26 julho, 2008

 

Energia


nuclear / atómica




http://pt.wikipedia.org/wiki/Energia_nuclear

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ag%C3%AAncia_Internacional_de_Energia_At%C3%B3mica


http://ciencia.hsw.uol.com.br/energia-nuclear.htm

http://www.greenpeace.org/raw/content/brasil/documentos/nuclear/verdades-e-perigos-da-energia.pdf

Comments:
Com o petróleo em alta é erro um tabu nuclear

Ciclicamente, a questão da energia nuclear é lançada para o debate público em Portugal. E quase de imediato se erguem vozes a dizer que não há nada para discutir, que o debate ficou mais que fechado no passado e que se está a perder tempo. Como se fosse um tabu. Mas quando alguém como Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal, evoca o tema, é impossível recusar-lhe atenção. E com o preço do barril de petróleo em subida vertiginosa há mais de dois anos, justifica-se pensar em todas as alternativas, ainda que as simpatias gerais pendam para as renováveis. Quando Patrick Monteiro de Barros defendeu o seu projecto de central nuclear, o petróleo andava nos 60 dólares - agora ronda os 150.

Uma razão forte para a oposição ao nuclear são os eventuais perigos. O fantasma de Chernobyl sobrevive apesar de a explosão no reactor ucraniano ter acontecido há mais de duas décadas. Mas o mundo está pejado de centrais nucleares, a começar pela Espanha. E fala-se de construir centrais no Magrebe. Não existe unanimidade sobre quais os reais riscos do nuclear, mas em qualquer caso a segurança total só seria possível com um consenso mundial. E, uma vez mais, tabus não fazem sentido.

DN, 17-7-2008
 
Crise relança debate sobre energia nuclear

ANA TOMÁS RIBEIRO e MÁRCIO ALVES CANDOSO

Em discussão. O aumento do preço do petróleo e de outros combustíveis dá o mote para um novo debate sobre o nuclear. As declarações do governador do Banco de Portugal deram um impulso. Mas o momento político também ajuda

Assunto vai estar na campanha eleitoral de 2009

Nuclear: sim ou não? A velha questão voltou a estar na ordem do dia. As declarações do Governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, quando, na terça-feira, apresentou as previsões da instituição para a economia portuguesa, deram um impulso à discussão. Mas o preço do petróleo é a razão que dá força a este debate, com alguns políticos e empresários a defenderem o nuclear como a solução para os problema da dependência petrolífera do país e outros a dizerem que não é por aí que passa o futuro do sector energético português. Contudo, os custos das emissões de CO2 que o sector electroprodutor está a pagar também não é alheio a tudo isto. E o momento político em Portugal também ajuda.

Pedro Sampaio Nunes, o responsável da Energia Nuclear de Portugal - a empresa criada, há cerca de três anos, pelo empresário Patrick Monteiro de Barros para desenvolver o projecto de uma central nuclear no País - diz que não tem dúvidas que aquele vai ser um assunto a debater na campanha eleitoral das próximas legislativas a realizar em 2009. Na sua opinião, as declarações de Vitor Constâncio são também um sinal de uma certa mudança de atitude face a este assunto dentro do próprio Partido Socialista (PS). Na realidade, ainda no início deste mês, a propósito da "crise" dos combustíveis, o PS sugeriu, na comissão de Assuntos Económicos da Assembleia da República, que os deputados visitassem no próximo ano parlamentar a central nuclear de Almaraz, em Espanha, e que visitassem outras unidades de produção de energia renovável.

Vítor Constâncio falou da necessidade de se estudar a alternativa do nuclear como uma, entre outras, que poderá contribuir para a redução da dependência energética de Portugal, um problema que está a criar sérias consequências para a economia nacional. E as reacções não se fizeram esperar.

Desde logo, o Governo, pela voz de Pedro Silva Pereira, Ministro da Presidência, esclareceu, que tal como o primeiro-ministro, José Sócrates, tem vindo a dizer, este assunto não faz parte da agenda do Executivo, pelo menos até ao final da legislatura. Mas o socialista João Soares acrescentou que esta deve ser uma alternativa a estudar.

Quem não reagiu bem foram os ambientalistas. E um dos responsáveis pela elaboração do programa do Governo para a Energia, Oliveira Fernandes, prefere pensar que Vítor Constâncio só fez "aquelas afirmações por lapso".

Não é só em Portugal que o nuclear está a ser discutido. Também a nível internacional a questão tem merecido a atenção de vários responsáveis do sector energético, entre os quais o director executivo da Agência Internacional para a Energia que disse, recentemente, que são precisas mais 32 centrais nucleares no mundo para se reduzir a dependência do petróleo. Com Eva Cabral e agências

DN, 17-7-2008
 
"Discussão não faz sentido"

ANA TOMÁS RIBEIRO

Contra. Oliveira Fernandes, Presidente da Agência de energia do Porto

País tem um grande potencial de eficiência energética a explorar

"Se não foi um lapso, é lamentável que o Governador do Banco de Portugal tenha feito as afirmações que fez". É desta forma que Eduardo Oliveira Fernandes, ex-secretário de Estado e um dos responsáveis pelo programa do Governo para a área da energia, se refere às declarações de Vítor Constâncio defendendo o debate sobre a energia nuclear. O que é necessário é fazer-se um estudo e não discutir mais este assunto, diz. Para este especialista, a energia nuclear não resolve o problema da dependência petrolífera do país, que reside no sector dos transportes, e só servirá para satisfazer um quinto das nossas necessidades energéticas, com custos elevados. Incluindo os de desmantelamento das centrais, que anda perto do valor de um projecto novo. É nas renováveis que o país deve apostar, defende. Hoje, 40% da electricidade que consumimos já é produzida a partir destas fontes de energia. E temos um potencial enorme de eficiência energética ainda por explorar.

DN, 17-7-2008
 
Nuclear 'civil' tem mais onze interessados

MÁRCIO ALVES CANDOSO

Maioria dos países que já tem reactores quer instalar mais

Não é só em Portugal que o debate sobre o nuclear está latente. Segundo dados coligidos pela World Nuclear Association (WNA), há neste momento onze países em vários continentes que não têm qualquer central nuclear em laboração ou construção - ou sequer decidida a nível político - mas nos quais existem projectos de viabilização futura deste género de energia. O rol dos que pretendem aderir ao nuclear civil (para produção de energia eléctrica) vai desde o Irão ao Egipto, passando pela, Indonésia, Tailândia ou Vietname. Bangladesh, Bielorrúsia e Turquia são os restantes. Portugal, até ver, não faz parte das estatísticas da WNA. Israel e Coreia do Norte são os restantes países citados pela WNA como não fazendo uso da sua capacidade nuclear para produzir electricidade.

A maior parte dos países que já tem centrais produtoras de energia nuclear quer construir mais. As excepções à regra são a Espanha - que está a desactivar paulatinamente a sua rede de centrais - a Holanda e a Suécia. De resto, dos 30 países que actualmente têm centrais nucleares em funcionamento, 17 programou já a construção de uma ou várias. Nesta núcleo estão a França, Finlândia, Suíça, Eslováquia, Ucrânia, Roménia, Bulgária e Rússia, só para falar dos europeus. A eles se juntam Brasil, Argentina, Canadá, Estados Unidos, Índia, Japão, Coreia do Sul, China e Paquistão.

Nos últimos três anos, apenas três países a nível mundial decidiram desactivar algumas das suas centrais. Trata-se da Espanha, Suécia e China. No entanto, neste último caso, as que deixaram de produzir foram substituídas por outras centrais mais modernas. Actualmente, existem no Mundo 13 novos projectos para produzir mais eficazmente energia nuclear.

DN, 17-7-2008
 
Solução para muitos males

ANA TOMÁS RIBEIRO

A favor. Pedro Sampaio Nunes, Empresário

Nuclear contribui para reduzir custos da electricidade

A energia nuclear vem resolver vários problemas do país no sector energético. Quem o diz é Pedro Sampaio Nunes, o responsável da Energia Nuclear de Portugal, empresa criada pelo empresário Patrick Monteiro de Barros para desenvolver o projecto de uma central nuclear para Portugal. Para Sampaio Nunes, a energia nuclear é mais barata do que a produzida a partir de outros combustíveis fósseis como o carvão e o gás natural e menos poluente, logo vem reduzir os custos de produção da electricidade produzida. É que o carvão e o gás natural, cujo preço está indexado ao do petróleo têm vindo a aumentar e os custos das emissões de CO2 também são elevados, relembra. Por outro lado, o nuclear é uma fonte estável de produção de energia, enquanto as renováveis são mais instáveis. Quanto à dependência petrolífera do dos transportes, Sampaio Nunes diz que a solução passa pelos biocombustíveis mas também pelo uso de comboios e carros movidos a electricidade.

DN, 17-7-2008
 
Cavaco quer Portugal a estudar hipótese nuclear

SUSETE FRANCISCO e EVA CABRAL

Um dia depois de o Governo ter afirmado que a introdução da energia nuclear em Portugal está fora da agenda, Cavaco Silva vem dizer que esta é uma possibilidade a ser "debatida e estudada". Oposição acusa Vítor Constâncio - que lançou o debate - de ter criado uma manobra de diversão

Presidente da República evoca interesse nacional

A hipótese de Portugal avançar para a exploração de energia nuclear deve ser "debatida e estudada". Quem o diz é o Presidente da República. Para Cavaco Silva, o País deve analisar qual a solução, em termos de política energética, que melhor serve o interesse nacional.

A questão do nuclear foi lançada na última quinta-feira pelo governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, que defendeu na Assembleia da República que esta opção deve ser considerada. O Executivo de José Sócrates tem afastado esta hipótese. "O nuclear não está na agenda do Governo", afirmou na última quarta-feira o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, sustentando que a "prioridade continua a ser as energias renováveis e a eficiência energética".

Cavaco vem agora dizer que Portugal deve ponderar a matéria. "Na campanha eleitoral, foi-me feita essa pergunta. Nessa altura, respondi da seguinte forma: a questão deve ser debatida e deve ser estudada, por forma a encontrar o verdadeiro interesse nacional. Hoje não responderia de forma diferente", afirmou, à margem de uma visita a Celorico de Basto.

Também Marcelo Rebelo de Sousa - que serviu de guia à visita de Cavaco à biblioteca municipal de Celorico, onde é presidente da assembleia municipal - se pronunciou sobre a matéria. Para defender a nomeação de um grupo de especialistas que elabore um Livro Branco sobre o nuclear. Há que ter "informações sobre custos/benefícios, porque se não está tudo a discutir de cor" , afirmou, citado pelo Público online.

Um "jeito ao Governo"

Heloísa Apolónia, deputada de Os Verdes (PEV), juntou-se ontem à opinião já expressa pela líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, que defendeu que a hipótese levantada por Constâncio se destinou a desviar atenções da situação económica. O governador do Banco de Portugal "tem feito muitos jeitos ao Governo", afirmou.

José Eduardo Martins, vice-presidente da bancada do PSD, retomou a mesma crítica. Já o BE, pela voz de Alda Macedo, qualificou as palavras de Constâncio (que é ex-líder do PS) como "um coelho extraordinário a sair da cartola". com Lusa

DN, 18-7-2008
 
'Energia nuclear, já' defende a JS do Porto

FRANCISCO MANGAS

Juventude Socialista reunida no Porto

Próximo líder dos jovens socialistas quer apenas discutir o assunto

A fase de estudo e de discussão "já passou", Portugal deve optar de imediato pela energia nuclear. É esta a posição de Nuno Araújo, um dos subscritores de uma moção sobre o tema que a Juventude Socialista (JS) do Porto apresenta hoje no congresso. Duarte Cordeiro é o único candidato à liderança da JS.

Nuno Araújo considera que Portugal "dispõe das condições para instalar mais do que uma central nuclear", como é demonstrado pelos "estudos efectuados por Patrick Monteiro de Barros", empresário que defende há muito o nuclear em Portugal.

Segundo o jovem socialista do Porto, vários países Europeus estão a construir novas centrais, e Portugal terá de fazer o mesmo para não ficar "mais dependente" em termos energéticos. A Finlândia é um desses países, sublinhou. E "se a Finlândia serve como exemplo para muitas das nossa políticas, também deve ser seguida na política energética".

O Congresso da JS, que decorre hoje e amanhã no edifício da Alfândega do Porto, e conta com presença de José Sócrates na sessão de encerramento -, vai eleger Duarte Cordeiro como secretário-geral, o único candidato à sucessão de Pedro Nuno Santos.

Com uma posição mais suave do que a JS do Porto, Duarte Cordeiro considera que a questão da energia nuclear deve se discutida e estudada. A partir daí, os jovens socialistas devem tomar uma decisão. No entanto, refere, se a moção do Porto for aprovada pela maioria do congressistas, "será essa a posição da JS a partir da próxima segunda- feira".

Antigo vice-presidente do Instituto Português da Juventude Duarte Cordeiro, 29 anos, tem como uma das prioridades do seu mandato a continuação da luta pelo legalização do casamento homossexual. "O nosso trabalho agora deve ser convencer o PS, o casamento entre pessoas do mesmo sexo só será realidade quando conquistarmos o PS para a ideia."

"Agir por mais igualdade" é lema da candidatura. Duarte Cordeiro promete dar a conhecer o que o Governo socialista tem feito nos últimos três anos. Mas não só. A JS, sublinha, pretende "acrescentar ideias e desafios".

Um dos "sinais de igualdade" que Duarte Cordeiro quer ver do Governo, já em 2009, é a criação de "mais de mil estágios profissionais" destinados a jovens. Ao primeiro-ministro, vai propor, entre outras medidas, "portagens diferenciadas": um automóvel com quatro pessoas deve pagar menos do que um automóvel que leve uma, defende. Para reduzir o consumo de energia, a JS vai também "desafiar os organismos públicos a apresentarem as facturas energéticas e a reduzir o consumo no prazo de um ano".

DN, 19-7-2008
 
PEQUENOS PRAZERES

Jorge Fiel
redactor principal

Deve ser da idade. Comecei a saborear os pequenos prazeres do dia-a-dia, que só valorizava quando me faltavam.

Deixei de limitar aos minutos seguintes a um corte no abastecimento o prazer de usufruir de água abundante, com o simples gesto de abrir uma torneira.

Deixei de limitar às horas seguintes à saída do dentista o prazer de não ter os dentes a doer.

Deixei de limitar aos dias seguintes à saída do hospital - em que a noite custa imenso a passar, sem poder virar-me ou levantar-me, com uma agulha enfiada numa veia - o prazer de me deitar na minha cama larga e com colchão duro.

Nestas noites quentes de Verão, ancoro a felicidade do meu dia num ritual: chegar a casa, descalçar-me, pôr-me em boxers e T-shirt, acender a luz da cozinha, abrir o frigorífico, encher um copo de Evel branco fresco e sentar- -me na varanda a ouvir música no meu iPod, enquanto bebo o vinho e folheio uma revista.

Sinto-me um privilegiado quando olho para trás e vejo que durante séculos a fio os meus antepassados viveram despojados de prazeres banais como pegar no comando da televisão e fazer zapping, até parar na repetição do 6.º jogo das finais da NBA ou num episódio da série Irmãos e Irmãs. Ou acender o fogão para cozinhar uns ravioli com recheio de presunto. Ou lavar a louça com água quente. Ou acender o candeeiro da mesinha- -de-cabeceira para ler na cama O Código dos Wooster, de P. G. Wodehouse. Ou apagar a luz, programar para 90 minutos o temporizador do comando da aparelhagem, e adormecer a ouvir as músicas calmas do Oceano Pacífico.

Gostava de manter estas e outras rotinas até à conclusão dos meus dias. Adorava ter a certeza de que as gerações vindouras vão poder desfrutar de todos estes prazeres movidos a energia. Mas há uma nuvem negra no horizonte. O futuro não passa pelo petróleo que está estupidamente caro e cujas reservas devem esgotar-se em meados do século, quando o meu filho João tiver a idade que eu tenho hoje.

Portugal está esforçar-se seriamente para atenuar a enorme (90%) dependência face ao petróleo e à energia importada. Já conseguimos produzir a partir de fontes renováveis 39% da electricidade. Estamos a apostar mais e bem nas barragens, na conversão do sol, ondas e biomassa em energia. Mas não chega.

Nabuo Tanaka, o director executivo da Agência Internacional da Energia, diz que para se emancipar do petróleo, o mundo precisa de construir 32 novas centrais nucleares por ano até 2050. Andris Piebalgs, o comissário europeu da energia, afirma que é preciso apostar no nuclear e dar-lhe o lugar que merece no cabaz energético.

Os EUA, França, Espanha, Inglaterra, Suíça, Holanda, Suécia, Finlândia, Japão, Alemanha e Espanha têm centrais nucleares. O guru James Lovelock explica que a energia nuclear é única fonte disponível que não provoca o aquecimento do planeta. Cavaco, Constâncio e Mira Amaral avisam-nos que temos de pôr a opção nuclear em cima da mesa.

Neste cenário, é incompreensível a birra do Governo, que fundamenta numa promessa antiga a sua recusa autista em debater a questão nuclear nesta legislatura. Será que Sócrates já se esqueceu das promessas sobre impostos e Scut que fez na campanha eleitoral?

DN, 20-7-2008
 
SEIS DÉCADAS DE NUCLEAR UMA HISTÓRIA DE HIPOCRISIA

Leonídio Paulo Ferreira
jornalista
leonidio.ferreira@dn.pt

Ficou célebre o arrependimento de Robert Oppenheimer, o físico americano considerado o pai da bomba atómica. "Tornei-me a Morte, Destruidora de mundos", disse um dia, citando o Bhagavad Gita, clássico indiano que até era capaz de ler em sânscrito . Mas se o intelectual nova-iorquino que coordenou o Projecto Manhattan - e construiu tanto a bomba testada a 16 de Julho de 1945 no Novo México como as lançadas sobre o Japão - protestou anos mais tarde contra a corrida aos armamentos, nunca se livrou da suspeita de ter ajudado também a União Soviética a construir a sua versão. E antes de contestar a produção da bomba de hidrogénio, houve um tempo em que defendeu o uso das novas armas contra cidades, valendo tudo se o objectivo fosse derrotar os nazis e seus aliados.

Se existe certa hipocrisia em Oppenheimer, a verdade é que essa atitude é comum a toda a história do nuclear. Começa logo em Agosto de 1945, quando os Estados Unidos destroem as cidades de Hiroxima e Nagasáqui com a justificação de acabar a Segunda Guerra Mundial minimizando o número de vítimas. E prossegue quando o imperador Hirohito, derrotado, elege como protectores contra a nova ameaça soviética esses americanos que dias antes mataram 180 mil japoneses. Hipocrisia que se generaliza entre 1949 e 1965, quando soviéticos, britânicos, franceses e chineses se juntam ao restrito clube nuclear. Conseguem que o mundo reconheça a legitimidade dessa sua condição, por oposição a todos os outros que viriam a seguir. Afinal, eram eles os vencedores da guerra, os únicos com direito de veto na ONU.

Essa história de hipocrisia arrasta-se até hoje, quando o fantasma da catástrofe nuclear é tido como uma relíquia da Guerra Fria, mas continuam a existir 27 mil ogivas nucleares. Sobretudo americanas e russas, são suficientes para destruir várias vezes o planeta. E também se revelou na facilidade com que os Estados Unidos se esqueceram das sanções a indianos e paquistaneses pelos ensaios de 1998 quando descobriram, três anos depois, que precisavam desses dois países para a sua nova "Guerra ao Terrorismo". Ou na passividade global perante o arsenal israelita, dado como certo por todos, mas nunca admitido oficialmente por um país que insiste na tese de um Médio Oriente livre de armas de destruição maciça e que em 1981 fez os seus aviões de caça destruírem uma central nuclear iraquiana - agora ameaça fazer o mesmo ao polémico projecto de reactor iraniano.

E, por falar em Irão, que sentido faz um país com as segundas reservas de petróleo do planeta insistir na energia nuclear, apesar das ameaças de sanções vindas de todo o lado, e Portugal, com uma taxa de dependência energética de 99%, recusar sequer debater o tema? E que mais pode ser, senão hipocrisia, evocar a segurança como argumento contra a energia nuclear, quando no mundo existem 400 reactores e um deles (Almaraz) fica a 200 quilómetros da fronteira portuguesa?

DN, 21-7-2008
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?