15 julho, 2008

 

Lontra


brincalhona




http://pt.wikipedia.org/wiki/Lontra

http://www.tecnet.pt/portugal/28035.html

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Uma pescadora brincalhona

ROBERTO DORES, Setúbal

Não se sabe quantas há, mas os biólogos têm a certeza de que existem muitas lontras espalhadas pelas zonas húmidas de Portugal. Ao contrário do resto da Europa. Mas as barragens, a poluição e até a caça furtiva são factores de apreensão quanto ao futuro desta inteligente pescadora

A sua presença é sinal da boa qualidade da água

Pode não ser por muito mais tempo, mas, por agora, Portugal ainda é um paraíso das lontras na Europa. Só as regiões de Lisboa e do Porto pagam a factura do chamado progresso. Mas os biólogos estão atentos ao evoluir da espécie e até têm em carteira o que pode ser apelidado de plano de salvaguarda. É que a lontra já foi mais consensual entre os humanos. Por detrás daquele ar brincalhão e simpático esconde-se um inteligente devorador de peixe, que lança frequentes ataques a produções de aquacultura. Os proprietários começaram a retaliar.

Enquanto a poluição contribuiu para devastar comunidades inteiras por diversos países do Velho Continente, sobretudo nas décadas de 60 e 70, a Lutra lutra (a lontra-europeia) manteve-se estável ao longo de uma área próxima dos dois mil quilómetros quadrados de norte a sul de Portugal. Não é nada fácil avistá-la. Ainda não há estudos que permitam avaliar com algum rigor o número de lontras existentes no País, mas dos 77 locais já prospectados na bacia do rio Sado, os biólogos identificaram indícios da presença deste animal em 75, através de dejectos ou pegadas.

Uma boa notícia. "Aqui está uma prova inequívoca de que ainda conseguimos ter linhas de água com alguma qualidade", congratula-se Helena Ceia, do Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB). O estudo foi desenvolvido por 47 zonas húmidas, abarcando um estuário, três rios, quatro barragens e 39 ribeiras, numa área de geografia que se estendeu de Setúbal a Ourique, passando por concelhos como Palmela, Évora, Beja e Santiago de Cacém.

"Falamos de habitats que não estão tão degradados e que viabilizam a existência da lontra, apesar de se tratar de uma espécie que até se adapta a alguma degradação", explica Helena Ceia, alertando que a maior ameaça para a Lutra lutra são os esgotos domésticos, os efluentes de fábricas de concentrado de tomate, lagares de azeite, pesticidas e explorações mineiras. Factores com efeitos directos sobre a lontra, contribuindo para a perda do pêlo, fisiologia de reprodução e alteração ao nível da cadeia alimentar.

A sua dieta é essencialmente piscívora, embora no seu regime alimentar se incluam várias outras presas potenciais, pertencentes ao grupo dos anfíbios e invertebrados (principalmente crustáceos e insectos) e, em menor escala, pequenos mamíferos, aves aquáticas e répteis, variando em função dos locais e das épocas do ano. Em Portugal, os recursos alimentares parecem ter aumentado devido à introdução de peixes exóticos e do lagostim-da-luisiana.

E é ainda por causa da alimentação que a lontra passou a encontrar no homem um dos seus principais inimigos, com a perseguição de pescadores e proprietários de explorações piscícolas. Há quem garanta que a lontra, com dez quilogramas, é capaz de ingerir o equivalente ao seu peso, provocando prejuízos avultados nos tanques de piscicultura, embora Helena Ceia assuma que, no máximo, este animal poderá comer 10% do que pesa.

É devido à crescente animosidade junto do homem que a lontra começou também a ser caçada por simples desporto, pela sua carne ou pele, como garante uma simpática receita, embora a sua comercialização seja ilegal. Os especialistas assumem que o furtivismo em torno da lontra não representa uma ameaça muito significativa, mas que, associado a outros factores de risco, poderá começar a pôr a espécie em perigo.

Então se a tudo isto juntarmos os malefícios provocados pela construção de barragens, é caso para dizer que a Lutra lutra já conheceu melhores dias. As albufeiras reduzem a vegetação ripícola, dificultando a vida das lontras à hora de caçar, já que a ausência de locais encaixados impede o animal de encurralar as suas presas.

A Reserva Natural do Estuário do Sado surge como uma zona privilegiada para a nidificação desta espécie. Os biólogos admitem que o padrão de distribuição e as áreas vitais das lontras no Sado se relaciona "com a presença de água doce". As chamadas "populações de lontras residentes", por vezes, até se deixam fotografar pelos curiosos.

DN, 22-6-2008
 
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