31 julho, 2008

 

Jogos olímpicos


Pequim




http://pt.wikipedia.org/wiki/Jogos_Ol%C3%ADmpicos_de_Ver%C3%A3o_de_2008

http://jogosolimpicospequim.com/
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http://www.comiteolimpicoportugal.pt/

Comments:
China em alerta após explosões mortíferas

PATRÍCIA VIEGAS

A menos de três semanas do início da competição, duas bombas explodiram na cidade de Kunming, província de Yunnan, fazendo pelo menos três mortos e 14 feridos
A menos de três semanas da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, a China voltou a apanhar um susto: duas bombas explodiram ao início da manhã de ontem em dois autocarros na cidade de Kunming e fizeram pelo menos três mortos e 14 feridos. As explosões aconteceram com menos de uma hora de intervalo.

A polícia falou em "actos intencionais de sabotagem", mas não forneceu mais dados sobre a origem das explosões que ocorreram naquela cidade da província de Yunnan, situada a 2100 quilómetros de Pequim - a capital que já está fortificada para receber os Jogos Olímpicos, que começam a 8 de Agosto.

As duas explosões ocorreram em hora de ponta. A primeira aconteceu pouco depois das 07.00 (passavam alguns minutos da meia-noite em Lisboa) num autocarro parado em frente a um hospital, diz o Diário de Yunnan, o qual publicou fotos do incidente no seu site da Internet. As imagens mostram um autocarro vermelho, com os vidros partidos, embora o pára-brisas tenha ficado intacto, indicou um comunicado do Gabinete de Segurança Pública da província de Yunnan citado pela AFP.

A segunda bomba explodiu na mesma avenida de Kunming, mas um pouco mais longe da primeira, tendo a televisão local exibido imagens de um autocarro esventrado. Duas das vítimas morreram no local e uma terceira a caminho do hospital, segundo as agências, citadas pelo El Mundo online.

A polícia isolou e evacuou de imediato os locais das explosões e começou a fazer controlo de identidade a todas as pessoas que estavam na zona.

"As pessoas estão muito abaladas. É chocante que uma coisa destas tenha acontecido em Kunming", disse um empregado de hotel à AFP, recusando, porém, ser identificado. Há dois meses uma explosão de origem desconhecida num autocarro matou três pessoas em Xangai. Na altura, a polícia limitou-se a explicar que a presença de líquidos inflamáveis provocara o incêndio do veículo. Este autocarro, ao contrário dos de ontem, ficou totalmente queimado.

As explosões em Kunming aconteceram numa altura em que as autoridades chinesas não se cansam de alertar para o risco de atentados terroristas durante os Jogos Olímpicos. Os ataques poderiam vir nomeadamente da região islâmica de Xinjiang, no Noroeste da China, onde vivem dez milhões de muçulmanos. No dia 7 de Março, as autoridades dizem ter abortado uma tentativa de sequestro de um avião por parte dos rebeldes independentistas de Xinjiang.

O Movimento Islâmico do Turquistão Oriental é considerado terrorista pela ONU, sendo usado pela China como justificação para os 150 mil homens das forças de segurança, polícia e Exército, que deverão assegurar umas Olimpíadas sem incidentes. A primeira competição após os atentados do 11 de Setembro, em Atenas, mobilizou só cem mil. "Pequim enfrenta um risco muito maior", garantiu à AFP o especialista em terrorismo Rohan Gunaratna.

DN, 22-7-2008
 
Fernando Mota critica objectivo de medalhas "fáceis"em Pequim

CIPRIANO LUCAS

Atletismo apresenta equipa de 24 atletas

"Ao contrário de outros dirigentes do desporto português não prometemos medalhas mas sim lugares nas finais [oito primeiros]. Não queremos passar a imagem aos portugueses de que conquistar medalhas é fácil", afirmou ontem Fernando Mota, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), em Lisboa, no decorrer da apresentação da maior equipa portuguesa presente nos Jogos Olímpicos de Pequim, com 24 elementos apurados entre os 77 de todas as modalidades que vão aos Jogos. " Depois de chegarem à final, os atletas poderão sonhar com uma medalha, objectivo muito difícil de alcançar", assumiu, para acrescentar de seguida que "alguns dos dirigentes quando apontam objectivos para Pequim, deveriam ter primeiro consultado as federações. Mas não o fizeram. Apesar de ambiciosos somos mais prudentes. Temos consciência tranquila de que tudo fizemos para dar as melhores condições de treino", completou, referindo-se naturalmente aos responsáveis do Comité Olímpico de Portugal, que apontam como objectivos quatro a cinco medalhas para Portugal . "Não temos receio de apontar objectivos até porque somos a modalidade que mais medalhas conquistou para Portugal", recordou Mota, referindo as duas últimas em Atenas, de Francis Obikwelu (prata nos 100 metros) e Rui Silva (bronze nos 1500 metros). "Agora temos consciência da grande dificuldade que é subir ao pódio", referiu. "O desporto em Portugal melhorou muito nos últimos anos. Temos outras modalidades com possibilidades, mas temos de ter consciência de que os outros países também evoluíram e têm um elevado potencial", acrescentou.

Ainda assim, o presidente da FPA assume que "as probabilidades de medalhas aumentaram nos últimos anos com os bons resultados internacionais, mas Mota não quer apontar nomes", como são os casos de Naide Gomes, Nelson Évora e Obikwelu, três esperanças para Pequim.

DN, 22-7-2008
 
Jogos Olímpicos vão ter direito a 457 horas na RTP

FILIPE FEIO

Os canais RTP1, RTP2 e RTPN vão apostar em força na transmissão dos Jogos Olímpicos. De acordo com o director de Informação da estação de serviço público, José Alberto Carvalho, vai ser "a maior cobertura de sempre de um acontecimento desportivo", que se inicia no próximo dia 8 de Agosto
RTP1, RTP2 e RTPN irão dedicar 457 horas à transmissão dos Jogos Olímpicos, revelou ontem o subdirector de Informação do operador público, Miguel Barroso, que ontem deu a conhecer a operação que a estação preparou para o evento desportivo que vai decorrer em Pequim, na China, de 8 a 24 de Agosto.

Recorrendo à matemática, e com o objectivo de sublinhar a dimensão do projecto que a RTP montou, "a maior cobertura de sempre de um acontecimento desportivo", Miguel Barroso destacou que o total das transmissões efectuadas pelos três canais se vai traduzir, na prática, em 19 dias de desporto olímpico no pequeno ecrã, um valor que ultrapassa até o próprio período de 16 dias em que os Jogos se vão disputar.

Um valor que, como explicou o director de Informação da estação, José Alberto Carvalho, não inclui as transmissões que vão ser efectuadas através do RTP HD, um canal que deverá emitir em alta definição através da Zon TV Cabo, e que aguarda apenas a autorização da ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

Além disso, explicou o responsável, os Jogos Olímpicos vão também estar disponíveis na RTP Mobile (no telemóvel) e no site da RTP, em que será possível escolher entre os 12 sinais de vídeo das diferentes modalidades que a organização chinesa dos Jogos disponibilizará em simultâneo.

Jorge Wemans, director da RTP2, canal que vai assegurar 182,5 horas de transmissões dos Jogos, recordou que a estação pública é a que mais atenção dedica às modalidades que não futebol e desporto motorizado. No ano passado, a estação de serviço público foi responsável por 90% do tempo de emissão dessas modalidades em canal aberto, explicou o responsável.

De acordo com Jorge Wemans, a cerimónia de abertura, que será transmitida no dia 8 de Agosto, às 13.00, pela RTP2, deverá ser "absolutamente espectacular", porque "é a imagem da China que está em causa", país que deverá querer marcar estes jogos pela sua exibição "como uma grande potência".

A participação dos atletas portugueses terá atenção especial, e será transmitida em directo. Se atingirem as finais, terão preferencialmente direito ao primeiro canal, explicou Miguel Barroso. Além disso, todos os blocos informativos vão acompanhar as notícias dos Jogos, e será transmitido um Jornal Olímpico às 18.00, na RTP1, e às 19.00, na RTP2.

DN, 26-7-2008
 
Os Jogos Olímpicos chineses arriscam-se a ser os mais aborrecidos de sempre. A par com a competição renhida, as Olimpíadas têm sempre associado o tom de festa desportiva, de alegria e espectáculo. Como foi exemplo a última edição, na qual as cidades gregas se abriram aos turistas em festas pela noite fora.

Este ano, as autoridades chinesas estão a fazer tanto para que as coisas corram bem que podem correr bem demais. Que isso aconteça dentro dos estádios, não é mau. O problema é que a febre de controlo chinesa tem outras razões. Teme um ataque terrorista - grave para o mundo - ou alguma manifestação política - pior para a China do que para o mundo.

O país está a tentar evitar danos da maneira que melhor conhece, o controlo. Foram proibidos festas e concertos de rua, piqueniques, e todos os artistas têm de fazer passar as suas letras pela censura. Os bares têm de fechar às duas da manhã. Londres queria fazer uma grande festa de publicidade dos seus jogos em 2012 e foi proibida. E, facto inédito, as transmissões televisivas dos jogos terão um atraso de dez segundos para a China, para dar tempo às autoridades de censurar o que precisarem. O mundo todo vai saber quem é o vencedor da prova dos cem metros - e muito provavelmente a prata e o bronze - antes dos chineses, com os Jogos à porta.

A China está quase a dar razão aos seus críticos. Em vez de os Jogos serem uma óptima campanha de publicidade, podem tornar-se na montra de um regime que ainda está mais longe da democracia do que quer fazer parecer.

DN, 28-7-2008
 
Jogos mostram a china repressiva

ABEL COELHO DE MORAIS

A Amnistia Internacional considera que desde que a China foi escolhida para os Jogos Olímpicos em 2001, se deteriorou a situação dos direitos humanos. As autoridades usaram os Jogos como pretexto para intensificar a repressão, neutralizando as ilusões de alguns sobre uma possível abertura do regime

País critica Amnistia Internacional

O legado dos Jogos Olímpicos de Pequim não será positivo para os direitos humanos na China, conclui um relatório da Amnistia Internacional (AI) ontem divulgado, em que se traça um quadro pessimista sobre a repressão política no país que acolhe as XXIX Olimpíadas de hoje a oito dias.

O documento da AI conclui não se terem verificado mudanças qualitativas em aspectos centrais como a pena de morte, perseguições a activistas e opositores políticos, prisões sem julgamento. O relatório nota ainda o aumento das medidas restritivas nos media e na internet, acentuando uma tendência constatada em outros trabalhos da AI sobre a situação dos direitos humanos na China.

As conclusões da AI coincidem com um anúncio do Comité Olímpico Internacional (COI) em que avisa os jornalistas na China a acompanharem os Jogos de que a internet estará sob vigilância das autoridades e que estas vão bloquear muitos sites de conteúdo negativo para o regime.

O anúncio do COI vem confirmar os receios daqueles que consideravam vazias as promessas chinesas em matéria de direitos humanos e liberdade de imprensa, quando o país foi escolhido em 2001.

A situação obrigou ontem um dos principais responsáveis do COI, Kevan Gosper, a clarificar o alcance do livre acesso à Internet, mantendo que este se aplicava apenas a questões e sites relacionadas com as "competições olímpicas".

Um exemplo do controlo da internet era mencionado ontem num comunicado da AI, em que dava conta de estar bloqueado o acesso ao seu site - além de outros relacionados com a questão do Tibete, a BBC e medias de Taiwan, referiam por sua vez as agências - a partir do centro de imprensa dos Jogos em Pequim.

Exemplo da actuação das autoridades face aos media estrangeiros é o facto referido no relatório da AI: só este ano, já se registaram 230 casos de obstrução à actividade de elementos dos media credenciados na China.

Pequim criticou o relatório: um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros disse que o relatório resulta de "uma visão distorcida" que aquela organização perpetua, em vez de "olhar para a China de uma forma equilibrada e objectiva, e actuar de forma mais construtiva".

O balanço da AI, intitulado Contagem Decrescente para as Olimpíadas: As Promessas Falhadas, analisa a actuação das autoridades de Pequim em áreas em que se podem invocar valores olímpicos - como a dignidade humana - e conclui que ao contrário do defendido por alguns, de que os Jogos seriam um instrumento de liberalização do regime, este manteve a actuação repressiva e intensificou-a.

Para uma das responsáveis da AI, Roseann Rife, a preparação dos Jogos "causou a deterioração dos direitos humanos". A actuação do Governo em todo o processo de modernização de Pequim, ao proceder à deslocação forçada de populações, à destruição compulsiva de áreas inteiras da cidade e a medidas repressivas sobre elementos "indesejáveis" são disso exemplo.

As conclusões da AI são também duras para com o COI, que acusa de um excesso de reverência para com o Governo chinês. O relatório cita declarações do presidente do COI, Jacques Rogge, desde 2002 até hoje, em que os seus comentários sobre a situação na China não são seguidos por nenhum tipo de acção por parte daquele órgão.

Em contrapartida, o responsável do COI para os Jogos de Pequim, Hein Vebruggen, elogiou as autoridades chinesas, "não mencionando qualquer violação específica de direitos humanos", lê-se no relatório da AI.

PEQUIM PRESSIONA JURISTAS PREOCUPADOS COM O TIBETE

As manifestações antichinesas no Tibete constituem o mais recente exemplo, segundo a Amnistia, de como as autoridades de Pequim prosseguem numa política sistemática de violação dos direitos humanos, de repressão e de censura nos media. Muitos activistas continuam a ser presos e julgados, enquanto outros são forçados a cumprir longas penas em prisão domiciliária. O relatório da AI nota que, à medida que se aproximava a data das Olimpíadas, as autoridades acentuaram a pressão sobre os activistas e as suas famílias, acusando os primeiros de crimes abstractos, como de serem um "risco para a segurança do Estado", de defenderem o "separatismo", ou de "revelarem segredos de Estado". O Governo chinês tem também procurado pressionar juristas que se envolvem nas questões da oposição política e dos activistas de direitos humanos. A AI cita o caso dos advogados Teng Biao e Jiang Tiayong que, em Maio deste ano, virem ser-lhes retiradas as suas licenças para a advocacia, depois de ambos terem assinado, com outros juristas, um documento no mês anterior oferecendo ajuda legal sem honorários aos tibetanos detidos nos protestos em Lassa. Segundo estes juristas, foi-lhes comunicado formalmente que nem eles nem os seus escritórios deviam ter qualquer envolvimento na questão do Tibete. A licença de Jiang Tiayong acabou por ser renovada, mas Teng Biao continua interdito de aparecer em tribunal.

LISTA NEGRA. Da pena de morte ao reforço da censura na Internet

A FALSA TRANSPARÊNCIA NO CASO SICHUAN

A AI refere que as autoridades chinesas prosseguiram uma política de transparência inicial após o terramoto de Sichuan, permitindo o acesso à região dos órgãos de comunicação e descrevendo com relativa exactidão os factos. Mas esta atitude depressa mudou, quando começaram a ser revelados detalhes comprometedores para o regime e para os responsáveis do Governo e do partido. O relatório afirma que "quando as famílias das vítimas começaram a exigir a responsabilização" pela deficiente construção das escolas e quando aquelas quiseram viajar para Pequim, foram impedidas pelas autoridades locais.

AS RESTRIÇÕES AOS ESTRANGEIROS

Lê-se no relatório que o Comité chinês dos Jogos divulgou no início de Junho um conjunto de regras que, segundo a Amnistia, viola o direito de expressão e associação dos estrangeiros de visita à China durante o evento. "E isto inclui os atletas, os dirigentes e outros visitantes", escreve a AI. Segundo aquele código, os estrangeiros não podem colocar "em risco a segurança do Estado, prejudicar os direitos e interesses da sociedade nem perturbar a estabilidade social". Os estrangeiros são aconselhados a não levarem para a China livros, jornais ou DVDS que "prejudiquem a política, a economia, a cultura e a moral".

O LIMITE DAS REFORMAS NO CASO DA PENA DE MORTE

A AI nota que há cada vez mais académicos e juristas a expressarem reservas sobre a aplicação da pena de morte, com a imprensa a divulgar casos da execução de inocentes. Estes casos e os comentários dos especialistas mantêm o tema na primeira linha da actualidade. O facto do Supremo Tribunal Popular rever todas as condenações à morte é saudado pela AI, mas não deixa de lhe reconhecer limites e aspectos "opacos". A Amnistia denuncia o facto de não serem divulgados os números de execuções e a hipocrisia das autoridades chinesas terem substituído o fuzilamento por uma injecção com o argumento de ser "mais humana". A AI denuncia ainda o facto de ser elevado o número de crimes (quase 70) susceptíveis da pena capital.

CONTROLO E RESTRIÇÕES NA INFORMAÇÃO

O relatório da AI cita compromissos assumidos por Pequim de transmitir em directo "sem atrasos" os eventos dos Jogos para, em seguida, por em contraste as promessas com os factos. Além de inúmeros casos de jornalistas estrangeiros impedidos de fazer o seu trabalho, a AI sublinha que os "jornalistas chineses vivem sujeitos a um clima de censura e controlo oficiais, muitos deles a cumprirem longas penas de prisão". Também "os controlos da internet têm sido reforçados à medida que se aproximam os Jogos", ao contrário do prometido pelas autoridades.

EXCESSOS NA REPRESSÃO NO TIBETE

A Amnistia considera que Pequim utilizou meios excessivos para restabelecer a ordem na capital do Tibete, Lassa. O Relatório refere o "uso de força excessiva, por vezes mortal contra os manifestantes". Embora reconheça, citando fontes tibetanas, que a maioria dos detidos em Março já foi libertada, denuncia o facto de, até hoje, Pequim nunca ter explicado as condições em que foi morta a maioria dos manifestantes assim como não fornece elementos sobre os que permanecem presos nem sobre o seu local de detenção.

DN, 30-7-2008
 
COI "desiludido" com a censura da China

CIPRIANO LUCAS

Pequim 2008. 'Sites' como BBC e Amnistia Internacional estão bloqueados

"Não podemos dizer aos chineses o que devem fazer", assume o COI

O Comité Olímpico Internacional (COI) está "decepcionado" e irá analisar "seriamente" a censura aos 25.000 jornalistas que farão a cobertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, entre 8 e 24 de Agosto. Os repórteres terão acesso condicionado à Internet, como por exemplo a sites da organização Amnistia Internacional, da BBC, da rádio alemã Deutsche Welle, bem como de jornais de Hong-Kong, Apple Daily, e de Taiwan, Liberty Times, entre outros.

"Penso que é um assunto que o COI vai levar muito a sério. Estou decepcionado pelo facto do acesso não ser maior. Todavia, não podemos dizer aos chineses o que devem fazer", disse o assessor de imprensa do COI, Kevan Gosper.

John Coates, Chefe da Missão Australiana a Pequim e membro do COI, referiu que o presidente do COI, Jacques Rogge, e o director de imprensa do Comité, Kevan Gosper, vão ter "discussões muito sérias com as autoridades chinesas" acerca deste assunto. Todavia, numa entrevista à imprensa estrangeira, há duas semanas, Rogge insistiu que não ia existir censura na Internet durante os Jogos Olímpicos.

Essa limitação à utilização da Internet contraria as promessas da China de garantir liberdade total aos media durante o evento. "Durante os Jogos Olímpicos, vamos fornecer um acesso à Internet suficiente para os jornalistas", indicou Sun Weide, porta-voz do comité de organização dos Jogos Olímpicos.

De acordo com a mesma fonte, haverá outros sites que não estarão acessíveis à imprensa. "A nossa promessa era que os jornalistas pudessem dispor de Internet para o seu trabalho durante os Jogos Olímpicos. E nós concedemos acesso suficiente para isso", acrescentou Sun.

As autoridades chinesas controlam o acesso à Internet com a chamada "Great Firewall of China", que bloqueia a informação que o Partido Comunista considera imprópria, não saudável ou uma ameaça à sua governação.

DN, 31-7-2008
 
O OLIMPISMO TÃO REVOLUCIONÁRIO COMO MAO

Ferreira Fernandes
ferreira.fernandes@dn.pt

Fuwa Huanhuan é uma das mascotes dos JO de Pequim e, num desenho de uma parede de Pequim, remata uma bola de futebol com o pé esquerdo, no melhor estilo de Futre. Um garoto (ver a foto desta crónica) responde a Fuwa Huanhuan como se fosse um lutador de arte marcial...

Após estes JO certamente que se conhecerá mais sobre futebol na China. No fim de Agosto, o miúdo de Pequim saberá que o seu pé direito não deve atacar o pé esquerdo de Fuwa Huanhuan mas, sim, a bola (aquela coisa redonda com bolinhas pretas).

Os JO têm sido um formidável modificador dos costumes dos povos - e como o Comité Olímpico Internacional (COI), que os organiza, tem mais países representados do que a ONU, é o planeta inteiro que foi moldado pelos Jogos.

Ontem, quando o miúdo de Pequim ainda estava no passo errado no futebol, a China dava um passo na direcção certa da liberdade de informar. Recuou e suspendeu as restrições ao uso da Internet por jornalistas credenciados para as Olimpíadas deste mês.

A população em geral ainda não pode abrir um daqueles sites perigosos (como os da seita Falun Gong, proscrita no país). Mas os jornalistas credenciados em Pequim já têm acesso à BBC, em chinês... É pouco? Como o apetite vem com o comer, talvez seja um movimento irreversível.

A história moderna dos Jogos Olímpicos está cheia desta capacidade de mudar. Os primeiros 15 membros do Comité Internacional dos Jogos Olímpicos, criado em 1894, eram todos homens e todos europeus e americanos. Um terço deles era nobre, adeptos do desporto amador, um hobby para gente com tempo e posses e nunca uma profissão, como queriam as classes trabalhadoras.

E, como dizia o barão Pierre de Coubertin, sim, havia lugar para as mulheres nos JO: dando as medalhas aos deuses-homens dos estádios... Mas logo nos segundos JO, em Paris, 1900, houve 12 mulheres a concorrer. Nos JO de St. Louis, EUA, em 1904, organizaram-se provas paralelas para os povos "primitivos". Puro racismo, mas a verdade é que nos Jogos oficiais já houve, nesse ano, dois negros americanos que entraram em competições e ganharam medalhas...

Os JO foram sempre o reformismo em movimento. As conservadoras autoridades chinesas vão surpreender-se com as consequências da sua pequena abertura na liberdade de acesso à Internet... Ou talvez não se surpreendam, porque conhecem bem o papel modificador dos JO. O Governo aproveitou a ocasião para mudar hábitos ancestrais: não se deve sair à rua de pijama, os homens devem fazer a barba todos os dias, todos devem comer alho moderadamente... Se calhar este Agosto vai mudar mais a China do que a campanha de Mao conhecida como Grande Salto em Frente (1958-60).

DN, 2-8-2008
 
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