13 agosto, 2008

 

Literatura


e escritores



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Um dicionário para ler o mundo segundo Agustina

A Guimarães Editores acaba de lançar o 'Dicionário Imperfeito' de Agustina Bessa-Luís. O volume, que inicia a publicação das obras completas da escritora, nasce da reunião de ideias, figuras e trechos colhidos num vasto conjunto de textos de várias épocas, entre os quais crónicas e alocuções

Livro recolhe reflexões da escritora

Apresenta-se como um Dicionário Imperfeito (editado com chancela da Guimarães) e resulta de um "desafio recente" de Paulo Teixeira Pinto e Miguel Freitas da Costa, como é explicado na nota editorial que abre o livro. Com organização de Manuel Vieira da Cruz e Luís Abel Ferreira, este livro pode promover uma "iniciação sugestiva" à obra de Agustina Bessa-Luís, para tal ordenando, alfabeticamente, uma série de excertos recolhidos na sua obra, neles procurando "ideias-chave, figuras, trechos significativos". Aqui ficam alguns exemplos:

Amar

O viver multipolar entre o que se ama e o que nos comove alimenta a vontade de sermos nós próprios sem afectar o amor do próximo.

Doença

Dentro de poucos anos o mundo será um imenso hospital sem possibilidades de atendimento, sem recursos para ser gerido convenientemente. As pessoas, aprendendo o medo como uma lei social, vão dedicar-se à doença como não se dedicam ao amigo e aos parentes.



O europeu fragilizou-se à custa de desprezar o arcano que era morada da fé dos homens. Nenhuma estratégia substitui a fé. Era a compreensão que agia como arma e anulando os conteúdos psíquicos do interlocutor. Era a resignação que criava um campo asséptico onde o sucesso não podia produzir a culpa. Compreensão e resignação desaparecem.

Marcelismo

Uma prolongada fase de incerteza acaba por gerar um desenlace violento, em contradição com os princípios essenciais do próprio pensamento. A revolução de 25 de Abril, na sua história mais radical, resultou dessa saturação da incerteza que o regime de Marcelo Caetano personificou. Não tanto pela sua habilidade inoportuna, a sua falta de tacto psicológico, como pelo aproveitamento duma linha de continuidade incapaz de representar o mundo social da jovem geração.

Nudismo

O nudismo foi declarado mais afoitamente do que a Revolução dos Cravos. Não porque seja confortável, já Mendes Pinto achava que não era; nem elegante, nem natural. É uma espécie de fanatismo, como quando a humanidade é sacudida por qualquer coisa de irracional e insensato, estranho ao mundo familiar, e tenta produzir o exorcismo da degenerescência.

Manoel de Oliveira

Como um Bergman ou um Dreyer, ficará para sempre um mistério para os seus contemporâneos. Umas vezes é subtil, outras é sarcástico, raramente é amoroso. E abandonado a um sentimento terno. Abandona-se à perfeição e nada mais. Há nele um empenho de contradição, o que faz a força da sua obra tão variada, tão inesperada e tão controversa.

Ricos

Os ricos têm algo dum deus temível destinado a salvar os seus fiéis por meio do sacrifício dos seus bens. Eles trouxeram a desordem à comunidade pela força mítica que tem a riqueza; por isso acredita-se mais na morte do homem rico, do que na de qualquer outra pessoa.

Francisco Sá Carneiro

Foi um líder. Pode-se dizer que foi em Portugal o primeiro governante a compreender, de maneira intuitiva e envolvente, a necessidade de separar a política da filosofia crítica dos partidos; para lhe dar um impulso realista que poderia inspirar uma educação útil.

Salazar

Não posso deixar de o citar, pois eu vivi toda uma vida nesse regime. Não se pode ignorar nem deixar de citar. Independentemente da sua governação, dos falhanços, dos erros que cometeu, desde a infância, o que predominava em mim, quando essa silhueta se desenhava, não curiosidade (não era uma pessoa que despertasse curiosidade), mas uma interrogação a respeito do que é realmente o poder, e como é que ele era dispensado aos homens. Haveria uma matemática do poder? Como é que determinadas pessoas o atingem e ele se torna o seu quotidiano e o ar em que vivem e respiram? Essa interrogação sempre se me punha desde a minha infância. Não era uma fascinação, de maneira nenhuma, era um interesse que me despertava.

DN, 24-7-2008
 
João Ubaldo Ribeiro vence o Prémio Camões de 2008

LEONOR FIGUEIREDO

Com o atraso de quase duas horas, o ministro da Cultura e o presidente do júri, o brasileiro Ruy Espinheira Filho, deram a conhecer o vencedor da edição deste ano do prémio. Foi assumido na conferência de imprensa que, desta vez, "a discussão se centraria em escritores brasileiros"

O atraso com que foi anunciado o nome do vencedor da 20. ª edição do Prémio Camões deveu-se, segundo o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, ao facto de não conseguirem falar telefonicamente, para o Rio de Janeiro, com o escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro, 67 anos, para que fosse o primeiro a saber. "É sábado, no Rio de Janeiro são menos quatro horas, não conseguimos contactá-lo para casa...", justificou o ministro, sublinhando que este nome da cultura brasileira "vem reforçar a qualidade do Prémio Camões".

O escritor e jornalista Ruy Espinheira Filho e presidente do júri leu então a acta, que todos concordaram em subscrever, e onde se justificava "o alto nível da obra literária de João Ubaldo Ribeiro, especialmente densa das culturas portuguesa, africanas e dos habitantes originais do Brasil".

João Ubaldo Ribeiro é um nome conhecido dos portugueses. Entre os seus livros editados em Portugal estão O Sorriso do Lagarto, A Casa dos Budas Ditosos (boicotado em Portugal por duas redes de supermercados que proibiram a sua venda devido às "obscenidades" escritas), A Gente se Acostuma a Tudo, Sargento Gertúlio, Viva o Povo Brasileiro, Novas Seletas, Um Brasileiro em Berlim, Diário do Farol e Vencecavalo e o Outro Povo, entre outros. Escreveu 11 romances, dois de contos, seis livros de crónicas, um ensaio, dois livros infantis e duas antologias.

Na Internet, encontrámos memórias da sua infância. "Sei que parece mentira e não me aborreço com quem não acreditar (quem conheceu meu pai acredita), mas a verdade é que, aos 12 anos, eu já tinha lido (...) a maior parte da obra traduzida de Shakespeare (...), O Elogio da Loucura, Tito Lívio, Miguel de Cervantes (...), adaptações especiais do Fausto e da Divina Comédia, a Ilíada, a Odisseia, vários ensaios de Montaigne (...)". Da relação da sua família com os livros, confessa: "Meu avô furtava livros de meu pai, meu pai furtava livros de meu avô, eu furtava livros de meu pai e minha irmã até hoje furta livros de todos nós".

Do júri fizeram parte, além do presidente, Maria de Fátima Marinho (Portugal), João Melo (Angola), Marco Lucchesi (Brasil), Corsino Fortes (Cabo Verde) e Maria Lúcia Lepecki (Brasil) - esta só por telefone durante a última reunião, devido a problemas de saúde.

DN, 27-7-2008
 
Brasil aplaude Ubaldo Ribeiro como o nobel da língua portuguesa

Sociedade Portuguesa de Autores quer explicações do júri

O júri do Prémio Camões "acertou em cheio" ao conceder o galardão a João Ubaldo Ribeiro, disse o escritor e médico Moacyr Scliar, um dos imortais da Academia Brasileira de Letras. "Já fui membro do júri e pude avaliar de perto a importância deste prémio, o nobel da língua portuguesa. Ao escolher João Ubaldo como vencedor, a comissão acertou em cheio", afirmou, já que o autor é "autenticamente brasileiro", e de uma "coerência a toda a prova".

Também a escritora, poeta e filósofa brasileira Guiomar de Gram-mont referiu que o prémio era igualmente uma homenagem à imagem do Brasil. "A literatura de João Ubaldo Ribeiro tem uma forte regionalidade, e por isso é um prémio também à imagem do Brasil, o que é muito positivo", disse a escritora de Minas Gerais. Em sua opinião, "João Ubaldo lida com temas do Nordeste brasileiro, trata com o erotismo de uma forma muito própria e apresenta uma veia irónica especial".

Domício Proença Filho, que ocupa a cadeira 28 da Academia Brasileira de Letras considerou que se "faz justiça a um dos mais representativos escritores brasileiros". Recebeu com alegria a notícia, porque se trata, disse, de um dos maiores ficcionistas contemporâneos e cronistas, que "se junta a uma vasta galeria que dignifica a literatura, não só brasileira mas de língua portuguesa".

Que o júri apresente razões

Para o presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes, foi uma "decisão incontornável, que distingue um grande escritor bastante conhecido na lusofonia em geral e em Portugal em particular, porque viveu no País nos anos 80". Mas para o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, José Jorge Letria, o facto de o júri ter assumido que este ano deveria ganhar um brasileiro, "parece injustificável" e pediu ao júri "que apresente razões, porque não me parece aceitável esse regime de excepção".

A editora D. Quixote, que tem publicado o premiado, informou que João Ubaldo Ribeiro "é um grande sucesso de vendas em Portugal", tornando-se um dos brasileiros mais lidos.

DN, 28-7-2008
 
"Acho que um dia destes vou morrer de amor"

ISABEL LUCAS

Entrevista. Depois do Prémio Literário José Saramago, valter hugo-mãe regressa com 'O Apocalipse dos Trabalhadores'

Este é um apocalipse cheio de provocações divinas e muito riso. Que apocalipse é este?

Embora exista uma diversidade de géneros há a iminência de um apocalipse, de uma impossibilidade de ultrapassar a desgraça final. É a sensação de que a espécie humana se pinta para uma desgraça final. A iminência da morte, o preconceito, a xenofobia, a divisão das classes que não acaba. Isso frustra-me muito enquanto ser humano e cidadão. Frustra-me que não sejamos já maduros o suficiente para ultrapassar essas coisas tão antigas. Já a ideia deste livro estava amadurecida, vi um documentário que me impressionou. Chamava-se Encontro com Milton Santos, esse fabuloso pensador brasileiro que dizia que a humanidade ainda não começou; que ainda estamos nos ensaios para o que há-de ser a humanidade. Para ele a humanidade não há-de ser capaz da crueldade a que assistimos. Para mim aquilo foi espiritual. Encontrei-me nesse protesto e nessa frustração.

Este livro é, então, um protesto?

É. Que bom seria se adoptássemos um comportamento de acordo com o que dizemos acreditar.

Como a estratificação social,que passa por coisas tão comezinhas como a lixívia que se divide em classes e que a mulher-a- -dias, Maria da Graça, a protagonista, tão bem conhece?

(Risos) Há lixívias gourmet porque há quem não as possa usar. Uma simples lixívia pode ser um padrão de distinção social. Não quis que este livro fosse violento. Sem agredir o leitor, pretendo levá-lo a aceitar o que ele já sabe e a transpor as dificuldades em nos humanizarmos de uma vez por todas.

E escolheu a precariedade laboral das mulheres-a-dias e dos imigrantes de Leste para ilustrar essa desumanidade?

Quis que fosse perceptível, por exemplo, que a chegada dos ucranianos a Portugal já acontece em Bragança. Não é uma questão das grandes cidades, mas portuguesa e implica uma postura ética.

E porque diz que não é um livro que agride apesar da iminência de desgraça?

Acho que é um livro com muita ternura e que apesar do apocalipse tem muita esperança. Tenho esperança de que vale a pena falar das coisas. Sou contra a tolerância e a favor da aceitação. A tolerância deve ter vindo dos tolos. Não temos de tolerar ninguém, mas de aceitar os outros. Tolerância implica estarmos certos e os outros errados. Sou pela aceitação.

As duas mulheres do livro, Quitéria e Maria da Graça, são capazes de decisões que muitos considerariam pouco aceitáveis...

Sim, muitos disparates. Cometem erros esplendorosamente. Isso é óptimo. A grande decisão final da Maria da Graça poderá ser um erro tremendo para a maioria dos mortais, mas ela toma-a convicta de que é o caminho para a felicidade e se errar erra para ser feliz. Aceito a Maria da Graça plenamente. Se calhar eu poderia ser a Maria da Graça; é a personagem com quem mais me identifico. Aceito que a felicidade, por vezes, está na ponta do sofrimento.

Sente-se próximo da Maria da Graça mesmo quando ela acredita plenamente que vai morrer de amor?

Sim. Isso é lindíssimo. Acho que um dia destes vou morrer de amor também. Se eu morrer cedo não fiquem tristes, assim de uma forma mais bizarra, é porque morri de amor. Se Deus existir valia a pena existir só para isso, para que nós pudéssemos morrer de amor e depois haver o paraíso e lá poder encontrar a bela amada. Por mais absurdas e violentas que possam ser, acho que algumas coisas valem a pena. é aquela máxima: mais valem 30 anos intensos do que 70 em que nada nos acontece. Estou sempre a ver se me acontecem coisas. Há quem ache isto uma provocação tola. Pode ser, mas gosto de fazer as minhas revisões da matéria e perceber. Gosto do lugar do outro.

Porquê?

Fico invejoso. Sou escritor para cobiçar o espaço dos outros. Não implica que não goste de ser como sou, mas isso é limitado. Olho para as pessoas e penso e 'se eu tivesse vivido o que aquele viveu como resultaria isso em texto. Que escritor seria eu se tivesse passado por aquela experiência? Do ponto de vista literário isso é avassalador.

E é um escritor diferente depois de ter estado no lugar da Maria da Graça?

Os meus livros, quando os começo, nunca são autobiográficos, mas no fim são completamente. São experiências importantes de aprendizagem do outro. Depois de escrever isto eu fui, de facto, uma mulher-a-dias. (Risos)

DN, 31-7-2008
 
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