12,5% contra a média nacional de 2,5%). Parecem assim existir "factores intrínsecos às regiões de onde são originários os alunos para explicar a propensão para copiar e seria interessante estudar mais para perceber quais são", explica Aurora Teixeira.

A tendência para copiar é maior nos alunos com médias entre os 10 e 12 valores 64,8% admitem copiar. A percentagem de cábulas desce para quase metade nos estudantes com médias superiores a 16 valores. Um dado curioso é que o facto de um aluno estar, ou não, deslocado - ou seja, fora do seu local de residência habitual - não o torna mais susceptível à cópia.

Pressão. Para além das diferenças regionais, as investigadoras assinalam que existe igualmente discrepância entre os anos do curso. Ou seja, são os "finalistas" que tendem a copiar mais. Quanto mais se aproxima o fim da licenciatura, mais cresce a tendência para usar meios fraudulentos para passar nos exames. "Penso que existirá nessa altura uma grande pressão para a média, porque eles sabem que a primeira entrada no mercado de trabalho está condicionada pela nota e só é chamado para entrevistas quem tem mais de 13 valores", adianta Aurora Teixeira.

Mas isso não significa que são os mais velhos os mais "cábulas". Pelo contrário, a partir dos 26 anos, os estudantes têm menor tendência para o "copianço". Serão talvez, adiantam as investigadoras, alunos já no mercado de trabalho que regressam para concluir uma licenciatura e, portanto, "com uma atitude diferente".

Outro dado interessante revelado pela investigação dá conta de que, para mais de metade dos alunos, a prática do "copianço" não é realmente um problema. Só 11,3% consideram que o tema é "sério" e cerca de um terço assinala que merece "alguma atenção". As investigadoras defendem que "ser apanhado a copiar não acarreta sanções sérias, fora da sala de exame" e que as penalizações "não têm um efeito eficiente". O exame é anulado e o aluno chumba, "o que aconteceria na mesma, caso não tivesse copiado, porque não tinha estudado", explicam. O estudo demonstra ainda que existe um "ambiente favorável" à cópia e que isso favorece a prática entre os alunos.

DN, 4-1-2006
 
É como fugir aos impostos

A fraude académica é uma ques- tão mais ligada à educação. Que interesse tem esta matéria para uma investigadora do domínio da Economia?

O meu interesse enquanto investigadora está centrado no capital humano. E com este trabalho gostaria de perceber até que ponto a fraude académica influencia o stock de capital humano. Normalmente esse é apenas avaliado por factores quantitativos, como os anos de estudo da população. Contudo, pode introduzir-se critérios mais qualitativos, como a qualidade do ensino ou a fraude académica, que normalmente são mais difíceis de avaliar. Mas quando há fraude, estamos a sobrestimar o stock de capital humano existente porque podemos dizer que ele tem determinados anos de escolaridade, mas tendo em conta o nível de "copianço", esses anos de escola valem muito menos.

E que significado têm as práticas de copiar em termos de relação entre alunos?

Quando um estudante copia está, obviamente, a defraudar as leis da concorrência entre estudantes.

Mas não parece existir essa per-cepção no meio académico, nem mesmo entre alunos que, de acordo com o vosso estudo, não penalizam muito esta prática...

Temos, de facto, um ambiente permissivo e favorável à cópia. São as tais variantes de contexto que influenciam depois outros alunos. Isto é quase como fugir aos impostos. E é preocupante que práticas socialmente reprováveis sejam aceites como normais. Estamos a falar do meio universitário, mas eu acredito que isso - os alunos que copiam e cometem fraudes académi- cas - se transpõe para o ambiente de trabalho. Porque a mentalidade é a mesma seja copiar, seja fugir aos impostos. Temos assim um ambiente social em que a pessoa não é penalizada por ser infractora. E isso prejudica quem cumpre.

Aurora Teixeira - investigadora

DN, 4-1-2006
 
Lei que pune a cópia é do tempo de Salazar

Estatuto Disciplinar do Aluno em vigor é de natureza política. Novo projecto adiado

E. C. S. Arquivo DN-José Carlos Carvalho

âmbito. Lei em vigor quer evitar "propaganda de ideias dissolventes"

Reitores e politécnicos entregaram novo projecto em 2003, mas ainda não houve avanços
Data de 1932 e tem especial preocupação em delinear punições para quem for "ofensivo" ao "Poder Executivo" ou fizer "propaganda de ideias dissolventes". O Estatuto Disciplinar do Aluno ainda em vigor, e que poderia ser invocado em caso de alguém ser apanhado a copiar, data do tempo da ditadura. Tem assim, explica o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), uma "natureza política" que torna "muito difícil" a sua aplicação por parte dos órgãos de gestão das instituições de ensino superior.

Emitido pelo Ministério da Instrução Pública em Abril de 1932, o Decreto n.º 21/60 afirma que "considera-se infracção disciplinar todo o acto ou omissão contrária aos deveres dos alunos, designadamente a prática de actos de manifesta hostilidade contra o Poder Executivo, ofensivos da boa ordem e disciplina académica e a inobservância das ordens superiores a que estiverem sujeitos".

As sanções previstas vão da repreensão à expulsão definitiva de "todas as escolas nacionais". A infracção era agravada quando cometida "colectivamente" e a decisão, tomada a nível das instituições, devia ser "precedida de parecer da comissão central do Conselho Superior de Instrução Pública". Eram consideradas "especialmente determinantes" da aplicação das penas de expulsão "a insubordinação grave, desrespeito ao Presidente do Governo, aos membros do Poder Executivo e a propaganda de ideias dissolventes". A lei é assinada pelos "ministros de todas as repartições", entre os quais António Oliveira Salazar, sendo Óscar Carmona o Presidente da República.

Mudança. Silva Lopes, presidente do CRUP, explica que existe a consciência de que o enquadramento legal que regula a questão da fraude académica praticada por alunos precisa de ser "melhorado" e que é necessário que a matéria seja "regulamentada". Por isso, em meados de 2003, o CRUP entregou, em parceira com o Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos Superiores, ao então ministro do Ensino Superior, Pedro Lynce, o projecto de um novo Estatuto Disciplinar do Estudante. Mas a matéria ainda não avançou. O DN tentou ouvir o ministério, mas não conseguiu obter uma resposta em tempo útil.

Assim, a forma como um aluno apanhado a copiar é sancionada depende do regulamento de cada faculdade. "É preciso, de facto, dar corpo a isto que existe", defende Silva Lopes, porque "o critério a seguir deve ser uniforme". A proposta do CRUP, adianta ainda, prevê uma série de sanções para quem for apanhado a copiar, que podem ir da anulação da prova a "penalizações mais graves".

práticas. O presidente do CRUP acredita que não há uma "generalização do cabulanço profundo", mas mesmo uma "reduzida percentagem não é desculpa para não se estar atento". Mas conhece a existência de "práticas graves", como o caso de um aluno que se apresentou a exame para fazer uma melhoria de nota e estava, de facto, a fazer a prova para um colega, com quem tentou trocar as folhas no final. E há diferenças entre estes actos mais graves e o "simples olhar para o teste do lado à procura de uma luz". Porque se não se estudou nada, "não é isso que vai resolver o problema". E depois, garante Silva Lopes, "temos o reverso da medalha normalmente um professor vê se o teste foi copiado ou não e pode testar isso em orais".

DN, 4-1-2006
 
"Os que cumprem são prejudicados"

"No meu grupo de estudo todos copiam quando há mais necessidade." Pedro, de 21 anos, está no 4.º ano de um curso de engenharia. Admite, sem problemas, que copia. "Ou porque não tenho a matéria bem estudada, ou há assuntos que não percebi, ou porque não tive tempo para decorar as fórmulas", explica. Medo? "Claro, sempre!" Mas quando a necessidade aperta, "é uma ferramenta que se utiliza para desenrascar".

A frequentar a mesma faculdade, mas no 2.º ano, Ricardo, de 19 anos, não copia. Já lhe aconteceu, uma ou duas vezes, perguntar algo a um colega, mas não leva cábulas". Contudo, sabe que é uma prática frequente "Há muita gente a copiar e até já ouvi dizer que temos fama disso lá fora por causa dos alunos Erasmus." Compreende a razão que leva muitos colegas a copiarem: "Há matérias que dá vontade", reconhece, mas é igualmente certo que "há um exagero e que muitos simplesmente não estudam".

Pedro e Ricardo confirmam os dados do estudo desenvolvido pelas investigadoras do Porto enquanto o primeiro, que recorre a "auxiliadores" de memória, tem uma média de 13 valores, o segundo apresenta notas da ordem dos 17. E afirma: "São os alunos mais fraquinhos que copiam."

Ambos já viram colegas ser apanhados a copiar. Aliás, Pedro foi já repreendido pelo professor por estar a olhar para o teste do colega da frente. Mas, normalmente, a única medida de coacção é a mu-dança de lugar. "As chamadas de atenção são muito frequentes", explica Pedro, que já viu "duas ou três vezes" testes a serem anulados por os alunos estarem a copiar.

Consciente de que, no futuro, não estará "tão bem preparado" porque copiou durante a licenciatura, Pedro adianta que o seu objectivo é "fazer a cadeira", ainda que reconheça que o acto "acaba por ser uma fraude". E quando gosta da matéria até não costuma copiar. Aliás, garante, copiava mais nos primeiros anos do que agora, porque as matérias são mais específicas e ao seu gosto. As técnicas que utiliza vão dos papéis pequeninos, enfiados no bolso da camisa ou das calças, à introdução de teorias ou justificações na máquina de calcular.

Ricardo acredita que, quando alguém copia, "saem prejudicados os que cumprem", mas também acha que "não há bons alunos porque copiam". Quanto às sanções, nunca pensou muito sobre a sua justeza. E não defende que haja muito mais do que a anulação do teste "Pelo menos, para já não. Atirar agora com essa novidade, de repente, seria desastroso." Mas concorda que alunos "muito reincidentes" sofram penalizações mais graves que a mera anulação da prova.

DN, 4-1-2006
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?