17 julho, 2008

 

Parque


da Gorongosa




http://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_da_Gorongosa

http://www.gorongosa.net/

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NO TEMPO DO PARAÍSO PERDIDO

David Borges
Jornalista

É arrepiante olhar, da janela de um pequeno avião em voo, um paraíso sem vida, em tempo de guerra. O verde, em baixo, sem sinal de homens ou de animais. O azul por cima, sem nuvens e sem Deus à vista.

Só o avião se move, agora sobre uma estrada de asfalto, deserta. Lá ao fundo, o traço diagonal castanho de um autocarro, que há muito ardeu. As portas estão abertas e no chão há uma enorme mancha de combustível, óleo e resíduos queimados…

Como no livro Terra Sonâmbula, de Mia Couto, talvez um rapaz e um velho caminhem para ele, mas imagem, assim quieta e brutal, é a de um poema de José Craveirinha - o "machimbombo lotado de gente em viagem", cuja chaparia e respectivo tejadilho ficaram, "lá para o quilómetro 20 a oeste da Gorongosa, fuliginoso similar de frigideira, fritando várias doses de torresmos, derivantes fósseis de passageiros interrompidos antes do terminal", sobrando o "prosaico odor da sintomática machimbombesca fotocópia de esquife".

Com os pés de novo no chão, não longe dali, a vida reaparece, em quadros surrealistas.

Como o da camioneta amarela, sem pára-brisas, que, ao fim de uma tarde abrasadora, trava de repente e pára. De gatas, sai pelo pára-brisas o motorista branco, um madeirense chamado Lira. Da caixa aberta, saltam para o chão negros, com paus e azagaias nas mãos.

Tropa "Parama", de Manuel António, o líder de corpo fechado às balas, um poder dado por Deus, diz ele, e que transmite aos que o seguem. Estes "guerreiros antibala" atacam alucinados as posições da Renamo, em desordem e aos berros, assustando de morte os homens poderosamente armados, que fogem, depressa…

Na noite escura que se segue, no terreiro de uma aldeia, à luz, quase diabólica, da chama que dança no interior de um candeeiro a petróleo, Manuel António fala do seu poder e da força dos seus seguidores. Com olhos de místico ou de louco, muito abertos, fixos e vermelhos.

Morrerá, naturalmente a tiro, num ataque seguinte, algures na zona sobrevoada da Gorongosa, esse paraíso perdido à espera do novo tempo, com muita vida avistada do céu, toda a vida já normalizada no chão.

29-6-2008
 
O novo fôlego da Gorongosa

DAVID BORGES

Reabilitação. Devastado por 16 anos de guerra civil, que dizimou espécies e quase destruiu a fauna da região, o Parque Nacional da Gorongosa começou a ser reabilitado com o apoio da Fundação Carr. O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, considera o parque um instrumento essencial na estratégia de aproveitamento

dos grandes acontecimentos futebolísticos que vão ocorrer na região em 2010: o Mundial na África do Sul e a Taça das Nações em Angola

Parque Nacional é fundamental para atracção de turistas
Na véspera do Dia Nacional de Moçambique, 33 anos depois de Samora Machel se ter dirigido aos "operários e camponeses, trabalhadores das plantações, das serrações e das concessões, trabalhadores das minas, dos caminhos-de-ferro, dos portos e das fábricas, intelectuais, funcionários, estudantes, soldados moçambicanos no exército português, homens, mulheres e jovens", na proclamação da independência nacional, o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, abençoou, na Gorongosa, a entrada em vigor do plano de gestão conjunta do Parque Nacional, o principal ex-líbris do país e que já foi um dos mais importantes de África.

Quarta-feira, Armando Guebuza sublinhou a entrada em vigor do plano de gestão conjunta e projectou a importância do Parque Nacional da Gorongosa no quadro do desenvolvimento do turismo e no âmbito do próprio desenvolvimento do país e pediu o reforço da campanha "Made in Mozambique", por forma "a contrariar a tendência de oferecer aos visitantes o que Moçambique não produz, ao mesmo tempo que se esconde o que o país tem, na cultura, nas artes e na gastronomia".

A presença de Guebuza deu força institucional à ligação agora estabelecida entre o Governo de Moçambique, através do Ministério do Turismo, e a Fundação Carr, uma organização filantrópica norte-americana sustentada na riqueza de Gregory Carr, um homem que desenvolveu bem-sucedidas acções no plano das novas tecnologias e que agora gere importantes fundos orientados para a defesa do ambiente e dos direitos humanos e para o apoio às artes.

Gregory Carr, que se confessa apaixonado pela Gorongosa desde a primeira visita ao parque, garante que, "um dia, as actividades económicas organizadas no parque vão constituir a base económica do desenvolvimento do país" e diz que a Gorongosa poderá vir ser o mais importante ponto de turismo ambiental de África.

O plano de reabilitação do Parque Nacional da Gorongosa, iniciado em 2004, depois da estabilização conseguida com o fim da guerra civil em 1992, que devastou espécies e quase destruiu a fauna da região, entra agora, com os fundos disponibilizados pelas duas partes do plano, em fase de aceleração.

O ministro do Turismo, Fernando Sumbana, anunciou a reposição de mais de 300 quilómetros de estradas de acesso e turísticas no interior do parque, a construção de uma ponte sobre o rio Urema e o levantamento de estruturas como um centro de conferências, restaurante, bar, piscina, a criação de um lago artificial e, naturalmente, a reintrodução de espécies animais.

Já a curto prazo, Moçambique pensa enquadrar o Parque Nacional da Gorongosa numa estratégia turística de aproveitamento de grandes acontecimentos futebolísticos que, em 2010, vão ocorrer na região - a Taça das Nações Africanas, em Angola, e o Campeonato do Mundo, na África do Sul.

DN, 29-6-2008
 
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