20 agosto, 2008

 

Star


Tracker



http://www.thestartracker.com/

http://www.startracking.org/

http://pt.wordpress.com/tag/the-star-tracker/

Comments:
Talento é passaporte para abrir novos mundos

HUGO COELHO

Chamam-lhe os novos descobridores. Alguns são gestores de topo e artistas. Outros são investigadores, médicos ou cientistas. São talentos portugueses além-fronteira e hoje partilham uma extensa rede virtual que já reúne 15 mil

Vêm de todo o lado, 'aterram' hoje em Lisboa

Quando Tiago Forjaz começou a sua odisseia do talento, há pouco menos de um ano, não podia imaginar onde ia chegar. O projecto deste sócio da empresa de consultoria e gestão de talentos, Jason Associates, era percorrer algumas cidades do mundo à procura do talento expatriado português. Passou por Madrid, Paris, Londres, Nova Iorque e São Paulo e hoje, pouco depois do sol se esconder, a "nave" vai aterrar no Campo Pequeno, em Lisboa, onde espera reunir muitos dos que encontrou pelo caminho.

Mas a ideia foi apenas o bater de asas de uma borboleta e o projecto da Jason rompeu barreiras e excedeu expectativas. Ainda estavam no início da viagem quando de- cidiram fundar uma rede social virtual do talento português, o Star Tracker.

"A ideia de criar a rede social Star Tra- cker veio-me durante a minha viagem a Madrid. Encontrei--me com cinco pessoas da banca de investimento e percebi que nenhuma se conhecia. De imediato percebi que era necessário pôr estas pessoas a comunicar e a colaborar entre elas," explica Tiago Forjaz, partner da consultora Jason Associates.

Quando começou a rede tinha 2000 membros, muitos dos quais eram já conhecidos pela Jason. Mas a mensagem viajou num passa-palavra e hoje tem mais de 15 000 pessoas ligadas na rede virtual de confiança.

O Star Tracker é um espaço virtual onde os membros se relacionam e ajudam. Cada membro pode pedir um desejo e os restantes estão comprometidos a ajudar. E ajuda não tem faltado. Por exemplo, o Presidente da República, Cavaco Silva, usou o seu desejo, por aqui chamado Star Power, para seleccionar 65 candidatos ao prémio da individualidade mais inovadora da diáspora portuguesa.

Segundo os números da empresa de consultoria, há portugueses na rede de 114 países diferentes. Mas a maior parte dos expatriados está na Europa, nos Estados Unidos ou no Brasil e a sua média de idades é de 33 anos. A par do empreendorismo e do risco, estes talentos são pessoas muito qualificadas.

O mais importante e que não vem nas estatísticas é a afinidade pelo País de onde partiram. Portugal é para muitos dos expatriados um amor não correspondido. Portugal é para a maior parte um país pequeno de mais. Mesmo assim, 85 por cento dos membros da rede planeiam voltar e metade até pensa regressar nos próximos três anos. Chegarão carregados com os conhecimentos e experiências que adquiriram e poderão bem mexer com o País com a sabedoria que trazem às costas.

A festa em Lisboa, é o final da digressão da odisseia Star Tracking e marca o fim do controlo da Jason na rede. De agora em diante, a rede virtual ficará entregue a si própria. "Chegou a altura de estacionar a nave. Vamos permitir que a rede se organize e mobilize. Isso não quer dizer que um dia não possamos, nós ou alguém, levantar a nave outra vez."

DN, 31-7-2008
 
O PAÍS PRECISA

Pedro Lomba
jurista
pedro.lomba@eui.eu

Todas as épocas, suponho, geram os seus grupos políticos dominantes, aqueles que impõem uma linguagem e um modo de ver a realidade. Os jornais popularizam esse domínio, a opinião pública interioriza e num ápice, sem darmos por isso, estamos todos a falar usando os mesmos padrões.

Nos anos 70, a política portuguesa era controlada por ardentes "revolucionários" que usavam a cassete típica e até meteram a "revolução permanente" na Constituição. Quando o cavaquismo iniciou a normalização do País, Portugal encheu-se de "optimistas" em deslumbramento com o progresso. O guterrismo apareceu depois para ser o período áureo dos "pedagogos": gente para quem os dramas nacionais eram psicoses que se resolveriam com conversa.

Neste Portugal em crise do ano da graça de 2008, podemos dizer que o grupo dominante na política pátria é o do "o País precisa". Abrimos um jornal ou uma televisão, almoçamos aqui e ali, falamos com um famoso ou um anónimo e todos sem excepção abrem as frases com "o País precisa". Portugal pode estar num beco complicado, mas não tem falta de gente que sabe o que "o País precisa". Na lógica do grupo "o País precisa", fazer política consiste em anunciar tudo o que "o País precisa" como se fossem evidências. O grupo anda espalhado pela esquerda e pela direita. O que o distingue não é tanto uma política definida, mas um método. Nunca deixa de dizer "o País precisa".

É o eng. Sócrates que disse anteontem "o País precisa de voltar à escola". É o empresário que adverte "o País precisa de produzir mais". É o esquerdista exclamativo que avisa "o País precisa de acabar com a desigualdade". É o direitista não menos exclamativo que esclarece "o País precisa de mudar de mentalidades". É o inconsequente que apela "o País precisa de todos". Sempre "o País precisa".

Ora sem dúvida que "o País precisa". E precisa precisamente disso tudo: educação, responsabilidade, produtividade e por aí fora. Em princípio ninguém discorda. O grande problema do grupo "o País precisa" é que define prioridades e nalguns casos os meios para as concretizar, mas não diz nem pensa como é que portugueses de vários contextos, profissões, vivências, classes sociais, ritmos de aprendizagem e adaptação, podem adquirir as "normas" de uma cultura social mais exigente e disciplinadora.

As reformas não nascem por silogismo. Queremos estudantes mais aplicados, trabalhadores mais produtivos, cidadãos mais responsáveis, mas a verdadeira questão é que tipo de programas, estímulos e instituições podem orientar e motivar pessoas muito diferentes a aprender melhor, a produzir mais e a responsabilizar-se pelas suas vidas? Num tempo que privilegia o concreto face ao abstracto, políticos que demonstrem esta sensibilidade partem em vantagem.

DN, 31-7-2008
 
Orgulhosamente nós

JOÃO VILLALOBOS

"Orgulhosamente portugueses" era o que se podia ler no discreto pin para as lapelas oferecido à entrada. Ou antes: "Proudly Portuguese." Com fortes apertos de mão e abraços, beijos repenicados, sorrisos largos, os cerca de 800 star trackers iam chegando pela passadeira vermelha ao Campo Pequeno, onde eram recebidos pelos organizadores e por mais stands de cerveja do que os existentes numa edição da Queima das Fitas.

Não surgiam vestidos de tripulantes da nave espacial Enterprise, porque esse, embora tenha servido de inspiração ao logótipo, é outro filme. A única coisa em comum entre os amigos do senhor Spock e do capitão Kirk e estes talentos nacionais habitualmente espalhados pelo mundo é que as fronteiras para eles também não existem e a língua inglesa, definitivamente, não é mesmo uma delas. "Proudly Portuguese" é portanto uma expressão vivida assim mesmo, no original. E networking também, pois então.

O networking é a cunha do século XXI. Ou antes, é a cunha naquilo que tem de positivo. Melhor ainda é como a descreveu o criador e líder do projecto Star Tracking Tiago Forjaz: "O explorar de sinergias." Uma pessoa conhece outra pessoa e outra e outra e, quantas mais conhecermos, maiores as probabilidades de um emprego melhor, de mais clientes, de mais negócio. Ou de eu e o leitor juntarmos os nossos negócios para um outro negócio.

No entanto, não basta ter o nome nas agendas ou BlackBerrys alheios, é preciso ser bom naquilo que se faz. O que, convenhamos, faz toda a diferença face ao sistema antigo que apenas servia para enfiar sobrinhos na PT ou num ministério. (Para os que não sabem o que seja isso do BlackBerry, esclareço que é um telemóvel xpto para quem não pode passar um minuto sem acesso ao correio electrónico ou às cotações da Bolsa.)

Embora eu seja também um dos mais de 15 mil star trackers - o que demonstra a necessidade de filtrar melhor ainda o critério dos convites, ainda por cima porque, admito, às vezes fujo à regra número um da organização e digo mal de Portugal, inclusive com palavrões - assisti à gala da Odisseia de Talentos na zona de imprensa, ao lado da essa sim talentosa editora da revista Exame, Rosália Amorim. Lá em baixo, na arena, os convidados sentavam-se em mesas redondas tendo para beber água, vinho ou cerveja. Comidinha é que nem cheirá-la até ao final da festa, quatro horas depois. E mesmo assim escassa. Imagino que seja um qualquer "modelo americano" para estas coisas, mas não teria sido mal visto adaptá-lo aos costumes e estômagos locais.

Pelo palco, entre vídeos e actuações apresentadas pela Cristina Amaro, editora do programa Imagens de Marca, iam desfilando os protagonistas: Camilo Rebelo, arquitecto, espantava com os seus projectos no Vale do Côa, Varsóvia e Nova Iorque. Paulo Taylor, nascido em Angola e com sede em Amsterdão, descrevia como o ebuddy.com chegou ao milhão de utilizadores por dia. E Ricardo Diniz, velejador e visionário, como o sonho de infância de percorrer os sete mares sozinho num barco se tornou realidade. (O Ricardo agora precisa de um milhão de euros para que Portugal participe numa regata de volta ao mundo, por isso contribuam e não sejam sovinas.)

O momento alto da noite já vós deveis saber qual foi. A pedido da apresentadora, que cumprimentaria ambos com "muito prazer", a assistência levantou-se para saudar a entrada, lado a lado, de Cavaco Silva e Durão Barroso. À saída, erguer-se-iam todos de novo, mas desta vez de forma vivamente espontânea. A isso não foi alheio o facto de, star tracker também ele, o Presidente da República não ter poupado elogios a esta "linha avançada da projecção de Portugal no mundo". Minutos antes, o presidente da Comissão Europeia afirmara que "a globalização está aí. Há quem goste e quem não goste". Eu arriscar-me-ia a dizer que, ali, só estava quem gostasse.

aquihacroquetes@gmail.com

DN, 2-8-2008
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?