08 agosto, 2008

 

8/8/2008


Abertura dos JO de Pequim




http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/jogos2008/index.php

http://www.pequim2008.com.pt/index.php

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LISBOA VAI VER OS JO PRIMEIRO QUE PEQUIM

Ferreira Fernandes

A primeira vez que fui a Pequim foi há uma dúzia de anos. O hotel, gerido pela corporação da polícia, tinha no átrio uma luxuosa tapeçaria com altura de dois andares. Mas, apesar de o hotel estar no centro, a janela do quarto devolveu-me uma cidade escura, de luzes amareladas e raras. Fui a um teatro, com os artistas de circo mais extraordinários, onde o pano de palco tinha buracos com tamanho de palmo.

Dessa ainda há pouco aldeia antiquada e enorme vão chegar- -nos - garanto, e isso é aposta fá-cil - as imagens de uma cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos que vão tornar, no dia seguinte, as conversas do mundo inteiro começadas todas por: "Tu viste?!" Tal será o maravilhamento geral. As imagens "roubadas" de um ensaio e que apareceram no YouTube (e logo retiradas) indignaram as autoridades chinesas mas aumentaram a expectativa. Sabe-se que o fogo-de-artifício desenhará no céu um dragão de 3,5 km.

De propaganda e saltos para a frente, a China conhece. Em 2003 mandou para o espaço o primeiro astronauta chinês, Yang Liwei. O espaço é um lugar importante para China: de lá, a única obra humana que se vê é a Grande Muralha, dizia um mito antigo. Porém, perguntado se a vira, o astronauta Yang, acabado de aterrar no deserto de Gobi, confessou: "Não." A notícia, vinda de um potencial herói, causou uma emoção nacional. Com o episódio as autoridades chinesas só confirmaram a ideia arreigada de que há que prevenir as más notícias.

Daí os dez segundos de atraso com que as imagens televisivas vão ser colocadas no circuito interno (o telespectador de Benavente, Ribatejo, verá tudo primeiro que o vizinho do estádio olímpico de Pequim).

Dez segundos é o tempo de uma corrida de 100 metros. Em 1936, nos JO mais policiados antes destes, em Berlim, o americano Jesse Owens correu os 100 m em 10,3s. Se Hitler pudesse tê-los apagado, os loiros alemães nunca saberiam que um negro era o homem mais veloz do mundo. O que ganhará a China com este trunfo de dez segundos?

Notícia, ainda, nestes preliminares dos JO de Pequim: o Comité Olímpico Internacional aceitou, como queria a China, que os jornalistas não possam aceder a algumas páginas da Internet. Mas nem sempre os jornalistas têm sido maltratados pelo olimpismo. Deixem-me lembrar-vos o mais sortudo de todos: o dinamarquês Edgar Aabey. Nos JO de Paris, em 1900, ele estava nas bancadas, enviado pelo seu jornal Politiken, quando faltou um dos oitos atletas da Dinamarca na final de tug-of-war (o puxar à corda, então modalidade olímpica). Aabey foi dar duas mãozinhas e voltou para casa campeão olímpico.

DN, 1-8-2008
 
Arranque dos Jogos Olímpicos mais caros e polémicos da história

Cerimónia de abertura alertará para a protecção do ambiente e apelará à paz

NUNO AMARAL

Sete anos depois de ter ganho a corrida à organização, a China vê finalmente chegar a hora da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos. Pequim está pronta para mostrar ao mundo a força da nova superpotência.

Mesmo que estejamos a falar de uma nação milenar, o dia 8 de Agosto de 2008 surge como um dos mais importantes da história da China. Pela primeira vez, o país mais populoso do mundo (1,3 mil milhões) vai organizar um evento à escala planetária, capaz de atrair a maior audiência televisiva de sempre e de arrastar todas as atenções. A partir das 20.08 horas de hoje em Pequim, menos sete em Portugal, cerca de mil milhões de pessoas estarão a assistir pela televisão à cerimónia de abertura dos Jogos, que inaugura duas semanas de intensa competição desportiva, com um recorde de 11 128 atletas em busca de 302 medalhas de ouro.

O grande evento é uma oportunidade de ouro para os chineses, sobretudo para o seu regime político, ditado nas últimas seis décadas pelo partido comunista. A abertura ao resto do mundo é evidente há vários anos, porque era virtualmente impossível fugir à globalização económica e social ditada pelo Ocidente, mas os Jogos Olímpicos surgem na hora certa. Em caso de sucesso, a população chinesa terá uma prova de que vale a pena continuar a acreditar no que lhe tem sido vendido…

Os últimos meses não têm sido fáceis para a organização, em função da pressão internacional em temas como os direitos humanos no Tibete, a segurança, o controlo da internet ou a poluição da capital chinesa. No entanto, para quem está em Pequim, é fácil concluir que os anfitriões estão preparados. Até agora, a forma como a cidade se organizou facilita imenso as coisas, com a excepção óbvia para a dificuldade que os chineses têm para falar inglês ou qualquer outra língua que não seja a deles.

A nível de infra-estruturas, sejam o fantástico estádio e piscina olímpica, pavilhões, centros de imprensa, redes viárias ou o aeroporto, tudo tem um aspecto digno de cinco estrelas. Seria mesmo estranho que fosse de outra forma, tendo em conta os 25 mil milhões de euros investidos pela China na organização destes Jogos Olímpicos, os mais caros da história. Continua a haver quem não viva nas melhores condições - era impensável que fosse de outra forma numa cidade com 17 milhões de habitantes - mas Pequim é hoje uma metrópole ao nível de qualquer outra na Europa ou Estados Unidos, com as melhores marcas mundiais no topo de arranha-céus futuristas. O cenário de chineses descalços a comer arroz é agora muito mais raro, ou então está bastante bem escondido…

Do ponto de vista desportivo, que só amanhã começará a ganhar mais importância do que tudo o resto, espera-se que o brilho de atletas como Michael Phelps supere a ameaça do doping. O nadador norte-americano ameaça tornar-se a maior figura da competição, caso consiga mesmo ultrapassar Mark Spitz e chegar aos oito títulos olímpicos na mesma edição dos Jogos (basta-lhe ganhar quatro para passar a ser o atleta com mais medalhas de ouro de sempre), mas existem outros nomes a acompanhar com atenção ao longo das próximas duas semanas, como os superatletas dos 100 metros (os jamaicanos Usain Bolt e Asafa Powell são os favoritos) ou as vedetas do basquetebol da NBA (o "dream team" de Kobe Bryant e Lebron James pretende recuperar a hegemonia perdida em Atenas).

Outras figuras serão da China, que pretende lutar com os EUA pela liderança do medalheiro olímpico, mas deverá haver heróis de várias nacionalidades, incluindo a portuguesa. Naquela que é considerada a melhor equipa lusa de sempre, com um total de 77 atletas, qualidade não parece faltar, com vários candidatos ao pódio. Nos próximos dias, ver-se-á se Telma Monteiro (judo), Vanessa Fernandes (triatlo), Nélson Évora (triplo salto), Naide Gomes (salto em comprimento) e todos os outros cumprem as expectativas.

As deles e as dos portugueses, que nestas alturas esperam sempre por grandes resultados de modalidades que por vezes conhecem apenas de ouvir falar…

JN, 8-8-2008
 
LISBOA VAI VER OS JO PRIMEIRO QUE PEQUIM

Ferreira Fernandes

A primeira vez que fui a Pequim foi há uma dúzia de anos. O hotel, gerido pela corporação da polícia, tinha no átrio uma luxuosa tapeçaria com altura de dois andares. Mas, apesar de o hotel estar no centro, a janela do quarto devolveu-me uma cidade escura, de luzes amareladas e raras. Fui a um teatro, com os artistas de circo mais extraordinários, onde o pano de palco tinha buracos com tamanho de palmo.

Dessa ainda há pouco aldeia antiquada e enorme vão chegar- -nos - garanto, e isso é aposta fá-cil - as imagens de uma cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos que vão tornar, no dia seguinte, as conversas do mundo inteiro começadas todas por: "Tu viste?!" Tal será o maravilhamento geral. As imagens "roubadas" de um ensaio e que apareceram no YouTube (e logo retiradas) indignaram as autoridades chinesas mas aumentaram a expectativa. Sabe-se que o fogo-de-artifício desenhará no céu um dragão de 3,5 km.

De propaganda e saltos para a frente, a China conhece. Em 2003 mandou para o espaço o primeiro astronauta chinês, Yang Liwei. O espaço é um lugar importante para China: de lá, a única obra humana que se vê é a Grande Muralha, dizia um mito antigo. Porém, perguntado se a vira, o astronauta Yang, acabado de aterrar no deserto de Gobi, confessou: "Não." A notícia, vinda de um potencial herói, causou uma emoção nacional. Com o episódio as autoridades chinesas só confirmaram a ideia arreigada de que há que prevenir as más notícias.

Daí os dez segundos de atraso com que as imagens televisivas vão ser colocadas no circuito interno (o telespectador de Benavente, Ribatejo, verá tudo primeiro que o vizinho do estádio olímpico de Pequim).

Dez segundos é o tempo de uma corrida de 100 metros. Em 1936, nos JO mais policiados antes destes, em Berlim, o americano Jesse Owens correu os 100 m em 10,3s. Se Hitler pudesse tê-los apagado, os loiros alemães nunca saberiam que um negro era o homem mais veloz do mundo. O que ganhará a China com este trunfo de dez segundos?

Notícia, ainda, nestes preliminares dos JO de Pequim: o Comité Olímpico Internacional aceitou, como queria a China, que os jornalistas não possam aceder a algumas páginas da Internet. Mas nem sempre os jornalistas têm sido maltratados pelo olimpismo. Deixem-me lembrar-vos o mais sortudo de todos: o dinamarquês Edgar Aabey. Nos JO de Paris, em 1900, ele estava nas bancadas, enviado pelo seu jornal Politiken, quando faltou um dos oitos atletas da Dinamarca na final de tug-of-war (o puxar à corda, então modalidade olímpica). Aabey foi dar duas mãozinhas e voltou para casa campeão olímpico.

DN, 1-8-2008
 
China desafia domínio americano no 'medalheiro'

União Soviética não tem nem metade das medalhas dos Estados Unidos da América

Os Jogos Olímpicos de Pequim, que começam no próximo dia 8, podem tornar-se na grande hipótese da China vencer pela primeira vez a competição. Na classificação dos países que ganharam mais medalhas no historial dos Jogos, a China encontra-se actualmente na 12.ª posição. Mas o regime chinês andou a preparar Pequim ao longo da última década para poder ter uma grande manifestação de força e vitalidade em casa, perante o Mundo. E prepara-se para o assalto ao domínio do quadro de medalhas nestes Jogos, com muitos dos seus atletas candidatos ao ouro nas respectivas modalidades.

A grande potência dominadora nos Jogos Olímpicos são os EUA, o país que mais medalhas arrecadou desde que o Barão de Coubertain decidiu reavivar a chama olímpica em 1896. Os norte-americanos já coleccionaram 2186 medalhas, 601 de bronze, 691 de prata e 894 de ouro. O facto de terem mais medalhas até é algo natural neste berço de estrelas. Como exemplo, na lista dos atletas que mais medalhas receberam numa edição de uns Jogos, em 71 atletas, 23 são norte-americanos, como os nadadores Mark Spitz (sete medalhas de ouro em Munique 1972, recorde que ainda não foi batido) e Michael Phelps (seis medalhas em Atenas 2004), ou o ginasta Anton Heida ( cinco medalhas, depois de fazer um brilharete em St. Louis 1904).

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) é o grande rival histórico dos EUA. Desmantelada em 1991, com a perestroika de Gorbachov, o total de medalhas dos soviéticos não é nem sequer metade da dos norte-americanos. Inclusive se se juntasse as medalhas ganhas pela União Soviética (1010), com as da CEI (112) e as da Rússia (251), num total de 1373, nem assim se atinge o número conquistado pelos norte-americanos. Em 1010 medalhas vencidas pela URSS, 296 são de bronze, 319 de prata e 395 de ouro.

Outro facto que se pode retirar da história é que a Alemanha ainda não atingiu o patamar da ex-República Democrática Alemã (RDA), de influência soviética. A RDA, que competiu entre 1968 e 1988, venceu um total de 409 medalhas (127 de bronze, 129 de prata e 153 de ouro), contra as 489 da Alemanha que, apesar de ter um total maior, tem menos medalhas de ouro do que a RDA (153- 147), o que lhe dá uma menor pontuação.

Portugal está em 60.º lugar nesta tabela, com 20 medalhas conquistadas. Destas 20, onze são de bronze, seis de prata e três de ouro. Estas três medalhas foram conquistadas por Carlos Lopes (maratona de Los Angeles 1984), Rosa Mota (maratona de Seul 1988) e Fernanda Ribeiro (10000 metros de Atlanta 1996).

DN, 1-8-2008
 
Entre o 'Ninho de Pássaro' e o 'Cubo de Água'

RUI MARQUES SIMÕES

37 infra-estruturas recebem os Jogos Olímpicos de 2008 e 19 delas são integralmente novas. Além da capital chinesa, as competições vão ter lugar em mais cinco cidades

Dos dezanove novos edifícios, estádio e complexo aquático são os mais majestosos

"Ninho de Pássaro" e "Cubo de Água". É por edifícios com estes nomes peculiares que vão passar grande parte das emoções dos Jogos Olímpicos de 2008, que decorrem em Pequim de 8 a 24 de Agosto.

Na verdade, o "Ninho de Pássaro" é o Estádio Nacional de Pequim, quer irá receber as provas de atletismo e futebol e as cerimónias de abertura e encerramento dos Jogos. E o "Cubo de Água" é o Centro Nacional Aquático, onde vão decorrer todas as provas que precisam de uma piscina, desde a natação ao pólo aquático, passando pelos saltos para a água e natação sincronizada. Mas os recintos onde vão decorrer os Jogos Olímpicos vão para lá destes dois edifícios de nomes e formato peculiar. No total, são 37 estádios e ginásios, entre 19 integralmente novos, 11 remodelados ou ampliados e 8 espaços que serão adaptados temporariamente para receber as provas.

Do bolo total de 25 600 milhões que custam as Olimpíadas de Pequim (as mais caras de sempre), as 37 infra-estruturas que vão receber os Jogos apenas custaram uma pequena fatia: 1275 milhões de euros. Mas nem isso lhes tira o desejo de grandiosidade que move os chineses. Pela sua arquitectura, o "Ninho de Pássaro" e o "Cubo de Água" são os que mais dão nas vistas. Ambos começaram a ser construídos em Dezembro de 2003 e demoraram mais de quatro anos a ficar prontos. Agora, o estádio tem capacidade para 91 mil pessoas e o centro aquático pode albergar até 17 mil. Mas, além destes, o Complexo Olímpico (Olympic Green) acolhe ainda a Aldeia Olímpica e mais dois edifícios: o Complexo Olímpico de Ténis e Estádio Nacional Indoor (que vai receber provas de andebol, ginástica e trampolins).

Olimpíadas fora de Pequim

Mas as provas olímpicas não se restringem à capital chinesa. As cidades de Shenyang, Tianjin, Qinhuangdao e Xangai também vão receber partidas do torneio de futebol e o Complexo Olímpico de Vela fica instalado em Qingdao. Mais curioso é o caso do Complexo Olímpico Equestre. Este ficará sedeado em Hong Kong, para melhor proteger os cavalos de eventuais doenças ou infecções.

DN, 1-8-2008
 
Um desfile de estrelas da natação ao futebol

ELISABETE SILVA

Aguardam-se grandes duelos na luta pelas medalhas

Grandes figuras do desporto mundial procuram glória em Pequim este mês

As grandes figuras do desporto mundial preenchem o cartaz de Pequim 2008. A lista é grande e na cidade chinesa vai assistir- -se a um autêntico desfile de estrelas distribuídas por várias modalidades. Michael Phelps, Kobe Bryant, Rafael Nadal, Usain Bolt, Messi, Ronaldinho, Yelena Isinbayeva são apenas alguns dos atletas que vão lutar pela distinção olímpica.

O basquetebol é das modalidades que reúnem o maior número de figuras. A NBA está bem representada, não só pelos atletas norte-americanos mas também pelo espanhol Pau Gasol, o alemão Dirk Nowitzki e o argentino Manu Ginobili. E não se pode esquecer Yao Ming, o poste em quem a China deposita forte esperança. Mas este ano também o futebol ganha outra dimensão. Os Jogos tornaram-se num objectivo para os futebolistas, que até iniciaram "guerras" com os clubes para representarem as selecções, casos de Messi (Barcelona), Diego (Werder Bremen) e Ronaldinho (que entretanto se transferiu do Barça para o AC Milan, que não se opôs à sua viagem). Na Argentina, além de Lionel Messi - que a FIFA obrigou os catalães a libertarem -, Riquelme também marcará presença. O médio até diz que os Jogos são mais importantes que o Mundial.

Mas as modalidades com maior peso nos Jogos Olímpicos também têm argumentos de peso. No atletismo as atenções centram--se nos 100 metros. O trio Usain Bolt, Asafa Powell e Tyson Gay prometem espectáculo.

A natação é a primeira grande competição a marcar os Jogos. Michael Phelps é o "homem a bater". O norte-americano procura "roubar" o recorde de sete medalhas de ouro que pertence ao compatriota Mark Spitz desde 1972, em Munique. Há quatro anos, Phelps conseguiu seis, mais duas de bronze. Nos 100 metros mariposa terá de enfrentar Ian Crocker e nos 400 metros estilos é Ryan Lochte quem tentará evitar que Phelps alcance os seus objectivos.

No feminino, a francesa Laure Manaudou tem tido meses difíceis, muito por culpa de uma vida pessoal atribulada. Porém, recompôs-se a tempo de voltar a ser uma das favoritas, mas nos 200 metros costas tem de ter atenção com Margaret Hoelzer. Com menos tradição nos Jogos Olímpicos, o ténis conta com Roger Federer e Rafael Nadal e aguarda-se para ver se há mais uma final entre eternos os rivais. Maria Sharapova pode não ser número um do mundo, mas o seu sucesso dentro e fora dos courts torna-a como a principal figura da modalidade em Pequim. No ciclismo, Carlos Sastre, vencedor da Volta à França, estará em representação da Espanha.

DN, 1-8-2008
 
China suaviza acesso à Net mas pede notícias objectivas

GERSENDE RAMBOURG

Presidente chinês encontra-se com imprensa internacional

Principal líder chinês insiste na linha oficial sobre cobertura do evento

A uma semana da abertura dos Jogos Olímpicos em Pequim, o Presidente da China, Hu Jintao, pediu ontem aos estrangeiros para não politizarem o acontecimento. Ao mesmo tempo, pediu aos media que trabalhem na legalidade e não descurem a objectividade.

Num raro encontro com os media estrangeiros, Hu referiu que "politizar os Jogos" não era a resposta adequada à "inevitável" divergência de perspectivas entre "os povos de diferentes países e regiões do mundo". Principalmente, porque isto seria "contrário ao espírito olímpico e às aspirações partilhadas por todo o mundo", disse Hu.

O líder chinês reafirmou a posição oficial da China desde que este país teve de enfrentar uma série de manifestações em quase todo o mundo, em especial durante as cerimónias da passagem da tocha olímpica, em resposta à repressão no Tibete.

Para o académico australiano Jonathan Unger, "foi a China a politizar os Jogos, ao reforçar o seu controlo sobre os media, ao prender vários opositores e ao criar um arsenal burocrático excessivo para estabilizar a situação à força".

"Não deixa de ser irónico ver o Presidente Hu tentar inverter a situação ao dizer que são os estrangeiros a tentarem politizar os Jogos", explica aquele académico.

Quando se fala na questão da censura na Internet, Hu Jintao pediu aos media internacionais que respeitem o direito chinês e realizem trabalhos "objectivos". O Presidente indicou que a China "garante a disponibilização dos meios para que os jornalistas estrangeiros possam trabalhar".

"Claro que esperamos também que a imprensa estrangeira cumpra as leis chinesas. Esperamos que forneça informações objectivas" sobre os factos, disse o líder chinês.

As perguntas neste encontro de Hu com os media internacionais, previsto desde há duas semanas, foram entregues antecipadamente. No final, um jornalista alemão perguntou se podia fazer uma pergunta sobre direitos humanos, mas Hu manteve-se indiferente.

Para Nicholas Bequelin, da Human Rights Watch (HRW), quando Hu fala de uma cobertura "objectiva", "está a falar da linha definida" pelo poder político em Pequim. "O que ele pediu, implicitamente, é que os media se abstenham de divulgar textos que o Governo considere críticos", explicou aquele elemento da HRW.

As autoridades chinesas ainda na quinta-feira mantinham que era inegociável uma maior liberalização no acesso à Internet no período dos Jogos. Mas ontem parecia evidente que tinham voltado atrás. - Jornalista da AFP

DN, 2-8-2008
 
JOGOS OLÍMPICOS, JOGOS DE SORTE E DE AZAR

Ferreira Fernandes
ferreira.fernandes@dn.pt

O eclipse total do Sol, na sexta-feira, não foi exclusivo dos chineses, mas os chineses não querem saber disso. Eclipse? Vem aí azar. Quase 60 anos de científico marxismo-leninismo (a República Popular da China foi proclamada por Mao Tsé-Tung em 1949, em Pequim) não apagaram as crenças do mais supersticioso povo do mundo. Aliás, o eclipse só veio a confirmar os azares que se têm abatido sobre o país. E mais, esses Jogos Olímpicos, acontecimento que põe todo o planeta a olhar agora para China, como que também eles parecem atrair os raios ameaçadores do destino.

Vejam as cinco elegantes mascotes escolhidas para os JO de Pequim, 2008. A negra, Jingjing, é o panda, o animal de Sechuan. Sechuan? A província de que o mundo ouviu falar, em Maio, com o terramoto de 90 mil mortos. A mascote amarela, Yingying, a do antílope tibetano, sugere naturalmente esse Tibete que faz tanta gente protestar contra a China. O mesmo com Huanhuan, a mascote vermelha, símbolo da chama olímpica que levou a tantas manifestações antichinesas pelo mundo fora. Beibei, o peixe azul, lembra as inundações no Sul da China, em Junho. E nem Nini, a andorinha verde, deixa de ser mau presságio. Ela é como um daqueles pássaros recortados de papel (papagaios), que se lançam aos céus, atados a uma guita. Ora, o festival de papagaios mais famoso é o de Weinfang, também o lugar infeliz onde houve recentemente um desastre de comboio...

As superstições são assim, vemos sinais como os queremos ver. Sexta-feira passada podia ter sido lida também como dia de bom augúrio. O Presidente chinês, Hu Jintao, já foi eleito há seis anos. Pois só nessa sexta-feira ele convocou a sua primeira conferência de imprensa, símbolo de vassalagem dos poderosos à opinião pública. E Hu convocou-a para anunciar que os jornalistas credenciados nos JO teriam acesso aberto à Internet... Bons presságios (se assim o quisermos ver), os daquela sexta-feira.

Nessa noite, o Ninho de Pássaro, o belíssimo estádio principal dos JO de Pequim, explodiu com as cores que a foto desta página mostra. Faziam-se experiências, uma semana antes da cerimónia de inauguração, que abrirá ao minuto 8, depois das 8 da noite, do dia 8, do mês 8 (Agosto), deste ano acabado em 8. Oito que se escreve em mandarim ba que se pronuncia quase como fa, que quer dizer fortuna. Jogos Olímpicos, jogos de sorte ou azar.

Azar como o que acaba de ser confirmado, pelo Comité Olímpico Internacional (COI), ao grande velocista americano Michael Johnson. A medalha de ouro da estafeta 4x400 m barreiras, ganha nos JO de Sydney, em 2000, foi-lhe agora retirada, por um comunicado do COI. Não por causa dele, que era honesto, mas por causa dos três companheiros de estafeta, todos dopados. Restam a Johnson quatro outras medalhas de ouro (três delas ganhas, prudentemente, sozinho).

Muito mais sorte, pois, do que a de Jim Thorpe. Não se fala aqui de um atleta qualquer: a Associated Press, em 1950, elegeu-o o melhor atleta do mundo da primeira metade do século. Este meio-índio americano, das tribos dos Potawatomi, foi baptizado com o nome de Wa-Tho-Huck, que quer dizer Caminho Luminoso. Nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, houve uma altura em que se pensou que era esse o nome adequado. O rei sueco desceu às pistas para o cumprimentar: "Você é o maior atleta do mundo."

Nesse dia, ele, que já se chamava à ocidental Jim Thorpe, ganhara duas medalhas de ouro, no pentatlo e no decatlo. Guardem o nome do obscuro indivíduo que ficou em 6.º lugar, no pentatlo: o também americano Avery Brundage.

No ano seguinte, retiraram- -se as medalhas a Jim Thorpe, com o argumento de que ele ganhara, quando estudante, 35 dólares por semana, num campeonato colegial. Nesses anos, o olimpismo era estrito: só para amadores (quer dizer, só para os ricos com sorte). Houve protestos e mesmo os atletas que beneficiaram com o azar de Thorpe acharam-no sempre o verdadeiro campeão. Mas ele morreu em 1953, na miséria e sem as suas duas medalhas.

Em 1929, o tal Avery Brundage entrou para o COI, do qual se tornou presidente entre 1952 e 1972, e foi sempre o mais feroz opositor da reabilitação de Jim Thorpe. Em 1983, o COI devolveu as duas medalhas de ouro ao grande atleta. Jogos Olímpicos, jogos de sorte e de azar.

DN, 3-8-2008
 
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