31 agosto, 2008

 

Homejacking


...já nem em casa?



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UM CONSELHO PRUDENTE: VIVA PERIGOSAMENTE

Ferreira Fernandes
jornalista
ferreira.fernandes@dn.pt

Era um livro que eu nunca me decidiria a trazer para aqui. Chama-se How to Live Dangerously: Why We Should All Stop Worrying and Start Living ("Como Viver Perigosamente: Por que Devíamos Todos Parar de Nos Preocupar e Começar a Viver"), de Warwick Cairns. Um livro provocador e salutar. Mas, lá está, eu ainda não estava preparado para deixar de me preocupar. Todo o livro é contra a nossa moderna obsessão de segurança. Então, a tese de Cairns é: para fazermos um mundo mais seguro, precisamos de o tornar mais perigoso.

Warwick Cairns é britânico e sustenta os seus argumentos com as estatísticas do seu país. Como ele não é iraquiano, acho que podemos, mais coisa menos coisa, aceitar como nossos os seus números. Por exemplo, o medo de andar de avião. Precisávamos de andar de avião todos os dias em 26 mil anos para morrer num acidente de aviação. Mas, nesse mesmo período, já teríamos morrido 20 vezes de acidente no carro que nos levava ao aeroporto.

Andar sem capacete, na bicicleta, e termos um acidente de viação é mais perigoso do que andarmos de carro, não é? Não, não é. Nos acidentes, um ciclista morre mais que o motorista, é certo, mas os acidentes de viação são só 1,4 por cento das mortes. Como um terço de todas as mortes é por doenças de coração, e pedalando 40 quilómetros prevenimos os acidentes cardiovasculares, o risco de ir para a estrada a duas rodas ainda acaba por compensar.

Mas sem capacete? Exacto. É que o capacete posto, segundo Cairns, faz-nos correr mais riscos porque nos achamos menos vulneráveis, e não posto leva os automobilistas a moderar a velocidade, quando nos cruzam... O abuso da segurança faz-nos abusar e ultrapassar os nossos limites. Cairns cita o caso da região holandesa de Friesland, onde as autoridades tiraram todos os sinais de trânsito e as marcas no piso das ruas - sem esses sinais de pastoreio, os automobilistas, menos ovelhas, tornaram-se mais responsáveis e houve menos acidentes.

Mas, então, que medo tinha eu para não querer trazer para aqui este relato de boas notícias? É que Cairns insiste no maior dos nossos medos: se connosco nos preocupamos, com os nossos filhos somos aterrorizados pais-galinhas. Tese de Cairns: mandando o nosso filho para rua para ele ser raptado, tínhamos de esperar mais de 200 mil anos. Na Grã-Bretanha, uma criança em 12 milhões é raptada. Em casa, uma criança morre queimada todos os dez dias. Isso diz Warwick Cairns no seu livro, mas eu, em assunto tão melindroso, não ousava repetir.

Mas, ontem, ouvi a notícia daquele homem que, à uma da manhã, zangado com os filhos, abriu a porta do carro e abandonou os dois gémeos de 11 anos numa estrada algarvia. Às seis da manhã, os garotos foram encontrados pela polícia. Muito mais sãos e salvos do que dentro do carro do pai. Como dizia Warwick Cairns.

DN, 3-8-2008
 
'Homejacking' aumenta e método preocupa a polícia

LICÍNIO LIMA

O homejacking, assaltos a casas com os proprietários lá dentro, tem vindo a aumentar e a atormentar as polícias. Os ladrões arriscam o confronto com as vítimas para contornar os sofisticados meios de segurança colocados nas residências

Ladrões assaltam casas com as pessoas lá dentro

O homejacking, assalto a habitações com os proprietários lá dentro, é um tipo de crime que está a aumentar e a atormentar as autoridades policiais. Ao desligarem os alarmes quando se encontram em casa as pessoas facilitam a vida aos ladrões. E nem o facto de viverem em andares superiores garante maior segurança. No entanto, os casos só acontecem quando os criminosos têm um objectivo definido. Em geral, evitam o risco, preferindo casas sem pessoas.

O homejacking não é propriamente um crime típico de Verão. De acordo com fontes policiais, são cada vez mais as situações em que os ladrões actuam de madrugada, com os moradores a dormir. Entram nas casas sem que ninguém se aperceba. Só quando acontece um flagrante é que usam a violência. "Normalmente, o assaltante quer ser discreto. O seu objectivo é roubar, confiante que ninguém o irá ver. Por vezes motivado por uma porta ou uma janela que viu abertas - "a ocasião faz o ladrão" - explicou ao DN o tenente-coronel Costa Lima, frisando que na área da GNR os casos de homejacking ainda não são a maioria.

Em certos casos, os proprietários podem até ficar reféns dentro das suas próprias casas, e, inclusive, serem pressionados pelos assaltantes a, por exemplo, abrir um cofre.

O objectivo dos intrusos pode passar, também, por aceder às chaves das viaturas que vão depois buscar às garagens. Por isso, este tipo de actividade está associada ao surgimento de gangues. Um deles foi desmantelado, o ano passado, pela PSP do Porto, num processo que envolve cerca de 40 arguidos. As viaturas de alta cilindrada eram o alvo predilecto de um dos grupos.

"Os assaltantes preferem casas sem pessoas no interior. O recurso ao homejacking tem uma finalidade concreta, que pode ser a abertura de um cofre, que sabem existir, ou as chaves de viaturas que pretendem roubar", explicou o comissário Resende da Silva, comandante da divisão da PSP de Loures. "O assunto é sempre preocupante, mas felizmente, também nas áreas urbanas, de influência da PSP, o número de casos não é a maioria", frisou.

Sublinha António Teixeira, da directoria de Lisboa da Polícia Judiciária (PJ), que este tipo de crime supõe muitos riscos. "Um assaltante só enfrenta os riscos que se justifiquem. Por isso, o homejacking será sempre uma actividade pontual", explicou. "Os criminosos sabem que quanto mais contactos houver com as vítimas mais facilitada fica a investigação", recordou.

Assim, o aumento de casos de homejacking, tal como os de carjacking (roubos de carros com as pessoas lá dentro), explica-se, também, pelo aperfeiçoamento da segurança nas residências e viaturas. Pode ser menos arriscado enfrentar pessoas do que accionar um alarme ligado à polícia, assim, como será mais fácil roubar um carro acedendo directamente à chave do que descodificar os sofisticados sistemas anti-roubo.

Administração Interna põe PSP e GNR a vigiar residências no Verão

Furtos. Assaltos a casas, em 2007, registaram-se à média de 60 por dia

Os furtos a residências sempre existiram e, em época de Verão, têm tendência a crescer, sobretudo nas zonas mais afastadas do Litoral. Por isso, o Ministério da Administração Interna (MAI) criou um serviço denominado 'Verão Seguro-Chave Directa', que vai funcionar até 15 de Setembro, com base na intensificação de patrulhamentos junto das habitações por parte da PSP e GNR. Os interessados só têm de se inscrever, podendo fazê-lo no portal da Net do MAI - http/veraoseguro.mai.gov.pt/.

Este serviço tem em vista evitar o típico furto a uma casa sem pessoas no interior. Trata-se do crime contra o património mais comum em Portugal, sobretudo em tempo de férias. Em todo o ano de 2007 registaram-se 22 mil casos, mais de 60 por dia.

O distrito de Lisboa foi o líder - com uma média de 13 casos por dia - tendo ultrapassado o de Faro que, em 2006, surgia no topo dos furtos em habitações, facto que poderá ser explicado pela grande quantidade das designadas 'casas de férias' neste último distrito. O Porto - nove casos por dia - mantém a terceira posição, com um total de 3440 situações, ainda que tenha registado um decréscimo de quase 500 relativamente ao ano anterior.

Com o Verão, as pessoas deslocam-se mais para o Litoral. O Interior fica mais deserto, mas também mais exposto aos furtos. Daí que, durante as férias, os assaltos a residências diminuam no Litoral e aumentem no Interior. No Inverno, Faro é um dos distritos que mais sofre com os assaltos porque as casas ficam grande parte do ano vazias.

Contudo, a nível nacional, o assalto a residências foi um dos crimes que desceu nas estatísticas - 22 324 casos em 2007 contra os 23 314 no ano anterior - conforme o Relatório de Segurança Interna. No entanto, continua a ter uma dimensão preocupante. Até porque, conforme sublinham fontes policiais, os métodos dos assaltantes têm-se revelado cada mais surpreendentes - é o caso do homejacking. - L.L.

DN, 3-8-2008
 
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